Os que julgam que se vai falar do Tratado estão enganados,
não porque tudo aqui a que estamos assistindo não seja divertido ao ponto de
merecer tal adjectivo, personagens como o Relvas e o sô Álvaro são mesmo uns
tratados, mas o que nos trás aqui é o optimismo em torno da economia, o governo
ficou excitadíssimo porque a receita fiscal só desceu 3,5%, isto depois de
quatro relatórios da execução orçamental sempre a descer, a troika anda feliz
porque a recessão já passou o ponto pior, há Poucos dias Cavaco até
prognosticava crescimento e criação de emprego no segundo semestre.
Longe vão os tempos em que se acusava Sócrates de optimismo
nas previsões e por isso ter conduzido o país à desgraça. Agora já não se acusa
o povo de consumir em excesso, contam-lhe mentiras optimistas na esperança de
que gaste os poucos tostões que lhe restam. O país tem uma dívida cada vez
maior, quase não produz mas está tudo a correr tão bem que um dia destes os
mercados ainda nos vão pedir o favor de aceitarmos uns empréstimos.
E devemos toda esta felicidade a quem? A Passos Coelho que
em boa hora conheceu e aderiu às teses extremistas do Gaspar e aplicou a
Portugal a receita do Chile de Pinochet. Ao Miguel Relvas que com sorrisos e
amabilidades tem evitado que a comunicação social se transforme em oposição, em
vez disso tem sido fundamental para que os portugueses vão para a cama cheios
de fome mas convictos de que estão expiando os seus pecados e deles serão as
portas do céu. Aos três idiotas da
troika que afundaram a Grécia mas que tiveram a oportunidade de transformar
Portugal num caso de sucesso graças à mesma receita.
Tudo correu bem, graças às reformas estruturais
implementadas pela troika, as exportações de sapatos aumentaram em 2011 por
conta das feiras realizadas em 2012, os mármores ganharam mercado graças aos
dois feriados que serão transformados em dia de trabalho nacional no ano de
2012, já que os feriados religiosos calharão em fins de semana. A Autoeuropa
conseguiu novos modelos que lhe permitiram aumentar as exportações em 2012
porque no acordo laboral de empresa assinado em 2010 se inspiraram nas
patacoadas que leram no blogue do sô Álvaro. A generalidade das empresas estão
a apostar na exportação porque com a venda da EDP aos chineses é certo e sabido
que um dia destes vão ter a energia à borla, por conta das cheias no Yangtsé.
Porreiro pá, perdemos os subsídios, pagamos mais impostos,
tiraram-nos feriados, temos de festejar a independência do país fora das horas
de expediente, estamos desempregados, passamos fome, estamos endividados como nunca
estivemos e com juros de 4,5%, as receitas fiscais estão em queda livre, os
serviços de saúde estão à míngua, mas somos felizes, a comunicação social só
nos dá boas notícias, por mais que o défice aumente está em linha com as
provisões, o desemprego é uma bênção para os que tinham uma vida monótona, a
dívida aumenta mas a troika empresta mais a 4,5%.
Porreiro pá, do Cavaco ao Gaspar do Passos à troika, são cada vez mais os que se revelam mais socráticos do que o Sócrates.