A tese fascista para superar as crises financeiras sempre
foi a negação da democracia, os fascistas sempre gostaram de usar as crises
financeiras para eliminarem as democracias com o argumento do que os
ajustamentos económicos são inviáveis se o povo se puder pronunciar. Por isso o
povo deve ser exaltado, exibido de forma chauvinista como sendo mais capaz,
melhor ou corajoso do que os outros, de preferência os vizinhos geográficos ou
de situação financeira.
Mas esse povo simpático não tem conhecimentos técnicos para apoiar
as soluções acertadas mais acertadas. Por isso pode ser o melhor povo do mundo
mas deve deixar a quem sabe a tarefa de endireitar o país, assim como a política
é para os políticos (nem que sejam formados pela Lusófona) a economia é para os
economistas. É este o primado dos técnicos por oposição ao primado da
democracia que o país está vivendo, Manuela Ferreira Leite disse a brincar que
para resolver os problemas da economia isso implicava suspender a democracia
durante dois meses. Vítor Gaspar parece partilhar da mesma tese como é homem
que aprecia soluções mais robustas, parece que quer suspender a democracia pelo
menos até ao fim da legislatura.
O que o país está a sofrer não é um ajustamento económico, é
sim um ajustamento do regime democrático, Gaspar decidiu colocar um cartaz
dizendo “ a democracia segue quando eu entender que há condições para isso”. O
mais troikismo do que a troika ou o custe o que custar do Passos Coelho não é
mais do que uma forma intelectualmente pobre de assumir uma ideologia fascista
que julga que seres superiores podem transformar um país e um povo em bichos da
seda.
Vítor Gaspar já promete livrar o país da troika mas a
verdade é que o grande problema de Portugal não é um problema de soberania,
essa não foi perdida com o memorando mas sim quando chegou ao poder um governo
que a troco das suas ambições meteu a bandeira nacional ao contrário. O grande
problema deste país é o processo de destruição da democracia para dar lugar a
uma suposta superioridade ideológica e técnica de Vítor Gaspar.
Mais tarde ou mais cedo os portugueses vão perceber que a
economia está bem pior do que estava ou, nas melhor das hipóteses, os seus
problemas foram iludidos e, em contrapartida, o país que tínhamos foi
reformatado por Vítor Gaspar sem que a sua ideologia ou o seu programa tenham
sido colocados à discussão dos portugueses.