segunda-feira, setembro 29, 2014

Indirectas

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Considerando os critérios de análise de resultados eleitorais da parte da equipa do então líder do PS pode dizer-se que à semelhança dos 30% obtidos nas eleições europeias Seguro voltou a ter uma grande vitória nestas directas pois obteve um resultado semelhante. Se nas europeias Seguro carregou com o memorando de Sócrates, nas directas carregou com a traição de Costa e com o envolvimento de negócios na política (as farmácias do Cordeiro não conta). Se considerarmos os métodos estatísticos do Brilhante e outros econometristas podemos concluir que dentro de alguns anos Seguro estará nos 50%. Seguro não só repetiu uma grandiosa vitória como contra o seu camarada António Costa ainda conseguiu ter mais 0,19% do que tinha tido nas Europeias contra Passos e Portas juntos, é uma injustiça substituir um líder vencedor como Seguro.

As directas do PS são as indirectas das legislativas, os militantes e simpatizantes do PS que escolheram Costa estava a escolher indirectamente o futuro primeiro-ministro. Os mesmos que receavam (receavam ou desejavam?) a destruição do PS vieram dizer que foi um sucesso e transformaram a noite eleitoral de umas eleições internas de um partido da oposição que tinha 30% do eleitorado numa noite eleitoral nacional em que Costa foi apresentado como o futuro primeiro-ministro.
  
Passos Coelho e a direita decidiram colaborar com as directas no PS, desde os erros de matemática do Crato até à santanalopada nos tribunais protagonizada por aquela senhora arrogante, incompetente e insuportável que ainda se arrasta no cargo de ministra da Justiça, tudo fizeram para passara a mensagem aos portugueses, “estão a ver, escolham bem pois com tanta asneira que fazemos estão a escolher o futuro primeiro-ministro”. E como as directas resvalaram para um debate do carácter dos candidatos Passos Coelho não quis ficar para trás e esqueceu-se de com quem andou, de quem lhe pagou e do que andou a fazer, no fundo dizia “estão a ver? Eu ainda sou pior do que aquilo que o Seguro diz do Costa!”.

Agora que Seguro perdeu fala-se muito em unidade e já são evidentes as trocas de campo. É uma boa oportunidade de António Costa homenagear o derrotado Seguro cortando com a tradição dos aparelhos partidários, recusando compensações aos que ontem apoiavam Seguro e antes da meia noite já declaravam que era apoiantes de Costa desde pequeninos, ainda o galo não tinham cantado e já tinham traído Seguro meia dúzia de vezes. Muitos dos que agora se mudam de campo e dizem que estão ao lado de Costa mais não fazem do que dizer ao novo líder "não te esqueças que na hora da derrota eu fui o primeiro a trais Seguro!". Os males de que Seguro falou vai vê-los agora em muitos do que estiveram ao seu lado a denunciar esses mesmos males.

O lado mais saudável destas directas é que pela primeira vez um líder de um partido não chega à liderança do partido através de negócios de bastidores com caciques, líderes tribais e senhores da guerra. Mas quem conhece o PS sabe que este partido tem sempre dois momentos, para chegar ao poder mete-se às cavalitas dos independentes, depois abandona-os e acusa-os de serem os culpados dos seus sucessos. Vamos ver se os muitos portugueses que apoiaram Costa não são esquecidos muito antes das legislativas para que em nome da unidade do partido haja bolo garantido para todos, para os do Costa e para os do Seguro, contando ainda com os do João Soares e até mesmo um biscoito para a "maluca" da Ana Gomes.

Contou o próprio Álvaro Beleza que quando esteve muito doentinho, esteve mesmo naquilo que designou por trincheira da morte, fez um pacto com o Seguro que o visitou no leito de morte pois mal soube onde ele estava fez inversão de marcha e foi desalvorado para o hospital. Ficou ali selado perante Deus que daí a dez anos almoçariam em São Bento. Agora ou vão ao Passos Perdidos ou optam pela cantina do parlamento para cumprir o pacto assinado em tão trágicas circunstâncias. Costa pode ter um momento de generosidade e permitir que Seguro tome posse da residência oficial de São Bento na Terça-feira Gorda para cumpria a promessa nas vestes carnavalescas de primeiro-ministro.
  
Durante uns quantos dias o país vai parar na dúvida, será que a grande opositora de Sócrates, essa Maria da Fonte do PS que se bateu violentamente contra o antigo primeiro-ministro quase chegando a liderar a oposição e que ao lado de Seguro foi uma das vozes mais esganiçadas vai apoiar Costa ou regressará ao discurso rasca que manteve durante as primárias? Enfim, vamos ver se Costa promete um cargozito à Ana Gomes ou se a truculenta (escrevi truculenta e não suculenta s.f.f.) militante volta aos tempos da esganiçada militante do MRPP, papel que costuma assumir sempre que não tem muito que fazer.
  
Agora o país vai arrastar-se até que ocorram eleições legislativas, como a direita não vai querer afastar-se da manjedoura resta ao PS aproveitar o tempo e lançar as directas para a escolha do seu candidato às presidenciais, até porque depois de ter derrubado Sócrates a pior coisa que lhe podia ter caído na sopa era precisamente o António Costa. Quando o PS foi para directas Cavaco não se esqueceu de recordar a Seguro que se lhe tivesse feito a vontade e assinado um acordo com o PS agora estaria no governo, talvez seja a vez de Seguro responder a Cavaco dizendo-lhe que se tivesse convocado eleições antecipadas não corria um sério risco de ter de dar posse a Costa e são conhecidos os problemas de saúde que Cavaco sofre quando assiste à posse dos adversários.
 
Quem ainda nem deu pelas directas do PS, o que é bom pois o homem já não tem idade para grandes choques, é Cavaco Silva, deverá ter estado entusiasmado com o europeu de ténis de mesa que nem se apercebeu de que o PS tinha um novo candidato a primeiro-ministro e, consequentemente, um novo líder. Com os jogos a decorrer até tarde compreende-se que Cavaco ainda tenha tido tempo para redigir a mensagem de louvor ao pessoal do ping-pong, ignorando António Costa. As directas para um candidato à presidência começam a ser urgentes, como as coisas estão ninguém sabe o que dura mais, se o governo de Passos Coelho ou o Cavaco Silva.