sábado, maio 05, 2012

Flash mob à portuguesa



Vivemos num país de modas e depois de o Pingazedo ter levado os portugueses a mostrar um dos seus tiques miseráveis, reduzindo a gloriosa classe trabalhadora a uma prostituta barata corremos um sério risco de assistirmos a muitos flash mob. A experiência lançada pelo merceeiro holandês não é nova, a primeira realizada em Lisboa até foi iniciativa de um político da esquerda e financiada pela autarquia da capital. No dia de São Martinho de 2007 a Câmara Municipal de Lisboa lançou o programa “Ao domingo o Terreiro do Paço é das Pessoas”, instalou o maior assador de castanhas do mundo e ofereceu castanhas assadas aos lisboetas. Como era de esperar foi um ver se te avias, muito boa gente comia castanhas com uma mão enquanto as descascava para as outras.

Se alguém quiser ver hordas de portugueses desvairados é só oferecer alguma coisa, o pessoal primeiro correr a apanhar a borlas e só depois se preocupa com a sua utilidade. Se isso ocorrer num tempo em que se um ministro das Finanças como o Gaspar, um primeiro-ministro como o Passos Coelho (dois políticos que parecem bonecos Lego do miserabilista de Medina Carreira) e a oferta for comida mais barata estão reunidas as condições para o sucesso.

O que Soares dos Santos fez aos portugueses fazia eu quando era criança às velhas que saiam da missa, nesse tempo os botões eram um bem precioso, todos se aproveitavam e se guardavam, para a criançada era a moeda corrente em jogos como berlinde, quem perdia pagava em botões. Arranjar um saco de botões e espalhá-los à porta da igreja antes da saída da missa era espectáculo garantido, quando a acabava a eucaristia era certo e sabido que as beatas perdiam a compostura e acontecia uma verdadeira corrida aos botões.

Se a moda pega teremos de ir às compras equipados como se estivéssemos numa missão de paz na Bósnia, nada nos garante que uma qualquer empresa não se lembre de oferecer postas de pescada na Rua Augusta, douradinhos de frango no Terreiro do Paço ou cigarros em Santa Apolónia. Se alguém duvida das consequências é só experimentar. Muita gente que foi apanhada desprevenida já desenvolveu estratégias e da próxima vez que o merceeiro holandês se lembrar de lançar uma campanha vai ser o bom e o bonito.

Da próxima vez os consumidores terão estudado os planos das lojas minuciosamente, estarão prontos para largarem tudo de madrugado e correrem para a porta dos centros, metade da família estará de prevenção para o caso de ser lançada uma campanha de descontos, os pequenos comerciantes terão uma lista de produtos que compensa comprar no Pingo Doce, todos levarão soluções para o caso de não conseguirem um carro. Vai ser o bom e o bonito, nem as telhas das lojas se escaparão.