Vivemos num país de modas e depois de o Pingazedo ter levado
os portugueses a mostrar um dos seus tiques miseráveis, reduzindo a gloriosa
classe trabalhadora a uma prostituta barata corremos um sério risco de
assistirmos a muitos flash mob. A experiência lançada pelo merceeiro holandês não
é nova, a primeira realizada em Lisboa até foi iniciativa de um político da
esquerda e financiada pela autarquia da capital. No dia de São Martinho de 2007
a Câmara Municipal de Lisboa lançou o programa “Ao domingo o Terreiro do Paço é
das Pessoas”, instalou o maior assador de castanhas do mundo e ofereceu
castanhas assadas aos lisboetas. Como era de esperar foi um ver se te avias,
muito boa gente comia castanhas com uma mão enquanto as descascava para as
outras.
Se alguém quiser ver hordas de portugueses desvairados é só
oferecer alguma coisa, o pessoal primeiro correr a apanhar a borlas e só depois
se preocupa com a sua utilidade. Se isso ocorrer num tempo em que se um
ministro das Finanças como o Gaspar, um primeiro-ministro como o Passos Coelho (dois
políticos que parecem bonecos Lego do miserabilista de Medina Carreira) e a
oferta for comida mais barata estão reunidas as condições para o sucesso.
O que Soares dos Santos fez aos portugueses fazia eu quando
era criança às velhas que saiam da missa, nesse tempo os botões eram um bem precioso,
todos se aproveitavam e se guardavam, para a criançada era a moeda corrente em
jogos como berlinde, quem perdia pagava em botões. Arranjar um saco de botões e
espalhá-los à porta da igreja antes da saída da missa era espectáculo
garantido, quando a acabava a eucaristia era certo e sabido que as beatas
perdiam a compostura e acontecia uma verdadeira corrida aos botões.
Se a moda pega teremos de ir às compras equipados como se estivéssemos
numa missão de paz na Bósnia, nada nos garante que uma qualquer empresa não se
lembre de oferecer postas de pescada na Rua Augusta, douradinhos de frango no
Terreiro do Paço ou cigarros em Santa Apolónia. Se alguém duvida das consequências
é só experimentar. Muita gente que foi apanhada desprevenida já desenvolveu
estratégias e da próxima vez que o merceeiro holandês se lembrar de lançar uma
campanha vai ser o bom e o bonito.
Da próxima vez os consumidores terão estudado os planos das
lojas minuciosamente, estarão prontos para largarem tudo de madrugado e
correrem para a porta dos centros, metade da família estará de prevenção para o
caso de ser lançada uma campanha de descontos, os pequenos comerciantes terão
uma lista de produtos que compensa comprar no Pingo Doce, todos levarão soluções
para o caso de não conseguirem um carro. Vai ser o bom e o bonito, nem as
telhas das lojas se escaparão.