Quando se estuda política económica raramente se contempla nos modelos a circulação de trabalhadores, considera-se que a oferta de trabalho é estática. Normalmente o termo autarcia refere-se apenas às trocas de mercadorias. O mesmo sucede com os debates das medidas de política económica em Portugal, nunca se avaliam as consequências do facto de estarmos num espaço onde há livre circulação de mercadorias, de capitais e de pessoas.
A ignorância é tanta que perante um aumento acentuado da emigração dos trabalhadores, dos mais jovens e de muitos menos jovens, houve mesmo que festejasse e personalidades que agora vertem lágrimas de crocodilo e promovem a realização de conferências onde tentam salvar a sua face ou ficaram aliviadas pelo impacto positivo da emigração nos indicadores relativos ao desemprego e optaram pelo silêncio.
Não foi apenas a recessão e o seu pacto nas empresas que conduziu à emigração, o aumento brutal dos impostos também tornaram o mercado laborar português menos interessantes para todos os que podem encontrar ofertas de empregos em países mais ricos. Esta tendência já era anterior à crise, agravou-se em consequência das opções de política económica de Vítor Gaspar e tenderão a manter-se no futuro. A pretendida desvalorização fiscal imaginada por Vítor Gaspar foi um tiro no pé, esqueceu que com livre circulação de pessoas ninguém é obrigado a trabalhar para uns dos empresários da CIP quando encontra melhores remunerações, menos impostos e condições de trabalho mais simpáticas noutros países.
Não admira que quando se faça um inquérito aos jovens do ensino secundário ou das universidades uma esmagadora maioria responda que pretende trabalhar no estrangeiro, aliás, qualquer português que tenha um filho ainda a estudar nem precisa de conhecer os resultados desses estudos. Portugal está a perder e vai continuar a perder os jovens quadros pois ninguém está disposto a sujeitar-se proletarização miserável imaginada por Passos Coelho e a viver num quadro de incerteza total em matéria de direitos. O governo promoveu o oportunismo social a uma escala nunca vista e as consequências vão ser desastrosas.
A política económica que tem sido seguida assenta em modelos com premissas erradas que assentam em raciocínios desenvolvidos em modelos económicos que não encontram qualquer correspondência com a realidade. Não deixa de ser irónico que aqueles que mais dizem que o mundo mudou ainda pensem em modelos económicos em que se ignora a livre circulação de pessoas. A curto prazo o aumento brutal do IRS pode dar a ilusão de equilíbrio das contas públicas, mas a longo prazo não só será desastroso para as próprias receitas em sede de IRS como destruirá a sustentabilidade da Segurança Social pois os mais qualificados, precisamente os que produzem mais riqueza abandonarão o país.
É incrível como gente com um mínimo de conhecimentos de economia ainda não percebeu que com este modelo assente em falso emprego e no aumento de exportação de produtos de baixo valor acrescentado o país nunca poderá pagar a dívida, não criará empregos de qualidade e de uma crise financeira vai evoluir para uma crise global, com o colapso de todo o Estado Social, mas também da economia no seu todo. Nenhum país sobrevive só com idosos,, muitos dos quais coleccionam pensões, como é o caso dessa personagem que se dá pelo nome de Cavaco Silva.