quinta-feira, maio 03, 2012

Umas no cravo e outras na ferradura




Foto Jumento


Arco das Portas do Mar, Lisboa
Imagens dos visitantes d'O Jumento


Chafariz, Elvas [A. Cabrala]
     
 Mentira do dia


O Pingo Doce acabou de apresentar à imprensa o seu capacete promocional, a partir de agora os clientes do Pingo Doce podem circular livremente nas suas lojas sem receio que lhes caia uma garrafa de cerveja em cima da cabeça.






Jumento do dia


Soares dos Santos

O conhecido merceeiro holandês decidiu matar três coelhos com uma cajadada, recuperar terreno em relação à estratégia comercial do Continente que parece levar vantagem com os seus descontos em cartão, gozar com o movimento sindical transformando o dia 1.º de Maio numa mega encenação e promover a imagem da marca com uma suposta sensibilidade social em tempos de crise.

É muito provável que se tenha enganado, deu uma péssima imagem da marca com as cenas de violência e de confusão nas suas lojas, ganhou o ódio de muitos trabalhadores e é pouco provável que com uma campanha pontual tenha feito frente à estratégia do Continente.

O grande ganho desta campanha do Pingo Doce está no facto de os portugueses terem ficado a conhecer melhor o merceeiro holandês. O merceeiro holandês decidiu usar o 1.º de Maio para anunciar ao país uma nova ordem e para isso usou o seu poder financeiro para proporcionar um espectáculo miserável à custa das dificuldades. Mas é bom recordar que o mesmo merceeiro que agora ajuda os pobres foi uma das personalidades que mais se bateu por esta política ao defender a entrega do país ao FMI.

«"ASAE investiga descontos do Pingo Doce. Campanha atrai milhares em todo o País, obrigando a PSP a intervir." Esta é uma das notícias que faz a manchete da edição desta quarta-feira do Correio da Manhã. Nós fomos para a rua perguntar aos portugueses qual a sua opinião sobre este assunto. Será que se tratou de uma questão de solidariedade ou aproveitamento?» [CM]
 
 

Pingo Doce fez saldo do 1.º de Maio

«Como diziam, ontem, os rapazes dos blogues: "Pingo Doce, 50, CGTP e UGT, 0." Uma abada! Se a Fundação Francisco Manuel dos Santos tiver por lá um sociólogo, ontem foi dia grande para análises. Diz-me a menina da caixa: "Então não há de haver sociólogo?! Até temos a Pordata, estatísticas, gráficos e indicadores de Portugal..." Ótimo, pois há nova percentagem: com 50 por cento de desconto os portugueses não se importam de andar à lambada por uma embalagem de iogurtes, esperar duas horas (ticket n.º 287 e já vai no 53) por um quilo de costeletas e arrastar pelo chão a margarina e as fraldas, aos pontapés delicados, na bicha para a caixa, porque faltavam carrinhos e as mãos levavam já um bolo e duas garrafas. É nestes momentos que os sociólogos nos abrem horizontes: um deles, de voz funda, magro e de barba, explica-me o erro de vermos um sinal de consumismo nas manifestações que, à volta da bandeirola "Esvaziar as prateleiras, já!", se desenrolaram em todo o País. Pelo contrário, disse, estavam ali as massas mais conscientes, capazes de se libertar do jugo burocrático dos sindicatos que usurparam o 1.º de Maio! Reparei que o sociólogo confirmava o resultado dos rapazes dos blogues. A modernidade está imparável, concluí. Ambicioso, pedi mais lutas: "No Dia de Natal também vai haver promoção, claro..." O sociólogo cofiou a barba, ficou ainda mais grave e calou-se. Receio que o Pingo Doce não queira levar a revolução longe de mais.» [DN]

Autor:

Ferreira Fernandes.
  
História de um divórcio

«Quando o PSD assumiu o Governo em coligação com o CDS tinha a possibilidade – como defendi aqui várias vezes – de desenvolver um programa de governação que reforçasse a unidade nacional. 

Num momento de crise aguda, era expectável que um Governo, fosse de que partido fosse, procurasse consensos ao centro e um caminho sólido para as medidas a que o memorando de entendimento obrigava. Porém, nada disso aconteceu.

O Governo - e, especialmente, o PSD - decidiram aproveitar a situação de assistência externa para impor uma agenda ideológica radical, ainda que disfarçada de tecnocracia. Essa agenda é notória em múltiplos aspectos: subserviência à visão caricatural da crise do euro centrada na "culpa" dos países do sul e "esquecendo" a sua origem na arquitectura do euro; quebra do consenso nacional na política europeia; privatizações selvagens; programa de desmantelamento das funções sociais do Estado; austeridade mal medida e assimétrica (penalizando os mais fracos), etc.

Diante disto, o que fizeram António José Seguro e o PS? Apesar da oposição interna à actual direcção do PS, Seguro conseguiu impor uma linha moderada e deixar o Governo governar, deixar a UGT negociar, etc. Uma interpretação possível desta atitude é a da fraqueza da liderança socialista. A outra interpretação - a que me parece correcta - é a seguinte: ao contrário de alguns sectores socialistas (mais esquerdistas ou mais socráticos), Seguro interiorizou a derrota do PS nas eleições, a punição pela governação de Sócrates, e a vitória da direita. Por isso decidiu respeitar o sentimento do eleitorado e dar margem de manobra ao actual Governo, ainda que censurando-o ao nível do discurso.
  
Diante desta atitude de Seguro, que fez o Governo? Decidiu hostilizar o PS em vez de o trazer para a esfera das decisões mais importantes, nomeadamente em política europeia. Disso são exemplos recentes o agendamento da ratificação do Tratado Orçamental, feito sem qualquer consulta ao PS e com o objectivo de criar problemas à actual direcção face aos seus inimigos internos, ou ainda a não consulta deste partido em relação às medidas do novo PEC, já negociadas em Bruxelas. Mas, mais importante do que este tipo de atitudes ou tácticas, é a recusa sistemática em incorporar nas políticas seguidas as sugestões do PS e a consequente manutenção da agenda ideológica radical acima referida.
  
O divórcio entre o PS e o Governo, portanto, é inevitável. Mas é injusto para Seguro dizer que foi ele quem esticou a corda, ou quem acabou por rompê-la. A verdade é que o PSD e o Governo tiveram a possibilidade de optar por uma política de unidade e salvação nacional. Mas decidiram rejeitar explicitamente essa possibilidade, por palavras e actos.» [DE]

Autor:

João Cardoso Rosas.
  
Pingo Amargo

«O episódio 'Pingo Doce' de ontem pode à primeira vista parecer coincidência entre a 'simples' promoção de uma grande superfície agendada para o feriado de 1 de Maio (aproveitando a disponibilidade das pessoas), pode ainda dar azo a brincadeiras/piadas pelo caricato da situação (mea culpa) ou até ser desvalorizado como um facto isolado que foi (até à data no país). Dá para quase tudo. Mas talvez valha a pena aprofundar o assunto.

O que aconteceu ontem está longe de ser uma coincidência e não tem absolutamente nada de simples. Nem na origem nem no resultado. O que aconteceu foi o espelho da complexa revolução social que se está a passar neste país desmembrado por uma profunda crise económica e sucessivos governos incompetentes. Um grande grupo recorreu a uma campanha completamente irresistível nos dias que correm. As pessoas, que (sobre)vivem num nível de vida cada vez mais degradado, desesperadas em algumas situações, acorreram às lojas de uma forma avassaladora.

Foi de tal forma avassaladora a corrida que o grupo económico em causa decidiu recuar e fechar as lojas algumas horas antes do previsto, quando incidentes lamentáveis começaram a ocorrer no interior das várias lojas espalhadas pelo país. Lamentável. Estúpido. Amargo.

O oportunismo imoral do grupo jerónimo Martins foi óbvio e roça a ilegalidade, mas sinceramente o que preocupa e dá verdadeiramente que pensar são os sinais sonoros - estridentes e evidentes - que toda esta situação emite e que assustam. Aflige-me a indignidade. A perda completa da racionalidade de tantos ao mesmo tempo e o recurso aos comportamentos mais primitivos na proteção de algo que tem a ver com a subsistência mais básica. É atroz. Fere. Magoa. Não deveria ter acontecido. Não deveriam as pessoas nunca em tempo algum ser colocadas nesta posição.

Se o governo mais uma vez fechar os olhos ao que se passou ontem faz mal. E faz mal porque este sinal de alarme social é mais do que claro em relação ao que ainda está para vir. Ontem, a luta dos indignados pelos direitos adquiridos entretanto perdidos não se fez nas ruas como seria de prever, nas diversas manifestações marcadas por esse país fora. Ontem, a luta foi feia e fez-se no Pingo Doce. E quem não vir isto é cego.» [Expresso]

Autor:

Tiago Mesquita.

Sem Pingo de Vergonha

«O 1.º de Maio, que se comemora em todo o Mundo, evoca a luta dos trabalhadores de Chicago e a repressão policial que, nesse dia e seguintes de 1886, provocou dezenas de mortes entre os operários que reclamavam não mais de 8 horas de trabalho por dia.
  
O patronato não gosta do 1.ºo de Maio, como não gosta de jornadas de trabalho de "apenas" 8 horas. E, como os tempos vão de feição, este ano, à semelhança de 2011, as grandes superfícies, propriedade de alguns dos "Donos de Portugal", romperam o compromisso de fechar nesse dia. Por isso os sindicatos convocaram uma greve dos trabalhadores dessas lojas, em geral precários e miseravelmente pagos.
  
O Pingo Doce não esteve com meias medidas: para evitar que os seus empregados aderissem à greve, anunciou para ontem (só ontem) uma "promoção" de 50% em compras de mais de 100 euros, usando o desprezível processo de atirar consumidores contra trabalhadores e humilhando estes com um dia de trabalho se possível ainda mais penoso, no meio do caos generalizado, filas, discussões, agressões e incidentes de toda a ordem.
  
Lá longe, na Holanda, Alexandre Soares dos Santos deve estar a rir-se. Ele sabe bem que, como diz um anúncio do seu Pingo Doce, nas "'promoções', baixa-se o preço de um lado e aumenta-se do outro e (...), quando se fazem as contas, gastou-se mais do que se poupou".» [JN]
   

Ajustamento continua a bom ritmo

«Portugal chegou ao final de Março com uma taxa de desemprego de 15,3 por cento, uma subida de 0,3 por cento face a Fevereiro e a terceira mais elevada da União Europeia (UE), revelou quarta-feira o Eurostat.» [CM]

Parecer:

Quando pela primeira vez na história de Portugal um primeiro-ministro usa o 1.º de Maio para avisar os trabalhadores de que devem esperar mais desemprego não há limites para o aumento deste.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se pelo pior.»
  
Pobre Relvas

«"São números preocupantes. O desemprego tira-nos o sono e é muito motivador para o trabalho que estamos todos os dias a desenvolver", disse o ministro aos jornalistas no final da sessão de abertura do Colóquio 'Reorganização Administrativa Local', que decorre na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.» [DE]

Parecer:

É por isso que o ministro anda tão desaparecido e cheio de olheiras, com esta linguagem ainda vai dizer-nos que ser ministro quase lhe custa os olhos da cara.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sugira-se a Relvas que deixe de ter um discurso próprio de uma dona de casa.»
  
Coitadinhos dos agentes da PSP

«Um dos três arguidos no caso do despejo do movimento Es.Col.A, executado pela Câmara do Porto a 19 de abril, foi acusado esta quarta-feira de, alegadamente, agredir uma funcionária da autarquia com um guarda-chuva quando captava imagens daquela ação.» [JN]

Parecer:

No caso dos agressores dos jornalistas ainda não se sabe de consequências ou acusações, isto é, a PSP é bem mais rápida em relação aos cidadãos do que em relação aos seus agentes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Proteste-se.»
   
 

 Atit