Quando vejo um ministro dos Negócios Estrangeiros exibir a crise política para onde os gregos foram empurrados depois de lhes ter sido imposta uma política económica incompetente a troco de ajuda financeira sobre a qual se cobraram juros dignos de agiotas sinto vergonha de ser português.
Quando vejo os representantes dos patrões chorarem pela competitividade perdida e pedirem ao governo que use o medo colectivo da crise financeira para impor aos trabalhadores dias feriados e horas adicionais de trabalho escravo e depois é notícia que em 2011 os gestores das empresas cotadas tiveram aumentos de rendimentos acima dos 5% sinto vergonha de ser português.
Quando vejo um governo português vender uma participação de uma empresa pública estratégica para a segurança nacional ao Estado comunista da China com o argumento de que se está a democratizar a economia ao eliminar-se a participação do Estado português nessa empresa e depois sabe-se que o Catroga vai ganhar quarenta mil euros à conta dos chineses, o mesmo que Catroga que dias depois muda de opinião em relação aos pagamentos do Estado à EDP, sinto vergonha de ser português.
Quando se ouve um primeiro-ministro que foi eleito com um programa onde prometeu soluções e progresso económico sugerir aos jovens que abandonem o país e dizer ao milhão de portugueses que não encontram emprego que o desemprego foi uma grande oportunidade que a vida lhes deu, quando vejo um primeiro-ministro que só destruiu emprego congratular-se com a miséria humana que grassa na família dos que não têm Ângelos Correias para lhes dar de comer, sinto vergonha de ser português.
Quando fico a saber que o mesmo sindicato dos magistrados do Ministério Público que se desdobrou em ataques a um governo e que tanto se emprenhou em exigir desenvolvimentos nalguns processos judiciais se cala noutros e depois organiza um luxuoso congresso patrocinado por entidades envolvidas em processos criminosos cuja investigação cabe ao Ministério Público sinto vergonha de ser português.
Quando vejo ministros quase festejarem a desgraça grega, sabendo que se deve aos erros de uma receita igualmente aplicada em Portugal onde também dá sinais de falhanço, mas ignoram essa realidade para evidenciarem supostas diferenças propondo-se como saída para a troika se ilibar de responsabilidades a troco do branqueamento dos excessos de austeridade decididos pelo governo sinto vergonha de ser português.
Quando num país com um milhão de cidadãos sem emprego o ministro das Finanças não diz uma única palavra sobre o assunto, o Presidente da República fugir a comentários e o ministro da Economia a dizer que somos todos idiotas porque ainda não há uma multinacional das sandes de courato ou dos pastéis de nata, sinto vergonha de ser português.
Quando vejo um presidente alemão apresentar a demissão por suspeitas de favorecimento num negócio e por cá o presidente diz disparates como o ser um mísero professor que nada sabe dessas coisas de acções escritas em inglês para depois dizer que está por nascer alguém mais honesto do que ele, sinto vergonha de ser português.
Como se tudo isto fosse pouco começo a ter vergonha enquanto europeu por ver os políticos eleitos em eleições nas quais participei ajudarem a destruir a Europa.