segunda-feira, maio 04, 2015

As alternativas aos políticos

A desorientação dos portugueses e o oportunismo de alguns grupos corporativos tem transformado a chamada “Classe política” no bombo da festa. Os políticos são os culpados de tudo e mais alguma coisa, desta a escassez de recursos ao subdesenvolvimento e não há debate que não deságue sempre na crítica à classe política.

É um facto que na nossa classe política são cada vez mais escassas qualidades como a isenção, a competência, a honestidade ou a dedicação à causa pública. Mas serão os banqueiros mais competentes do que os políticos? A verdade é que uma boa parte dos nossos males mais recentes se devem à gestão corrupta de alguns dos nossos banqueiros, e se avaliarmos o impacto na economia das suas estratégias comerciais chegaremos à conclusão de que terão grandes culpas na situação calamitosa a que chegou a nossa economia. 
  
E o que dizer de algumas vedetas empresariais como os senhores da SONAE ou do Pingo Doce? Enquanto os banqueiros desviaram os recursos para o crédito ao consumo por ser mais rentável do que o financiamento do investimento ou do capital de risco, os nossos grandes empresários apostaram tudo no consumo e os sectores que vimos florescer foram as telecomunicações com as telecomunicações móveis e as redes de cabo, a grande distribuição e os negócios da energia. O investimento no sector industrial foi deixado aos investidores estrangeiros e na agricultura aos pequenos proprietários rurais.
  
Na justiça onde dominam os grupos corporativos que se apresentam como as virgens do sistema assistimos a um atraso medieval e ninguém com juízo se instala em Portugal, um país onde um processo civil pode durar uma década. A justiça portuguesa é medieval e a tortura deu lugar a outros métodos de pressão sobre o cidadão e as empresas. Atrasos, custas judiciais, recursos intermináveis e outros truques levam a que a justiça seja um processo penoso para quem dela precisa ou dela é vítima  são muitas as empresas que evitam os negócios que dependam em grande medida da eficácia da justiça.
  
A verdade é que os políticos não são nem piores nem melhores, nem mais dedicados nem menos dedicados e nem mais honestos ou menos honestos do que nos outros grupos profissionais ou corporativos. Seguindo uma lógica de “mercado” temos os políticos que podemos ter tendo em conta os “maus consumidores” que somos e o pouco que lhes pretendemos pagar, não podemos esperar que para se ter um BMW de luxo se paga uma fortuna e depois temos uma excelente classe política a ganhar pouco mais do que o ordenado mínimo, a trabalhar 15 horas por dia e fins de semana incluídos, com a sua vida devassada e ofendidos no meio da rua por um qualquer jornalista estagiário.
  
O país tem de reflectir profundamente se quer esta democracia e com que políticos deseja que ela funcione pois corremos um sério risco de ver um qualquer alto magistrado a querer ser presidente da república por inerência ou uma associações empresarial defender que devem ser os empresários a designar alguns ministros. Quando uma direita que governou sem qualquer estudo e até para a refundação do Estado pediram aos assessores do FMI que lhe dessem um projecto exigem agora que um estudo de economistas com reputação internacional seja sujeito ao visto prévio de juniores da UTAO ou ao Conselho das Finanças Públicas corremos um sério risco de conduzir o país à ingovernabilidade.
  
Um dia destes teremos de entregar o governo do país aos magistrados do Ministério Públicos, aos reguladores dos mercados, aos técnicos da UTAO ou da CNPD ou, o que talvez seja melhor ideia, às irmãs carmelitas descalças, pois não há ninguém nem honesto, nem competente neste país disposto a ser político, correndo o risco de ser difamado no Sol, ser preso por um qualquer magistrado ambicioso e ganhar pouco mais do que o ordenado mínimo.