O que mais impressiona na política económica do competentíssimo Vítor Gaspar é a ligeireza com que se muda de um programa brutal para outro programa bruta, quase de um dia para o outro, sem qualquer estudo, sem apoio em qualquer experiência anterior, apenas com base nos palpites do híper-ministro.
Hiper-ministro porque mais do que um super-ministro o Vítor Gaspar é uma grande superfície de competências ministeriais, entre as quais está o poder de influenciar e convencer Passos Coelho a dizer qualquer asneira ou gozar com o seu colega Álvaro nas reuniões em que este se lembre de propor medidas para estimular o crescimento. Vítor Gaspar tem muitos poderes em todas as áreas da governação, mas a verdade é que não os exerce, estão em prateleiras como se fosse um hipermercado do Pingo Doce do Borges. Vítor Gaspar não governa nem deixa governar, o governo pouco mais é do que os seus pacotes, as palhaçadas comunicacionais de Passos Coelho a que, em regra, se segue, uma conferência do próprio Gaspar porque o primeiro-ministro nem percebeu nem soube explicar e defender as suas ideias.
O caso da TSU mostra bem a imponderabilidade do brilhante pensamento económico do Vítor Gaspar, num dia defende um roubo brutal aos trabalhadores para entregar o resultado do roubo aos patrões para que estes contratem mais trabalhadores a que possam roubar com a preciosa ajuda governamental. Como o país se indignou em menos de nada o Gaspar desistiu da TSU e arranjou medidas equivalentes, nada mais, nada menos do que um aumento brutal dos impostos cuja receita vai inteirinha para tapar o desvio colossal nas receitas fiscais de 2012.
Isto é, de um dia para o outro o Gaspar mandou os patrões à bardamerda, aquilo que ia sacar em TSU saca em IMI e IRS, fica com a receita e ainda goza com a inteligência dos portugueses dizendo que arranjou uma solução para substituir a TSU, que supostamente visava criar emprego e crescimento. Mas parece que os admiradores de Gaspar não são apenas os idiotas lusos, também o Durão Barroso veio, em nome da Comissão e da troika, confirmar o brilhantismo das medidas do Gaspar.
Este ministro decide com a maior das ligeireza tirar um ou dois vencimentos aos trabalhadores, tira dois aos funcionários, o Constitucional não deixa, então tira dois aos funcionários e um aos do privado, o provo não deixa, então tira dois a todos o dinheiro fica todo para o Estado. E tudo isto a um ritmo louco, se nos outros países se discutem meses uma medida com um impacto de 1% num imposto, o Gaspar lembra-se à noite, pensa durante a barba e decide a caminho do gabinete, à hora de almoço já o Passos Coelho está instruído, o Álvaro já recebeu ordens para ficar calado, o Paulo Portas já engoliu e o Cavaco já foi informado. E se tudo der para o torto três dias depois há novo pacote.
A política económica do Gaspar não tem seriedade, não assenta em quaisquer pressupostos técnicos ou científicos, não é debatida no seio do governo, não se fundamenta em qualquer tese ou experiência, são coisas de que o Gaspar se lembra de experimentar. Perante tudo isto o Seguro cala-se porque há um memorando, o Cavaco permite sabe Deus porquê, o Passos não percebe nada mas concorda porque foi uma ideia do Gaspar, o Portas desaparece e o Álvaro faz cara de parvo porque o pobre coitado é muito inteligente mas ainda não aprendeu a fazer outra.