quinta-feira, outubro 18, 2012

Política económica por tentativas


No OE para o ano em curso o ministro das Finanças apresentou um OE à Chico esperto, aumentava os impostos sobre o consumo, sacava os subsídios aos funcionários públicos e pensionistas, resolvia o problema orçamental e a austeridade passava ao lado da maioria dos portugueses, muitos estariam secretamente agradados com a ideia de que só o vizinho iria pagar a crise. O ministro das Finanças, um homem que se na liturgia católica houvesse lugar a um virgem masculino daria lugar ao Virgem Gaspar, chamou a si o poder divino de decidir quem em matéria de austeridade ficaria no céu, no purgatório e no inferno. No céu ficariam os muito ricos porque o seu dinheiro é sagrado e os muitos pobres porque não têm dinheiro, no inferno ficariam os funcionários públicos e os pensionistas por terem sido eles os mais pecaminosos e no purgatório ficariam todos os outros.
  
Como os funcionários públicos são uns ricaços e todos os outros se escaparam à austeridade o Gaspar ajeitou as suas previsões quanto ao crescimento e às receitas fiscais, para as determinar bastaria uma velha regra de três simples, se a um IVA a n% correspondia x de receita, a uma taxa de m% corresponderia y. Nada mais fácil. Só que os consumidores não são tão simplório no seu comportamento como pensa o virginal Gaspar e as suas contas saíram erradas, a recessão disparou, o desemprego aumentou exponencialmente e as receitas fiscais caíram abruptamente. A desgraça só não foi maior porque uma boa parte da economia defendeu-se da incompetência do ministro refugiando-se no território libertado da economia informal.
  
Mas apesar daquele ar virginal o Gaspar é um malandreco e se o pessoal fugiu ao IVA não terá como fugir ao IRS. Ainda por cima mata três coelhos com uma cajadada, goza com o CDS aumentando brutalmente os impostos, impede que o pessoal escape pois cobra mesmo que as pessoas não consumam e promove a desvalorização fiscal através do imposto sobre o rendimento, o que vai dar no mesmo que a TSU.
  
Só que o virginal Gaspar revela mais uma vez um domínio da economia que está bem abaixo do meu merceeiro, não só vai falhar conduzindo o país a uma situação que levará o governo grego a dizer que não quer ser como Portugal, como a economia paralela terá o maior crescimento de que há memória.
  
Como todas as entidades prevêem a recessão estará bem acima do previsto, isso significa que o OE para 2013 está aldrabado, as receitas fiscais ficarão muito aquém das despesas pois estão inflacionadas com previsões de crescimento irrealistas e aldrabadas. Mas a desgraça não se fica pelas contas aldrabadas do ministro, uma parte significativa de sectores de actividade económica vão transferir-se para a economia paralela, à semelhança da construção civil e de outros sectores onde os trabalhadores já recebem uma parte significativa dos salários “livres de impostos”.
  
A única forma de as empresas impedirem a saída dos trabalhadores é pagando-lhes uma parte significativa dos ordenados “por fora”, se não o fizerem sujeitam-se a perder os seus melhores trabalhadores que depois de ficarem sem ordenado após pagamento do resgate gaspariano optam pela emigração ou pela mudança para empresas que operam no paralelo. Para muitas empresas a sobrevivência passa pela sua transferência para a economia.
  
O merceeiro do meu bairro faria orçamentos melhores do que os do Gaspar, para uma política económica destas não teria sido necessário gastar tanto dinheiro com a educação do virginal ministro. Esta política não só é um desastre como promove a discriminação entre portugueses e funciona como um forte desincentivo ao investimento e um poderoso estímulo à economia paralela.