PSP no tempo da ditadura
PSP no tempo da democracia
A semana passada o país ficou indignado, duas raparigas devidamente protegidas e apoiadas por mais alguns mafarricos deram 14 tabefes a um jovem que não se defendeu ou que perante a ameaça colectiva achou que era melhor nem se defender. O momento mais alto da violência foi quando uma das jovens agarrou as mãos do rapaz para que a outra desse os tabefes sem este se poder proteger. O país ficou justamente indignado com a agressão, logo no dia seguinte a PSP estava no terreno para identificar os jovens violentos, o ministro tomou posição, só faltou mesmo um comunicado do Ministério Público a informar que estava a acompanhar o assunto.
Neste Domingo o país foi novamente confrontado com uma situação de buylling, mas desta vez em vez de duas jovens estudantes a agredir um colega indefeso, tínhamos um graduado da PSP a agredir toda uma família em plena via pública, aparentemente porque esta família vestia camisolas de um clube de futebol e um pai que leva os filhos a um jogo de futebol deve ser alguém que está entre o gandulo e o marginal numa saída precária, gente que pode levar sem se queixar e de caminho ainda é detida e levada a tribuna, onde um juiz defensor da causa pública devidamente apoiado por um zeloso delegado do Ministério Público o constitui arguido, com termo de identidade e residência.
Estamos perante dois casos de violência gratuita, mas com consequências e responsabilidades diferentes ainda que com muitos aspectos em comum. Tanto na Figueira da Foz como em Guimarães a vítima foi agarrada para aumentar a eficácia da agressão, os agressores evidenciaram prazer no uso da violência, a violência foi gratuita pois não foi a resposta a qualquer gesto agressivo, a violência foi um puro acto de força e de prazer. Mas se na Figueira da Foz foi um caso de adolescentes escondidos das vistas, em Guimarães foi um graduado da PSP, auxiliado por agentes e aos olhos de toa a gentes agrediu fisicamente dois adultos e traumatizou psicologicamente uma criança e um dolescentes.
E qual foi a resposta da sociedade? A ministra ficou calada, o MP deverá ter confirmado a acusação da PSP ao cidadão vítima da violência, a PSP começou por calar e perante a indignação tentou manipular, os políticos evitam o assunto. Uma vergonha colectiva.
Comparando o que se viu nas imagens com o que se diz nos autos fica-se com muitos motivos para se pensar que depois de violentamente agredido o cidadão ainda pode estar a ser alvo de falsas acusações numa tentativa de encobrimento do graduado por parte de uma polícia que ainda não sabe conviver com a democracia. O auto foi rapidamente conhecido numa tentativa desastrada de passar a ideia de que o graduado foi uma vítima. Diz o infeliz documento que “o sujeito continuou com as injúrias, viradas em particular para o subcomissário, ameaçou-o e cuspiu-lhe na cara, adotando um comportamento sempre hostil. O adepto sabia que estava a ser filmado e tentou tirar proveito da situação, acrescenta o relatório, bem como do seu porte físico em relação ao subcomissário para dificultar a sua manietação e detenção”. Enfim, até ficamos a pensar que tal como alguns treinadores ensinam os seus jogadores a simular faltas, também na Escola Superior de Polícia deverá haver uma cadeira para que os futuros graduados aprendam a fazer autos destes.
Mas desta vez a cobardia teve azar e não só a brutalidade policial se abateu sobe alguém com meios para se defender e em relação ao qual a polícia não pode recorrer aos habituais estereótipos do tipo "jovem delinquente das claques", como a acompanhar a vítima estava uma advogada. O truque dos autos em que uma mentira do polícia vale mais do que a verdade de um "suspeito" desta vez não funciona e o país soube que um polícia agrediu e que pode ter elaborado um auto com recurso à mentira, isto é, prestou falsas declarações em auto e confirmou-as perante um juíz.
Mas desta vez a cobardia teve azar e não só a brutalidade policial se abateu sobe alguém com meios para se defender e em relação ao qual a polícia não pode recorrer aos habituais estereótipos do tipo "jovem delinquente das claques", como a acompanhar a vítima estava uma advogada. O truque dos autos em que uma mentira do polícia vale mais do que a verdade de um "suspeito" desta vez não funciona e o país soube que um polícia agrediu e que pode ter elaborado um auto com recurso à mentira, isto é, prestou falsas declarações em auto e confirmou-as perante um juíz.
O problema é que o graduado bateu no cidadão errado e o país desconfia que o criminoso desta vez tinha farda e como se isso não bastasse conta com a protecção dos seus superiores e até do dirigente da sua associação corporativa que se apressou a ir para a comunicação social dizendo que ainda tinha a esperança que aquilo que vimos tenha sido outra coisa. Se calhar foi uma gravação para uma telenovela e ninguém deu por isso, tal foi o realismo da brutalidade.
Poderíamos reflectir um pouco sobre as motivações deste bullying praticado por um graduado da PSP que anda de luvas para não deixar marcas e que usa um bastão de aço quando as suas funções não o justificam. Trata-se de uma forma de bullying social assumido por um polícia que parece não gostar de cidadãos com camisolas de futebol, ou de cidadãos que por gostarem de futebol consideram serem incultos e sem capacidade de se defenderem. O lamentável disto tudo é que ao bullying do polícia segue-se o bullying das instituições policiais, judiciais e políticas que em vez de defenderem o cidadão tendem a defender o agressor, numa postura diametralmente oposta à quem vimos em relação às adolescentes da Figueira da Foz.