sábado, outubro 27, 2012

Umas no cravo e outras na ferradura


 
   Foto Jumento
  
 
   
Cria de Cisne no Parque Eduardo VII, Lisboa
   
Imagens dos visitantes d'O Jumento
 

   
Lousã, aldeia de xisto [J. Ferreira]   

Jumento do dia
  
Francisco José Viegas, homem cansado
 
Cansou-se depressa, imaginem se o trabalho tivesse dio algum.
 
«Tal como os seus novos colegas de Governo, Barreto Xavier não parou para prestar declarações à comunicação social. Pouco antes, o seu antecessor, o escritor e editor Francisco José Viegas, abandonara já a sala, acenando de longe para as câmaras e dizendo quase sem abrandar o passo: “Foi [uma experiência] muito gratificante. Agora vou descansar.”» [Público]
   
 O Ricciardi também já mora em Massamá?
 
[via CC]

Ó Ri, quando é que vens aqui ao Palheiro comer um fardito da nossa palha? Por este andar ainda os banqueiros vão tratar o Pedro por "ó meu!".
 
 Para pensar
 
 

  
 Mais um ano para quê?
   
«Alguma coisa se passa. Agora que está à vista nas economias europeias o falhanço das políticas drásticas de austeridade, começa a ser difícil encontrar os pais da criança.
   
De um lado, vemos o FMI a lançar veementes "alertas"(!) contra os riscos da austeridade excessiva, como se o próprio FMI não tivesse participado activamente na definição de todos e cada um dos programas de austeridade. Do outro, vemos a Comissão Europeia igualmente a lavar daí as suas mãos, ao ponto de o próprio Durão Barroso ter vindo jurar que a Comissão nunca (!) impôs a nenhum Estado-membro qualquer medida de austeridade. Pelo contrário, garantiu ele, as medidas de austeridade foram todas decididas livremente pelos Governos. Por este andar, ainda os vamos ouvir dizer que os Governos é que resolveram impor estas políticas excessivas de austeridade contra a vontade do FMI e da Comissão Europeia e apesar todos os seus lancinantes avisos e da sua esforçada resistência...!
   
Mas este indecoroso "jogo do empurra" teve ao menos o mérito de permitir uma revelação importante. Na verdade, Durão Barroso revelou esta semana no Parlamento Europeu que foi a Comissão Europeia - e não o FMI - quem propôs, no âmbito da 5ª avaliação do Programa de Assistência Financeira, que fosse dado mais um ano a Portugal para cumprir as metas do défice. Trata-se, em bom rigor, de uma dupla revelação. Por um lado, como resulta claro do ênfase posto por Durão Barroso, a Comissão Europeia pretende descolar da ideia, aliás correcta, de que tem sido mais exigente do que o FMI na elaboração dos actuais programas de austeridade. Por outro lado, a declaração do Presidente da Comissão Europeia confirma um facto de que apenas se suspeitava: o Governo português, de Passos Coelho, mesmo sabendo do desvio colossal que tem nas contas do défice de 2012, não tomou, durante a 5ª avaliação do Programa, nenhuma iniciativa para propor uma adequação do calendário das metas orçamentais previstas para este ano e para os anos seguintes. Teve de ser a Comissão Europeia a fazê-lo!
   
É obviamente patético o argumento de que é melhor assim para "salvar as aparências", na medida em que a "flexibilização" das metas pode ser apresentada como um "reconhecimento" da "troika" a quem "está a cumprir". Ninguém é tão parvo como isso: é óbvio para todos que a revisão das metas orçamentais se tornou indispensável não porque o Governo esteja "a cumprir" seja o que for mas justamente pela razão contrária: porque o Governo, apesar de todos os sacrifícios pedidos aos portugueses "além da troika", está muito longe de conseguir cumprir as metas do défice em 2012 e, se nada fosse feito, menos ainda seria capaz de cumprir as metas anteriormente fixadas para 2013. É o manifesto falhanço do actual Governo que obriga à revisão do calendário inscrito no Memorando inicial.
   
Mais importante, porém, é que esta passividade negocial do Governo junto da ‘troika', fundada na lógica serôdia de obediência à senhora Merkel, tem consequências desastrosas para o interesse nacional. O problema é este: dada a dimensão colossal do desvio que Vítor Gaspar tem nas contas da execução orçamental de 2012, o simples adiamento por um ano das metas do défice - "oferecido", sabe-se agora, pela Comissão Europeia - chega tarde e é manifestamente insuficiente. A melhor prova disso é que o Governo ficou com um duplo caderno de encargos entre mãos, claramente condenado ao fracasso e simplesmente inaceitável por qualquer pessoa de bom senso: fazer um orçamento para 2013 que será insuportável do lado da receita e fazer um orçamento para 2014 que será impraticável do lado da despesa. Não há economia, nem Estado Social, que resistam a um programa louco como este. Nem creio que haja Governo, em democracia, que o possa executar.» [DE]
   
Autor:
 
Pedro Silva Pereira.   

 Leite com chocolate
   
«Há nos EUA uma expressão muito usada na política: pork. Este pork, ou seja, carne de porco, refere situações em que se desperdiça o dinheiro público para benefício de clientelas. Em Portugal não temos palavras assim, tão despachadas e carregadas de ironia, para designar ocorrências típicas da política.
   
Para o facto, por exemplo, de o Governo ter anunciado a restrição das viagens gratuitas para os trabalhadores das empresas de transportes e pela calada garantir aos magistrados que mantêm essa benesse. Ou para a manutenção, na mesma corporação, dos subsídios de habitação de 620 euros mensais não sujeitos a impostos (que incluem magistrados jubilados e implicam mais de 20 milhões de euros/ano), quando não se ensaiou nada em retirar a integralidade dos subsídios de Natal e férias a todos os trabalhadores do Estado.
   
Difícil apontar melhor exemplo de gorduras e mordomias que este anacrónico subsídio de habitação concedido aos magistrados. Mas quando no início de 2011 foi discutido o respetivo estatuto, o PSD não só não propôs a abolição do abono, como se opôs a que fosse taxado em sede de IRS, considerando tratar-se de "uma dupla penalização", pois o então Executivo previa já uma diminuição de 20% no montante. Dupla penalização, claro, não será uma sobretaxa sobre o IRS ou taxar subsídios de doença e desemprego.
   
Aliás, quando o País, na retórica atual do PSD, balançava indefeso à beira da bancarrota, os sociais-democratas não só obstaculizavam estas racionalizações de recursos como bradavam (ouve-se ainda o eco indignado) contra qualquer aumento de impostos ou baixa das deduções fiscais. Rasgavam as vestes ante a proposta de aumento do IVA em produtos alimentares tão essenciais e saudáveis como os refrigerantes e o leite com chocolate - os mesmos que nem um ano após anunciavam o aumento do da restauração para 23%. E os autointitulados democratas cristãos, o que guinchavam, no fim de 2010, com o congelamento das pensões? Ainda zumbe nos ouvidos. Mas ei-los, no OE 2012, a aprovar, sem tugir, o esbulho de dois subsídios aos pensionistas (e no OE 2013 o de um subsídio mais um corte médio de 5% mais o maior aumento de impostos da história).
   
Se foi assim que PSD e PP agiram quando, é pacífico na cartilha dos partidos no poder, o País até já devia ter pedido um resgate e tudo, como terá sido nos anos anteriores? Que propostas fizeram, de 2005 a 2011, para combater o que apelidam de "criminoso despesismo do Estado"? Como votaram diplomas governamentais visando conter a despesa pública ou racionalizar recursos?
   
Ah pois é. Portanto, de cada vez que um ministro, secretário de Estado ou deputado do PSD ou do PP se erga para mais uma catilinária contra o anterior governo pelo "estado a que isto chegou" na vã tentativa de nos distrair das enormidades do atual, gritemos todos, a plenos pulmões: "Leite com chocolate." É mais elegante que aldrabões e tem a vantagem de avivar a memória.» [DN]
   
Autor:
 
Fernanda Câncio.
      
 Gaspar, o finório cínico
   
«Quem não teve disponibilidade de tempo ou suficiente abertura de espírito para seguir os trabalhos da comissão parlamentar do Orçamento, ontem de manhã, não sabe o que perdeu. Só por si, a presença do ministro das Finanças é toda uma atração...
   
O ar catedrático de Vítor Gaspar aplica-se a muitos cidadãos; já o misto de um estilo entre o pausado e o cínico andará perto de ser exclusivo, o bastante para ser apreciado pelos seus apoiantes - em número cada vez mais reduzido - e exasperar o mais pachorrento dos membros da legião de críticos em crescimento todos os dias.
   
As projeções orçamentais do ministro das Finanças são um fiasco mês a mês? A decisão de tentar corrigir défices através de novas doses de austeridade pela via da receita tem todos os condimentos para fazer afundar ainda mais o país? Sim, a factualidade negativa não leva o ministro a tergiversar e, por isso, a caracterização do seu perfil passa em muito pela crendice de vão de escada, a obediência cega a interesses terceiros ou, na melhor das hipóteses, a uma inconfessada agenda ideológica para a qual lhe têm dado rédea solta.
  
Se as decisões de Vítor Gaspar legitimam ângulos de análise mais ou menos benignos, difícil é não qualificar alguns dos seus raciocínios de absolutamente cínicos ou despojados de sentido.
   
O ministro das Finanças será um poço de defeitos, mas, até agora, não se lhe conhecem "lapsus linguae". Diz, de modo metódico, o que quer que se saiba ou decifre. E ontem repetiu a graça ao considerar existir "um enorme desvio entre o que os portugueses acham que devem ter como funções do Estado e os impostos que estão dispostos a pagar". Ou seja: em tradução livre Vítor Gaspar considerará terem os portugueses a predileção de viver sempre na dependência de um Estado tutor, mas torcendo o nariz à necessidade de sustentar pela via fiscal as despesas de um esquema tão monstruoso. Numa visão desapaixonada, Vítor Gaspar até tem razão atendendo à estafada tendência nacional apologista da socialização dos custos e privatização dos lucros.
  
O que seria a verificação de um comportamento nacional defeituoso peca, porém, pela contradição do ministro. Por um lado, os portugueses (também) rezingam ao excesso de impostos pela ineficácia de muitos serviços do Estado por si pagos e, por outro, é Vítor Gaspar a colocar o dedo na ferida quando admite que "a verdadeira carga fiscal é a despesa pública" e a sua redução "exige repensar funções do Estado e alterar profundamente a estrutura do Estado".
   
Aí está o pecadilho principal: o Governo de que às vezes Vítor Gaspar parece ser primeiro-ministro está em funções há bem mais de um ano e foi até agora incapaz de emagrecer a estrutura de um Estado clientelar. O ministro das Finanças é um dos que tiveram até agora coragem para castigar os bolsos dos portugueses, mas foi incapaz de afrontar os interesses instalados.» [JN]
   
Autor:
 
Fernando Santos.
   
  
     
 Gente corajosa
   
«Cerimónia brevíssima, 15 minutos até o líder do executivo, Pedro Passos Coelho, e os primeiros convidados começarem a atravessar a Sala das Bicas para sair do Palácio de Belém, rapidamente seguidos, em bloco, pelos três novos secretários de Estado, entre os quais Jorge Barreto Xavier, agora com a pasta da Cultura.» [Público]
   
Parecer:
 
Entrar neste governo é mais ou menos a mesma coisa que embarcar num comboio a meio de um descarrilamento ou saltar de para-quedas para um navio em pleno naufrágio. Ainda há gente corajosa neste país.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se aos novos governantes se não querem antes aderir a bombeiros voluntários.»
      
 Começa a ser difícil ser-se deputado gasparista
   
«O semanário "Sol" escreve que o protesto de um grupo de empresários do sector da restauração nas galerias da Assembleia da República, na quarta-feira, é o episódio mais recente da contestação que tem afetado os deputados nas últimas semanas. Mas a contestação já passou a barreira dos insultos e os limites do Parlamento.
  
Um dos casos mais graves aconteceu com Duarte Pacheco, do PSD, à saída da Assembleia da República, no dia em que Vítor Gaspar entregava o Orçamento do Estado. Com centenas de manifestantes a cercarem o Parlamento, o deputado viu o seu carro oficial ser atacado a murro e a pontapé quando tentava sair da garagem.
  
No dia-a-dia, também alguns deputados já começaram a ser contestados e ameaçados. O eurodeputado Paulo Rangel, por exemplo, saiu do seu veículo para auxiliar uma senhora que tinha acabado de chocar com outro condutor e os curiosos que se juntaram à volta, quando o reconheceram, começaram a insultá-lo, tendo sido chamada a polícia para evitar o agravamento da situação.» [DN]
   
Parecer:
 
Quem não quer ser urso que não lhe vista a pele.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Ofereçam-se capacetes aos deputados.»
   
 Negócios desemperelhados...
   
«Fernando Ulrich, do BPI, atirou-se ao BES por causa da privatização da REN e da EDP. Tudo por causa dos protestos de José Maria Ricciardi junto do primeiro-ministro pela escolha sem concurso da Perella para a assessorar a Caixa na privatização da REN e da EDP. Ulrich foi mais longe e disse que quem protesta fica a ganhar. Isto é, o BES ficou com a assessoria do governo nas privatizações da ANA e da TAP.
  
O QUE É A PERELLA A empresa de assessoria foi constituída em 2006 por ex-quadros de topo da Morgan Stanley, da Goldman Sachs e da Merril Lynch. A Perella é uma instituição reputada com base em Londres e Nova Iorque e conta com a assessoria de mais de 280 mil milhões de euros em transacções no sector energético.
  
De acordo com o “Expresso”, tem 28 partners na área da assessoria estratégica – a que está a assessorar o CaixaBI –, entre os quais Paulo Pereira, que trabalhou 20 anos na Morgan Stanley. Fundou a Perella juntamente com duas estrelas da alta finança: Joseph Perella, ex-vice-chairman da Morgan Stanley, e Peter Wein-berg, ex-CEO da Goldman Sachs International. Paulo Pereira assessorou a Sonaecom na oferta pública de aquisição (OPA) sobre a Portugal Telecom. Formado em Economia na Católica e com MBA do INSEAD, foi aluno do social-democrata e ex-líder do departamento europeu do FMI António Borges, consultor do governo para as privatizações, de quem se tornou amigo.» [i]
   
Parecer:
 
Cheira a palha
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se conhecimento à responsável por acabar com a impunidade.»
   
 Portugal no seu melhor
   
«Contudo, porque necessitava de receber tratamento hospitalar, a equipa da Cruz Vermelha meteu-se a caminho. Só que, devido à inclinação do terreno e ao facto de o piso estar molhado, a ambulância "patinava", acabando por ficar retida no local.
   
E foi durante o pedido de ajuda que o mal-entendido se gerou. Assim, em vez de um reboque, acabou sendo deslocado para o local um helicóptero com uma equipa médica.» [JN]
   
Parecer:
 
Um reboque caído do céu!
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»