Passos Coelho tem como estratégia impor ao país a ideia de que há uma ideologia única, a sua, e que toda a política económica decorre dos seus valores ideológicos. É uma ideologia repleta de baboseiras mas que vai de encontro aos interesses dos mais poderosos e que tem servido para uma gigantesca transferência de riqueza dos menos ricos para os mais ricos.
Na defesa dos seus princípios pouco importa o que suceda à classe média portuguesa ou aos gregos, o importante é fazer passar a ideia de que não há qualquer alternativa ao que ele decide. A forma como respondeu aos cenários económicos desenvolvidos pelo grupo de Mário Centeno diz muito sobre a sua estratégia, mal os cenários foram apresentados valeu de tudo para os desvalorizar.
Há muito que a esquerda e o centro deviam ter analisado as políticas de Passos Coelho e avaliado as suas consequências no plano técnico e isso permitiu a Passos e a Portas passar a ideia da falta de alternativa. A iniciativa de António Costa de convidar economistas para adoptarem parâmetros que fundamentem propostas no plano económico foi uma surpresa para um Passos Coelho habituado a piadolas.
Desta vez Passos tinha um problema para enfrentar, justificar a superioridade das suas propostas no plano técnico e para isso teria de se deixar de baboseiras e discutir os problemas de forma séria. A surpresa levou-o à asneira e o maior erro coube a um desorientado Marco António que sugeriu que as propostas do PS passassem pelo crivo de técnicos. É óbvio que a proposta de Marco António era inaceitável na perspectiva de que as propostas políticas não podem ser sujeitas a um visto prévio, mas ao colocar o problema no domínio da avaliação técnica alinha o jogo do PS. Ao tentar chumbar as propostas do PS no plano da avaliação técnica Marco António esqueceu-se de que as políticas seguidas pelo PSD e as suas propostas deveriam ser sujeitas a idêntica avaliação.
Sucede que muitos dos que no plano das baboseiras apoiavam as ideias de Passos quando confrontados no domínio do debate académico sentiram a necessidade de defender os seus pergaminhos universitários e foram um pouco mais sérios. Um bom exemplo disso foras as recentes declarações de Eduardo Catroga. Mas atrás deles quase todos os economistas da direita abordaram de forma equilibrada as propostas do grupo de Mário Centeno.
A verdade é que o Passos Coelho e Paulo Portas recusam-se a ir a jogo e discutir com seriedade e com rigor técnico os problemas económicos do país, Passos Coelho não quer sujeitar as suas ideias ao crivo da avaliação técnica, parecendo discordar da ideia de Marco António de que tudo deve ser sujeito a visto prévio. A prova mais evidente de que Passos e Portas não querem ir a jogo e receiam um chumbo está no facto de Passos não discutir o problema com seriedade, Paulo Portas que coordena a área económica do governo nem aparece e a ministra das Finanças parece não se sentir à altura para discutir problemas de política económica.
A consistência técnica esta gente faz lembrar o diploma de Miguel Relvas, são governantes, dizem saber o que querem mas fogem de uma avaliação técnica como o diabo foge da cruz. Esta era a oportunidade para Passos provar a validade da sua ideologia, de a Maria Luís mostra o muito que sabe de finanças e de Paulo Portas se afirmar como coordenador para a área económica. Tudo têm feito para evitarem o debate sério porque sentem medo de perder esse debate.