terça-feira, outubro 02, 2012

Desgoverno


A crise da TSU teve o mérito de o país perceber não só que o povo está disposto a sacrifícios mas que não aceita mais canalhices e injustiças a coberto da austeridade, mas também que o país não tem governo. Até o ilustre António Borges, um daqueles professores cujo canudo não carece de certificação pelo MP, regressou a Portugal pensando que em terra de cegos quem tem olho é rei e aprendeu que em matéria de política económica não passa de um dos seus cavalos de Alter aos pinotes dentro de uma loja de cristais.
A forma inconsistente como o roubo da TSU tentou ser lançado, a falta de estudo quanto ao impacto e consequências de uma medida com um efeito tão recessivo em plena recessão, a má qualidade da argumentação dos seus defensores, a forma atabalhoada como se tentou impingir a medida como imposição da troika, as demonstrações de ódio em relação aos empresários que disseram “não obrigado” ao roubo dos trabalhadores das suas empresas, tudo isto mostrou que Portugal não tem governo, é um barco à deriva e com marinheiros inexperientes que nem conseguem que rumo tomar.
   
Ainda se poderia pensar que o Gaspar poderia ser o verdadeiro primeiro-ministro, é ele que manda no dinheiro dos ministros, que lhes condiciona a acção e, como se viu em tempos com o Álvaro, até lhes diz o que podem ou não propor. Mas o Gaspar está longe do Oliveira Salazar, falta-lhe o conhecimento social, a dimensão intelectual, a capacidade, o discurso, mas falta-lhe acima de tudo a dimensão humana. Com Salazar o país ganhou uma classe média, Lisboa cresceu em classe média desde São Sebastião da Pedreira até ao Lumiar, com o Gaspar a classe média está a ser destruída e o país a ser transformado numa Inglaterra do tempo da Revolução Industrial. O Gaspar é um flop, é um erro de casting cometido por Passos Coelho que lhe vai custar o poder.
   
De cima da sua imensa vaidade o António Borges percebeu que o seu pupilo Gaspar se estava enterrando e decidiu vir em defesa do roubo da TSU. Veio armado em alto assessor do governo e com a arrogância de quem acha que quando fala até os taxistas devem desligar as buzinas, foi um erro, o país ficou a perceber que o ministro das Finanças, o que ia ao Conselho de Estado explicar a TSU, não passa de um banana, quem manda na política económica é o BB, o Brilhante Borges, o Gaspar não passa de um ajudante.
   
O país é governado dia a dia, o programa eleitoral foi rasgado, o programa de governo foi esquecido, a Constituição é ignorada. Preparam-se as medidas vai-se à troika ver se esta concorda ou não e volta-se a Portugal para impingir mais um ditame da troika. Se as coisas correm mal a troika diz que não teve culpa, que a ideia foi do governo e que aceita medidas equivalentes. A palhaçada é tão grande que já é o Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, que nunca disse uma palavra sobre a Irlanda, que quase nada disse sobre a Grécia, aparece agora a falar como se tivesse substituído Marques Gudes como secretário de Estado da Presidência do Conselho de ministros.
  
Os estarolas deste governo ainda não perceberam que já conduziram o país para um beco sem saída, que já estamos mais gregos de que os próprios gregos e que o problema é da incompetência de Passos e dos seus ministros e da arrogância paranóica do Borges e do Gaspar. Agora o governo pouco mais faz do que golpes de propaganda, ora faz blackout como se fosse um clube de futebol que culpa as arbitragens das suas derrotas e vinga-se nos jornalistas, ora chama o Durão Barroso para que este dê uma ajudinha armado em Pinto da Costa, ora lança manobras de propaganda como a da impunidade na justiça.
  
Portugal está sem governo, o governo de Passos Coelho já caiu e o Presidente da República ainda não percebeu que este cadáver político em adiantado estado de putrefacção já não vai lá com as suas manobras de reanimação, nem mesmo com um transplante geral através de uma remodelação. Portugal precisa de um novo governo, formado por gente preparada, que goste de Portugal e dos portugueses, honesta, com bons princípios e competente.