quinta-feira, outubro 25, 2012

Maio de 2013

Quando o desastre nas receitas fiscais eram mais do que evidente o ministro Gaspar desvalorizou o facto, o ministério tudo fez para adoçar a realidade e Passos Coelho disse que seria necessário esperar por Maio para se tirarem conclusões. Em Maio calou-se, meses depois na festa do Pontal ainda falava como se fosse a Alice no País das Maravilhas e agora apresenta um OE em que promove um aumento brutal de impostos, incorrendo na mesma estratégia, previsões aldrabadas para fundamentar receitas fiscais que não vão entrar.

Como a maioria parlamentar continua domesticada pelo medo de perder o tacho e o Presidente da República está mais virado para a veterinária do que para a economia resta-nos esperar por Maio de 2013, nesse mês os portugueses ficarão a saber qual a dimensão do desvio colossal entre a realidade económica e as aldrabices da folha de cálculo do Gaspar e perceberão que em vez do crescimento no segundo semestre terão de enfrentar a maior crise financeira, económica e política da história de Portugal, tudo porque se permitiu que um economista mediano pudesse usar um país para experimentar ideias que nunca mereceram grande crédito no meio académico da economia. É como se um sismólogo em vez de fazer os seus testes num laboratório tivesse optado por fazer explodir um arsenal nuclear só para avaliar as consequências de um sismo.
  
A política brutal de 2012 foi justificada com um desvio colossal, para o corrigir cortaram-se subsídios a funcionários e pensionistas. Ainda 2012 ia a meio e já o ministro das Finanças tinha mais um desvio ainda mais colossal a corrigir, as receitas fiscais estavam muito aquém do estimado com base em falsas previsões. O OE alarga a brutalidade das medidas aos trabalhadores do sector privado é é mais do que óbvio que estamos perante mais um OE martelado e com previsões falsificadas por modelos e pressupostos manipulados. Não admira que o ministro já comece a falar de alterar as funções do Estado, é mais do que óbvio que depois de um corte no rendimento de todos os trabalhadores e de despedimentos em massa no Estado o ministro das Finanças avance com mais uma das sua ideias de Estado Novo, reduzir o papel do Estado no combate à injustiça social e na prestação de serviços básicos.
  
A questão está em saber se são os desvios colossais que têm obrigado o ministro a tramar os portugueses ou se é o ministro a inventar ou mesmo a criar desvios colossais para mais facilmente impor ao país as suas concepções e os seus valores ideológicos. Quando o ministro diz que os portugueses exigem demais do Estado e que teremos de rever as funções do Estado torna-se óbvio que o aumento brutal dos impostos não resulta de uma necessidade mas sim de uma concepção, isto é, ficamos com motivos para questionar se a necessidade não terá sido criada intencionalmente já que a concepção das ideias era anterior.
  
É por isso que depois de o ministro dizer que teríamos de rever as funções do Estado não é difícil de adivinhar que o OE 2013 pode ser intencionalmente aldrabado para que o desvio chegue a ser colossal em meados do próximo ano para que Vítor Gaspar solicite o apoio dos chantagistas da troika para implementar mais uma peça do seu Estado Novo, reduzir as funções sociais do Estado.
  
Não será tempo dde levar as ideias do ministro a eleições? Se é o ministro que manda no governo e quer transformar o país num outro que nada tem que ver com o actual ou com o que resulta da Constituição só há um caminho, Vítor Gaspar toma conta do que resta do PSD, vai a eleições propor aos portugueses o que defende e se as ganhar com uma maioria constitucional tem todas as condições para mudar o país como se fosse um brinquedo da Lego. Enquanto isso não suceder cabe a Cavaco Silva informar Vítor Gaspar que desde Maio de 1926 que muita coisa mudou no mundo, que Portugal é um país que vive em democracia e que esta obedece a regras constitucionais.