O ajustamento está a correr às mil maravilhas, Portugal
exporta em barda, as PPP ficaram quase à borla, o governo é coeso, a
produtividade subiu como nunca se viu apesar do fim do investimento privado, o
negócio das marmitas está em alta, Passos Coelho não precisa de se juntar aos
governantes da Grécia e da Espanha para descrever os impactos sociais negativos
da austeridade, Portugal abastece a Inglaterra de reformados, o sôr Álvaro
ainda não perdeu o sentido de humor, o Presidente da República está tão
tranquilo que tem uma agenda menos agitada do que a do presidente da Junta de
Freguesia de Belém, aliás, se este fosse Presidente da República por inerência
não se daria pela diferença, o OE está aprovado pela troika ainda antes de se
aprovado pelo parlamento, o Gaspar continua a não ter pressa quando fala, o
dinheiro abunda nos cofres do Estado.
Quem diria que as coisas poderiam vir a correr tão mal, a Grécia
é o que se sabe, a Espanha está a caminho, a Itália lá chegará, mas há na Península
Ibérica uma aldeia que resiste e mostra ao mundo que a Merkel tem razão, quanto
mais austeridade melhor, se não se respeitar a Constituição melhor ainda e se o
governo só tiver um ministro, o das Finanças, melhor ainda. Passos Coelho vai
ser a próxima Madame Teacher, pelo preço da crise o Passos fez dois favores ao
país, resolveu a crise financeira e mudou o país sem ter incomodado os
portugueses com debates chatos e pouco produtivos, o grande pensador
neo-liberal achou mais prático pensar pelos portugueses, as eleições, o
parlamento ou a Constituição são cenas que não lhe assistem.
Graças a um governo de gente superior e brilhante, a que se
juntou esse verdadeiro Deus do Pingo Doce que tentou adoçar a economia com a
sua ideia da TSU, o país já superou a crise, está quase a crescer e a criar
emprego, em Setembro do próximo ano já iremos ao mercado comprar grelos de
nabos, euros e outras verduras, é o Gaspar e se o Gaspar o diz é mais do que
certo, não vale a pena fazer modelos e previsões, se está na sua folha de cálculo
muito simplesmente acontece.
Isto está a correr tão bem que talvez fosse uma boa ideia
acabar com a democracia, esquecer a Constituição, com gente brilhante como o
Passos, o Relvas e o Gaspar realizar eleições é perda de tempo e de dinheiro,
tudo o que fazem não tem alternativa, tudo o que defendem tem a aprovação
incondicional da Europa e o elogio dos rapazolas da troika. Nunca um governo
deste país teve políticos tão elogiados, decisões tão apoiadas e perspectivas tão
boas, tudo sem que tivesse sido alvo de qualquer debate eleitoral, sem que
conste em qualquer programa de governo, sem qualquer conhecimento prévio de
Cavaco.