segunda-feira, maio 25, 2015

E porque não planos de fomento?

No passado as orientações económica com um horizonte temporal de médio e longo prazo estavam definidas nos planos de fomento. O último plano de fomento foi IV Plano de Fomento, que vigorou entre 1975 e 1979. Com o fim dos planos de fomento a evolução da economia portuguesa ficou dependente de duas forças, a dos mercados e a dos interesses eleitorais. Desde então o desenvolvimento tem andado ao “Deus dará” ainda que de vez em quando surjam alguma moda novas, como sucedeu com os famosos clusters.

Hoje fala-se muito de equilíbrio financeiro e de crescimento económico, todo o debate político se centra nestes dois objetivos económicos de curto prazo, como se o equilíbrio financeiro fosse condição suficiente para corrigir todos os problemas da economia e da sociedade e o crescimento gerasse a riqueza necessárias para promover o bem estar de todos os cidadãos deste país.
  
A verdade é que o equilíbrio financeiro pode significar a ocorrência de menos crises financeiras, mas não garante progresso e o crescimento pode ser alcançado sem que daí resultem grandes resultados para o país. Os benefícios que resultam de um crescimento conseguido com restaurantes e construção civil não tem a mesma qualidade em os menos benefícios que uma mesma taxa de crescimento conseguido com a produção de energia renovável. Não é a mesma coisa exportar meias de algodão produzidas em fábricas que usam mão de obras pouco qualificada, ou exportar o mesmo valor em equipamentos para eólicas, peças de automóvel ou aplicações informáticas.
  
Numa economia ao Deus dará como a nossa nada nos garante que os resultados dos sacrifícios sejam orientados para promover a criação de riqueza que assegure mais e bons empregos em vez de se apostar em sectores sem futuro e que não empregam trabalhadores qualificados. Este governo de liberais da treta não se importa de esfolar os portugueses com o argumento do futuro, mas na hora de questionar as empresas o Flausino que está na Rua da Horta Seca diz que não se mete na gestão das empresas, parece que o seu mandato se limita a vender as empresas públicas por qualquer preço, pouco importando a quem são entregues.
  
O nosso modelo político leva a que os investimentos em infraestruturas seja orientado em função das clientelas políticas, isso leva a que se promova o porto de Sines mas na hora de investir nas linhas de comboio ou de estradas em vez de se servir esse porto estratégico de vias de comunicação moderna, essas vão para onde estão os votos dos nossos pequenos “marcos Antónios”. Daqui resulta a ideia de que deve ser a economia e não a política a orientar a economia, mas isso também nos conduz ao desastre Os portugueses fazem sacrifícios para poupar, colocando as suas poupanças a troco de juros miseráveis na banca portuguesa e o que sucede?
  
Deixemos de lado os desastres feitos com as aplicações das poupanças dos portugueses que estavam ao cuidado do BES. A verdade é que os bancos apostam muito mais no crédito ao consumo onde a recuperação dos créditos é rápida ou onde estes são concedidos com melhores garantias do que na aposta em novas empresas ou novos investimentos. Isto é, uma parte dos portugueses não consomem para poupar e os bancos usam esse dinheiro para ganhar ainda mais à custa dos portugueses que e vez de pouparem preferem gastar o que ganham e ainda recorrem ao crédito para gastar o que esperam ganhar no futuro. Isto significa que a intervenção do nosso sistema financeira não está orientada para a produção de riqueza mas sim para ganharem o mais possível à custa da pouca riqueza que é produzida.

Como assegurar que as decisões dos agentes económicos, consumidores, sistema financeiro e empresas, se orientem para a criação e riqueza, para sectores de maior valor acrescentado, para a criação de empresas ou para investimentos geradores de empregos de qualidade? A resposta a esta pergunta talvez seja bem mais importante do que muitos debates da treta a que estamos insistindo pois o problema de Portugal não está apenas na forma como se gasta a pouca riqueza que se produz, está sim na necessidade imperiosa de criar mais riqueza.