Nos últimos três anos todos os males do país ou foram culpa de Sócrates, ou do memorando assinado por Sócrates ou das imposições da Troika. O governo ou actuava com grande competência, o Moedas até foi premiado pelo seu desempenho, ou era vítima das imposições da Troika. E assim foi durante três anos, durante os quais o governo até contou com a complacência de um Seguro que concordava com Passos Coelho quer em relação ao culpado de todos os males, quer na tese de que tudo o que se fazia era uma consequência do memorando.
A Troika partiu e o governo festejou a saída limpa, a economia crescia como nunca se tinha visto, o sistema financeiro estava sólido e pronto para apoiar a economia, a Santinha da Horta Seca anunciava milagres, Cavaco andava babadinho com o desempenho do seu governo, tudo corria às mil maravilhas, era uma saída limpinha e pêras.
Os funcionários públicos já podiam afiar o dente a pensar na recuperação de 20% dos cortes, as famílias numerosas da Opus Dei podiam agradecer a Deus e dar mais uma quecas por conta da reforma do IRS, o Seguro estava firme e hirto na liderança do PS assegurando um precioso abono de família eleitoral à direita. Aquele que governou sob o lema do “que se lixem as eleições” podia agora voltar a pensar em eleições.
Mas de um dia para o outro tudo se virou ao contrário, o malvado do Ricardo Salgado pôs o sistema financeiro de pernas para o ar, as exportações abrandaram, o Tribunal Constitucional insiste em apoiar o governo mas apenas em inconstitucionalidades às prestações e como se tudo isto não bastasse ainda apareceu o António Costa a obrigar Seguro a fazer de conta que é um grande opositor.
Foi a troika partir e o governo só tem feito asneiras., o Crato já nem sabe fazer contas, a ministra da Justiça não encontrou no Guia Michelin as instruções para fazer o upgrade do Citius, até os jornalistas da Cofina se lembraram de que o Passos Coelho tinha andado metido na Tecnoforma, só se esqueceram de dizer que o relvas também pertenciam à empresa.
Sem troika o governo ou faz asneiras ou não sabe a quem atribuir as culpas, já não há troika, não à memorando e até o Cavaco Silva anda a contar umas piadolas novas, como aquela de que não lhe terão dito tudo sobre o BES. Não seria melhor o governo deixar-se de saídas limpas e pedir à troika para regressar remetendo os caos como o BES, o Citius ou os erros de matemática do Crato numa actualização do memorando assinado pelo Sócrates?
Com um governo em decadência, a cair aos bocados, o que dava mesmo jeito era voltar a dar as culpas a Sócrates justificando tudo como sendo imposições da Troika, contando com um Cavaco a mandar calar o país por causa dos mercados e com um Seguro percorrendo o país, liderando o PS e perdendo todos os debates quinzenais com Passos Coelho.