A tese que Passos Coelho adoptou para justificar os cortes
salariais era a de que estes se ficariam pelos funcionários públicos porque estes
malandros ganham mais do que os trabalhadores do sector privado. Em 2012 este
grupo pagou a triplicar, perdeu os subsídios, sujeitou-se a várias medidas de
empobrecimento do seu estatuto e suportaram o aumento de impostos aplicados a
todos os portugueses.
Hoje sabemos que as coisas correram mal ao Gaspar, a
economia não é uma caixa de bichinhos da seda e os resultados foram
desastrosos, o que o ministro ganhou em cortes de subsídios perdeu em receitas
fiscais. Como um mal nunca vem só o Tribunal Constitucional decidiu recordar o
ministro de que Portugal não é um anexo de Auschwitz nem os portugueses são
cobaias do dr. Mengaele.
Se as coisas tivessem corrido bem o corte dos vencimentos
dos funcionários eram definitivos, prometia-se uma pequena revisão lá para
2015, entretanto o mercado ia promovendo a equalização dos preços salariais, a
baixa dos salários no privado implicariam a dos do sector privado. Mas não
correram e Passos deixou de ter tempo para esperar que o mercado funcionasse. A
desejada desvalorização dos custos salariais tardaria e com o desemprego a
crescer exponencialmente deixou de haver tempo.
O Tribunal Constitucional deu aos nossos liberais a
oportunidade de mandar o mercado à fava substituindo as suas regras por uma
desvalorização fiscal forçada. Com as contas públicas em derrapagem
descontrolada não havia tempo a perder, divulgava-se o golpe da TSU enquanto a
quinta avaliação da troika ainda estava quente e dava-se a pinochetada fiscal
quando se divulgasse o novo OE.
Os nossos liberais descobriram que o melhor caminho para o
sucesso do liberalismo era a do estalinismo, o Estado substitui-se aos mercados
e decide a desvalorização do factor trabalho quer no sector público, quer no
sector privado. A bem do capitalismo o camarada Vítor Gaspar instituiu o
comunismo pela via orçamental, os portugueses sujeitam-se a um programa estatal
tão violento como o que foi aplicado na Rússia no pós revolução.
A democracia é de opereta, a Procuradoria dedica-se a
comunicados certificando a honorabilidade dos ministros, o Tribunal
Constitucional é gozado pelas medidas orçamentais e enxovalhado na praça pública
por figuras menores do regime, a comunicação está à venda e em saldo, as
privatizações são o volfrâmio dos nossos dias e cada uma carrega como pode. Portugal
deixou de ser uma economia de mercado para, pelo menos no mercado laboral, ser
um capitalismo de Estado.