terça-feira, outubro 23, 2012

Viva o camarada Vítor Gaspar


A tese que Passos Coelho adoptou para justificar os cortes salariais era a de que estes se ficariam pelos funcionários públicos porque estes malandros ganham mais do que os trabalhadores do sector privado. Em 2012 este grupo pagou a triplicar, perdeu os subsídios, sujeitou-se a várias medidas de empobrecimento do seu estatuto e suportaram o aumento de impostos aplicados a todos os portugueses.
  
Hoje sabemos que as coisas correram mal ao Gaspar, a economia não é uma caixa de bichinhos da seda e os resultados foram desastrosos, o que o ministro ganhou em cortes de subsídios perdeu em receitas fiscais. Como um mal nunca vem só o Tribunal Constitucional decidiu recordar o ministro de que Portugal não é um anexo de Auschwitz nem os portugueses são cobaias do dr. Mengaele.
 
Se as coisas tivessem corrido bem o corte dos vencimentos dos funcionários eram definitivos, prometia-se uma pequena revisão lá para 2015, entretanto o mercado ia promovendo a equalização dos preços salariais, a baixa dos salários no privado implicariam a dos do sector privado. Mas não correram e Passos deixou de ter tempo para esperar que o mercado funcionasse. A desejada desvalorização dos custos salariais tardaria e com o desemprego a crescer exponencialmente deixou de haver tempo.
 
O Tribunal Constitucional deu aos nossos liberais a oportunidade de mandar o mercado à fava substituindo as suas regras por uma desvalorização fiscal forçada. Com as contas públicas em derrapagem descontrolada não havia tempo a perder, divulgava-se o golpe da TSU enquanto a quinta avaliação da troika ainda estava quente e dava-se a pinochetada fiscal quando se divulgasse o novo OE.
 
Os nossos liberais descobriram que o melhor caminho para o sucesso do liberalismo era a do estalinismo, o Estado substitui-se aos mercados e decide a desvalorização do factor trabalho quer no sector público, quer no sector privado. A bem do capitalismo o camarada Vítor Gaspar instituiu o comunismo pela via orçamental, os portugueses sujeitam-se a um programa estatal tão violento como o que foi aplicado na Rússia no pós revolução.
 
A democracia é de opereta, a Procuradoria dedica-se a comunicados certificando a honorabilidade dos ministros, o Tribunal Constitucional é gozado pelas medidas orçamentais e enxovalhado na praça pública por figuras menores do regime, a comunicação está à venda e em saldo, as privatizações são o volfrâmio dos nossos dias e cada uma carrega como pode. Portugal deixou de ser uma economia de mercado para, pelo menos no mercado laboral, ser um capitalismo de Estado.