O caso BES tem servido para conhecermos melhor o país e povo que somos e é pena que Ricardo Salgado não conte tudo o que se sabe e que não sobreviva qualquer registo das conversas dos governantes, do Presidente da República e do governador do Banco de Portugal sobre este mesmo caso. O país assiste a decisões sucessivas resultantes de negociatas feitas nos bastidores sem que o poder tenha que responder pois nada se sabe.
Se Ricardo Salgado contasse tudo o que sabe sobre os nossos governantes estaria dando uma ajuda preciosa ao desenvolvimento de um país que se consome em corrupção, oportunismo e incompetência. Mas podem ficar descansados, Ricardo Salgado levará os seus segredos para a cova e o mesmo sucederá com Oliveira e Costa. É por isso que os mesmos que o bajularam, a começar pelo honestíssimo Expresso, podem agora arrasá-los sem receio de qualquer represália, em Portugal somos muito corajosos com os que caíram em desgraça.
O que se passou com Vítor Bento ilustra bem a podridão que domina a nossa comunicação social e uma boa parte dessa alcateia de comentadores e prostitutas do jornalismo que nos “informam” diariamente. Quando Vítor Bento foi escolhido para o BES foi apresentado como um grande economista, um gestor de grandes qualidades um homem que merecia a confiança do governo e de Cavaco Silva, em tempos até chegou a ser apresentado como a primeira escolha de Passos Coelho para ministro das Finanças.
Toda a gente elogiou a escolha, o único ofendido foi Seguro que achou que era abuso escolher alguém do PSD para um banco, o mesmo Seguro que não se sentiu nada incomodado com o facto de o lugar de comissário europeu estar ocupado pelo PSD há cerca de dez anos. Mas Bento foi ao Rato para que Seguro aparecesse nas televisões com ar de primeiro-ministro e o assunto ficou logo resolvido.
Agora que Bento ficou a mais pois alguns bancos se começaram a movimentar para comprar a rede de balcões do BES e a venda começou a ser uma urgência havia que denegrir o homem. Não tiveram a coragem de lhe chamar incompetente para o cargo, limitaram-se a dizer que o seu sucessor era melhor por ser um banqueiro. Só não se entende porque razão não pediram o banqueiro emprestado ao Horta Osório e só depois de começar a ser muito urgente vender o BES.
Agora já se sabe quanto é que Vítor Bento ganha de pensão, uma forma muito subtil de justificar este “despedimento” sem qualquer compensação. É aquilo a que se designa popularmente por uma pensão milionária e a divulgação coube ao diário do costume. De homem sério e competente Vítor Bento passou a incompetente e pensionista rico.
O BES foi à falência, à mesma falência em que se encontra uma boa parte dos valores éticos deste país.