Como deverá ter sido humilhante ouvir um deputado do PCP
ler-lhe uma carta e os seus aliados de coligação rirem-se dele à gargalhada,
como se estivessem a rir de uma anedota de louras e a loura fosse o próprio
Paulo Portas. Como deverá ser humilhante ser gozado em pleno hemiciclo por
gente que lhe é intelectualmente inferior e que só ainda estão no poder graças à
sua paciência.
Como deverá ter sido humilhante ter feito recuar a TSU por
se ser contra um aumento de impostos e logo de seguida o Vítor Gaspar vingar-se
da sua ousadia e forçá-lo a aceitar o mais brutal aumento de impostos de que há
memória na Europa Ocidental, forçando-o ao enxovalho público.
Paulo Portas pensou que podia confiar em Pedro Passos Coelho
e Miguel Relvas com a mesma confiança que o tinha feito em relação a Durão
Barroso e a Manuela Ferreira Leite e enganou-se, percebeu tarde a gente com que
se tinha metido e mal as sondagens revelaram um CDS a resistir à crise melhor
do que o PSD foi promovido a inimigo interno do governo.
Como será difícil a Paulo Portas perceber tardiamente a
gente com que se tinha metido, estando agora rodeado de inimigos que tudo farão
para o destruir e preso a uma política económica conduzida por um extremista
que não está disposto a aceitar os seus erros e ainda acredita que vem aí a sua
salvação com a mesma convicção com que Hitler acreditava, desde o fundo do seu
bunker e com os soldados os soldados russos a chegar, que ainda tinha exércitos
capazes de levar o III Reich à vitória.
Como será difícil a Paulo Portas manter-se num governo que
ele suporta convencido de que está defendendo o país quando percebe que esse
governo já não governa e uma boa parte dos ministros estão mais ocupados a
destruí-lo do que a enfrentar a oposição.
Como será difícil a Paulo Portas derrubar um governo de
gente capaz de tudo para atingir os seus fins sem a a garantia de que Cavaco
Silva livra o país deste trio formado por Passos, Relvas e Gaspar,
permitindo-lhes continuar a ter o poder económico e judicial ao seu dispor para
perseguir os seus adversários ou, como ameaçou a ministra da Justiça, para
acabar com a impunidade, o que em linguagem de extrema direita pode significar
eliminar politicamente os seus adversários.
Como deve ser difícil a Paulo Portas ver a gente com que se
meteu e lembrar-se do tempo em que dizia com quem aceitava ir ou não para o
governo. Como deve estar arrependido de tanta coisa que disse e fez, agora que
está sendo vítima da vingança daqueles que ajudou a serem governo.