sábado, outubro 06, 2012

Asfixia democrática


A tese fascista para superar as crises financeiras sempre foi a negação da democracia, os fascistas sempre gostaram de usar as crises financeiras para eliminarem as democracias com o argumento do que os ajustamentos económicos são inviáveis se o povo se puder pronunciar. Por isso o povo deve ser exaltado, exibido de forma chauvinista como sendo mais capaz, melhor ou corajoso do que os outros, de preferência os vizinhos geográficos ou de situação financeira.
  
Mas esse povo simpático não tem conhecimentos técnicos para apoiar as soluções acertadas mais acertadas. Por isso pode ser o melhor povo do mundo mas deve deixar a quem sabe a tarefa de endireitar o país, assim como a política é para os políticos (nem que sejam formados pela Lusófona) a economia é para os economistas. É este o primado dos técnicos por oposição ao primado da democracia que o país está vivendo, Manuela Ferreira Leite disse a brincar que para resolver os problemas da economia isso implicava suspender a democracia durante dois meses. Vítor Gaspar parece partilhar da mesma tese como é homem que aprecia soluções mais robustas, parece que quer suspender a democracia pelo menos até ao fim da legislatura.
 
O que o país está a sofrer não é um ajustamento económico, é sim um ajustamento do regime democrático, Gaspar decidiu colocar um cartaz dizendo “ a democracia segue quando eu entender que há condições para isso”. O mais troikismo do que a troika ou o custe o que custar do Passos Coelho não é mais do que uma forma intelectualmente pobre de assumir uma ideologia fascista que julga que seres superiores podem transformar um país e um povo em bichos da seda.
  
Vítor Gaspar já promete livrar o país da troika mas a verdade é que o grande problema de Portugal não é um problema de soberania, essa não foi perdida com o memorando mas sim quando chegou ao poder um governo que a troco das suas ambições meteu a bandeira nacional ao contrário. O grande problema deste país é o processo de destruição da democracia para dar lugar a uma suposta superioridade ideológica e técnica de Vítor Gaspar.
   
Mais tarde ou mais cedo os portugueses vão perceber que a economia está bem pior do que estava ou, nas melhor das hipóteses, os seus problemas foram iludidos e, em contrapartida, o país que tínhamos foi reformatado por Vítor Gaspar sem que a sua ideologia ou o seu programa tenham sido colocados à discussão dos portugueses.