Vítor Gaspar lá de cima da sua brilhante cabecinha meditou e
concluiu, se não há dinheiro acaba-se com o social, despedem-se os funcionários,
com excepção dos polícias, de alguma tropa e uns quantos magistrados, fica-se
apenas com o estado medieval. Brilhante conclusão que tem apenas um senão, e se
mesmo assim o dinheiro for insuficiente e for necessário um plano C? Acaba-se
com o país, dirá um Gaspar que nessa altura já estar a caminho de Berlim.
O ministro faz as asneiras mas a culpa não é dele, não é dos
seus excessos e da perda da receita fiscal, é dos portugueses, primeiro porque
consumiam demais, agora porque querem Estado Social mas não o querem pagar. O
melhor povo do mundo já não é apenas mais cigarras do que formigas ou um
consumista compulsivo, agora é crava. E a melhor maneira de acabar com esta
mania deste melhor povo do mundo de cravar é acabar com o Estado. Ai o povo
quer médicos e não os quer pagar? Acabam-se os médicos.
É evidente que a culpa não é do brilhante Gaspar, ele é tão
bom, tão bom que é infalível por definição, se aumentou as taxas dos impostos e
o povo fugiu para o paralelo então o ministro vinga-se, não pagam as funções do
Estado, então acabam-se com estas. E acabam para os que pagam e para os que não
pagam, para os que têm e para os que não têm, não se comportaram à altura e o
Gaspar ganhou o direito de lhes dar o merecido tratamento.
A culpa não é da incompetência do ministro, do
desconhecimento do secretário de Estado, da inércia de uma máquina fiscal que
ficou paralisada com reestruturações idiotas e mal conduzidas, a culpa é do
povo que em vez de pagar impostos foge deles. Mais do que cobrar os impostos
que ficaram por cobrar é função do ministro acabar com o Estado Social de forma
a que se possa acabar com a ingrata tarefa de cobrar impostos.
Um quarto da economia está no paralelo e isso representa 40
mil milhões de euros que o fisco deixa de cobrar? O aumento das taxas do IVA não
se traduziu em receita? O aumento brutal do IRS vai empurrar mais empresas para
o paralelo? Remédio santo, acaba-se com a necessidade de financiamento do
Estado Social porque o melhor povo do mundo só quer borlas e de aqui em diante
só paga impostos quem quiser, já que para este governo não é os 25% da economia
paralela que estão mal, são os outros 75%, os gandulos, os consumidores
compulsivos, os funcionários públicos, os pensionistas, essa imensidão de
cigarras gulosas, preguiçosas e borlistas.