quarta-feira, outubro 10, 2012

Portugal à beira da catástrofe


Quem ouve alguns responsáveis arrisca-se a ter um grave problema de identidade e julgar ser uma Alice no País das Maravilhas. Graças às reformas do Álvaro as exportações transformam-nos num novo tigre europeu, os mercados financeiros estão ansiosos em que Portugal venda dívida soberana, o crescimento económico está quase a chegar, os desempregados já podem começar os aquecimentos com um mata bicho. Mas a verdade é outra e aquele que alguns nos pretendem impingir como um caso de sucesso pode estar à beira da catástrofe.
   
Um governo de gente irresponsável tem associado aos pacotes de austeridade a condenação de determinados grupos sociais, atirando portugueses contra portugueses, uma estratégia sinistra que põe em causa a coesão nacional e o conceito de nação, só podendo conduzir ao conflito interno. Umas vezes a culpa é dos pobres que consumiram em excesso, outras é dos malandros dos funcionários públicos a que juntaram os inúteis dos reformados, por fim a culpa foi atribuída aos empresários instalados que por terem os salários em dia rejeitaram o frete da TSU.
   
O défice derrapou dando lugar a um desvio colossal que obrigou a um aumento brutal de impostos cujo único resultado possível é mais um défice colossal, o aumento da dívida soberana, a destruição de empresas e de tecido económico e social. A consequência disto só poderá ser um terceiro programa de austeridade a decidir em meados de 2013 com a promessa de que o crescimento chegará pontualmente com um ano de atraso, no segundo semestre de 2014. A única consequência possível desta situação é o receio da ruína com a consequente corrida às poupanças guardadas nos bancos, de que resultará a falência de um sistema financeiro de bancos geridos por gente oportunista e sem escrúpulos que num passado recente não hesitaram em vigarizar os seus clientes levando-os a comprar as suas próprias acções sem valor.
   
Os jovens quadros e trabalhadores qualificados aproveitam-se da livre circulação na União Europeia e fogem de um governo louco que parece apostado em reintroduzir a escravatura. O país perde os recursos que investiu no ensino, o investimento que os pais fizeram nos filhos, contribuindo para economias ricas que nos emprestam dinheiro a troco de juros dignos de proxenetas.
   
Nenhum empresário no seu pleno juízo investe num país governado por loucos, abandonado por jovens quadros e profissionais qualificados, à beira de um conflito social, com um sistema bancário gerido por xulos e onde num dia se decidem cortar dois vencimentos e uma semana depois opta-se por um aumento brutal de impostos. Nenhum empresário aposta num país onde o ministro das Finanças parece divertir-se a decidir programas de austeridade, produz orçamentos aldrabados, não acerta numa única previsão e parece que está convencido de que responde perante o ministro das Finanças alemão e que a opinião dos portugueses é uma cena que não lhe assiste.
   
Portugal é um país mal governado, à beira de uma grave ruptura política, onde a Constituição da República é ignorada ostensivamente, com um Presidente da República que parece ter menos poderes do que o faroleiro das Ilhas Selvagens, com uma justiça que não augura nada de bom. Portugal é um barco a naufragar, com os seus melhores tripulantes a abandoná-lo e a andar em direcção ao rochedo.