sábado, abril 30, 2016

O meu presidente

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Graças a um campeonato onde os ânimos foram acicatados quase diariamente o futebol está dominando a actualidade, até o pobre do Passos Coelho parece que está em câmara ardente desde que veio de Espinho, onde se realizou o congresso onde deixou de ser primeiro-ministro no exílio, a verdade é que ninguém está interessado em saber o que diz o líder do PSD, que na verdade nada diz, ou se é a Maria Luís que o vai suceder, o que importa é o que diz o JJ nas antevisões dos jogos, bem como saber se ele fica ou se vai.
  
O país deixou de estar dividido entre PS e PSD, esquerda e direita, o que divide o país é os que são admiradores do JJ e os que se riem à gargalhada da personagem, os que querem ver o SCP ganhar e os que são do SLB, os comícios e as arruadas podem ficar desertos, o que importa é que o pessoal enche Alvalade e já nem usam lenço, enquanto a Luz enche às sete da tarde de uma sexta-feira onde nem os taxistas se esqueceram de opções mais importantes do que ser contra a UBER, dando entrevistas com a camisola do glorioso.
  
O futebol é uma droga barata e um descarregar de emoções a todos os níveis, a falar de futebol somos todos uns pequenos JJ ou, se tivermos tiques de intelectual, um Octávio ou mesmo um Eduardo. Serve para dizermos uns palavrões e até para ensaiarmos umas sessões de pancadaria sem que daí resulte uma guerra civil. 
  
Mas ultimamente estamos a assistir a um fenómeno que deve preocupar o Marcelo, é que anda por aí muita gente a referir-se ao “meu presidente”. Mas não estão a pensar no Marcelo, referem-se ao Bruno, ao Vieira ao Fiuza e a todos os outros presidentes dos clubes. Quando um deputado do CDS, agora comentador desportivo na CMTV se referiu ao Bruno de Carvalho como o “meu presidente” ia caindo para o aldo. A bebedeira é mesmo colectiva e um dia destes os almoços entre deputados e os presidentes dos grandes clubes na cantina de São Bento ainda acaba em feriado nacional com o Vieira ou o Bruno a dirigirem-se ao país a partir do hemiciclo.
  
A direita conservadora tem um deputado que se refere num programa de televisão a Bruno de Carvalho como o meu presidente? Enfim, já não preciso de ver um porco a andar de bicicleta e apetece-me perguntar se estamos todos parvos ou será só impressão minha.

Umas no cravo e outras na ferradura



 Jumento do dia
    
Constança Urbano de Sousa, ministra da Administração Interna

O que será necessário acontecer para que a ministra da Administração Interna diga aos txistas que Portugal é um país onde há um Estado de direito e que não são apenas as decisões judicias que os podem favorecer que devem ser respeitadas? Começam.-se a multiplicar as agressões de taxistas e fica-se com a sensação que devemos ter receio destes senhores e da aparente impunidade com que agridem quem bem lhes apetece.
 
Será que na sua próxima manifestação os funcionários públicos também podem atravessar a cidade durante todo o dia e em vez de irem a pé podem levar os seus automóveis? O argumento de levar o carro por serem taxistas não pega, senão quando chegasse a vez dos pilotos da TAP ainda teríamos um Boeing 474 a aterrar na Av. da Liberdade.

«Márcia Neves, condutora da Uber, foi vítima da fúria de alguns motoristas de táxi esta sexta-feira à tarde. Em dia de protesto nacional “contra a ilegalidade da Uber”, entre seis e 10 homens esperavam nas traseiras da estação de comboios de Campanhã, no Porto, por veículos de transporte particular que não os táxis. “Tinham caixas de ovos”, conta ao Observador, mas acabaram por partir-lhe o vidro traseiro do carro com uma pedra.

“Eu passei com uma cliente no banco de trás, vi que eles estavam lá e não parei, fui até ao fim da rua. Quando a deixei, começaram a correr na minha direção e a atirarem ovos”, diz Márcia Neves. Um dos homens atirou uma pedra que acabou por lhe partir o vidro traseiro e a condutora apresentou queixa na polícia.» [Observador]

 Liberdade de manifestação

Aquilo que se passou hoje em Lisboa não foi um mero exercício de liberdade de manifestação por meros cidadãos, foi antes uma acção de paralisação de uma cidade por gente que ao primeiro beliscão vai buscar a moca ao carro para bater seja no Uber, seja no cliente que reclame.

Qualquer cidadão pode manifestar-se, convoca a manifestação, escolhe o percurso e fá-lo a pé. Os escriturário deixam a esferográfica em casa, os pilotos de avião estacionam os aviões no hangar, os motoristas do Metro estacionam os comboios. Não se percebe como é que se permite que os taxistas se manifestem confortavelmente sentados num carro e escolhendo um percurso de muitos quilómetros com o único objectivo de fazer a vida negra a toda uma cidade.

Será que na próxima manifestação poderei levar o carro e em vez de descer uma avenida passar o dia a passear em marcha lenta por todas as grandes vias da cidade?

Começa a ser tempo de dizer a esse senhor da Antral que o país não tem medo dele nem das suas alarvidades.

  Azar...

Apesar do espectáculo dado pela direita a propósito do Plano de Estabilidade a DBRS não baixou a notação da dívida portuguesa. Até à próxima avaliação a direita vai voltar a desaparecer pois o seu projecto para o país é uma bancarrota, ficou viciada em bancarrotas e já não sabe chegar ao governo sem crises financeiras nem governar sem a cobertura de uma troika.

      
 E os responsáveis irão ser demitidos?
   
«O secretário de Estado das Finanças Ricardo Mourinho Félix disse esta sexta-feira que "parece difícil de justificar" que empresas públicas ou outras entidades ligadas ao Estado português tenham feito aplicações financeiras em paraísos fiscais.

Conforme o Expresso noticiou, o Bloco de Esquerda questionou o Governo sobre a existência dessas aplicações e, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional, em 2015 o Estado tinha 167 milhões de dólares (148 milhões de euros) aplicados em duas offshores: Jersey (131 milhões de dólares) e Jordânia (17 milhões de dólares).

Esta sexta-feira de manhã, durante um debate sobre banca que versou também os paraísos fiscais, o secretário de Estado foi questionado sobre o assunto mas não tinha dados para responder aos deputados. "Já contactámos entidades sob as quais está cerca uma centena empresas públicas, e não temos até agora informação de que exista alguma aplicação em países que estejam na lista de paraísos fiscais", respondeu Mourinho Félix.» [Expresso]
   
Parecer:
Se é grave um organismo público colocar dinheiro numa offshore muito mais grave é quando se desvia dinheiro de um sistema bancário em crise e com dificuldades em financiar a economia. Esperemos que os os responsáveis sejam demitidos.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Investigue-se e apurem-se responsabilidades com vista a denúncia e demissão dos responsáveis.»
  
 O Passos Coelho de saias
   
«Ministra das Finanças outra vez? ”Não.” Mas, e primeira-ministra? Isso é outra história. Maria Luís Albuquerque, atual vice-presidente do PSD, não exclui, em entrevista ao "Diário de Notícias" esta sexta-feira, a possibilidade de vir a suceder a Pedro Passos Coelho como líder do partido. "Não se deve dizer nunca. Depende muito das circunstâncias. Se me pergunta se tenho vontade ou se tenha essa intenção: não a tenho, mas nestas matérias, afirmações absolutas de nunca parece-me contraproducente", afirma.

A ex-professora de Passos Coelho e ex-ministra das Finanças, numa entrevista onde assume em algumas questões o papel de professora, é muito taxativa quando à atuação do Governo e, em particular, à do seu sucessor na pasta Mário Centeno. O Programa de Estabilidade é "francamente um mau programa", diz; defende a manutenção de Carlos Costa no Banco de Portugal e assegura que a restruturação do Banif pelo anterior Governo era um bom plano.» [Expresso]
   
Parecer:

É óbvio que Passos prepara-se para sair deixando a Maria Luís no lugar, numa tentativa de regressar à primeira oportunidade. Falhado como primeiro-ministro Passos sonha ter todo o poder, o prolbema e que nos próximos dez anos não vai tirar o cata-vento de Belém e a Maria Luís tem a validade de um ovo de galinha.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»

 Fuinha caro!
   
«Uma fuinha é a principal suspeita de ser responsável pela paragem do maior acelerador de partículas. O animal mordeu um cabo de transformador de 66 mil volts do equipamento do CERN, instalado na Suíça. A confirmação foi feita através de um relatório da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear.

O porta-voz do CERN, Arnaud Marsollier, afirmou à New Scientist que poderá demorar alguns dias até que o acelerador de partículas esteja novamente a funcionar. No entanto, os danos não são graves. Marsollier explicou que tinham feito "recentemente colisões de pequena intensidade" e que confirmam que "tudo está a funcionar bem".» [DN]
  

sexta-feira, abril 29, 2016

Combate à evasão ou sacanice fiscal?

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Há uns anos atrás vi uma empregada de limpeza ser obrigada a para o IUC e sucessivas multas relativas a vários anos por uma viatura que tinha mandado para a sucata. O fisco dessa personagem do CDS que era Paulo Núncio, agora advogado na Morais Leitão, foi extremamente zeloso, sabendo que há muito que os portugueses ignoravam a lei e pensavam que só tinham de pagar o IUC em relação aos veículos em circulação, alguém decidiu montar uma armadilha aos portugueses para empolar as receitas em IUC e em multas.
  
Já em relação aos capitais que tinham emigrado para fugir aos impostos o mesmo senhor foi muito simpático a regularizar esses dinheiros fugidos. Isto é, o então secretário de Estado sabia muito bem que estava a obrigar muitos cidadãos a pagar o IUC por carros que tinham sido roubados ou que há muito que estavam na sucata mas foi de um grande rigor, cobrou até ao último tostão. Já em relação aos dinheiros que sabia terem fugido ao pagamento dos impostos foi de uma grande candura e simpatia. E para os que tinham fugido aos impostos sem levar o dinheiro lá para fora foi igualmente simpático e montou um mega perdão de multas e juros.
  
O país viveu quatro anos sob um regime de sacanice fiscal onde os ricos beneficiaram, de vista grossa por parte dos responsáveis pela política fiscal, para os pobres adoptou-se o rigor e cobrou-se até ao último tostão, para os ricos foi só delicadezas e chegou-se ao ponto de recusar o acesso aos tribunais para os menos ricos, subindo para 5000 euros o patamar a partir do qual se corre recorrer das decisões da máquina fiscal para o tribunal. Isto é, o pobre só pode recorrer até ao secretário de Estado, por outras palavras, o pobre come e cala.

Sabe-se agora que nada se conseguiu que os dados do caso Swissleaks não serviram para nada, informa o chefe de gabinete que “A informação constante das fichas apenas incide sobre o período temporal de 2005 e 2006. Importa referir que, relativamente a este período, já se encontra vedado, por caducidade, o direito à liquidação por parte da AT (quatro anos)”. Terei lido bem?

Então para caçar as cabeleireiras, os donos das tascas e os bate-chapas temos o e-fatura, as guias de circulação, milhões de contribuintes a verificar se o corte de cabelo consta nos benefícios fiscais e zelosos funcionários do fisco cruzando bases de dados, espremendo tudo e mais alguma coisa, chamando à repartição todos os contribuintes com direito a benefícios fiscais por serem coxos ou manetas e para os mais ricos diz-se “ai que se escaparam, o prazo caducou!”.
  
Mas só os barbeiros e os bate-chapas é que é gente perigosa? Esse pessoal vip da Swissleaks não teve todos os seus rendimentos e negócios escrutinados, estes contribuintes e os seus parceiros e sócios não deveriam ter uma vigilância apertada? Há aqui qualquer coisa de errado, o barbeiro passa a factura e não a manda no ficheiro xpto para a informática do fisco e é metido na lista de gente perigosa. São apanhados centenas de trafulhas, o fisco não fez nada e agora dizem-nos “ai, não conseguimos fazer nada!”.
  
Só se conseguem cruzar as facturas do barbeiro? Só as cabeleireiras é que são perigosas evasoras fiscais? Só quem se engana na declaração do IRS é que é detectado pela perigosa máquina informática?  

Será que o rigor, as armadilhas, os e-faturas, os cruzamentos de dados, as chamadas às repartições para trazer farturas e provar que se é maneta só se aplica às pequenas e médias empresas, à classe média e aos pobres? Sim, porque quando foram as energéticas a mandar o fisco à bardamerda o então secretário de Estado fez questão de forçar o subdirector-geral do fisco a usar um desses coletes que lhe dava um ar de canalizador e obrigou-o a ir à sede da REN armado em detective Colombo, como se isso assustasse os chineses da REN ou da EDP.


Umas no cravo e outras na ferradura



 Jumento do dia
    
Deputado Montenegro

Uma boa parte das negociações entre o governo de Passos Coelho e a troika foi feita no maior secretismo e muitas alterações do memorando nunca foram tornadas públicas. Nenhum documento aprovado nessas negociações com a troika foi alguma vez posto em discussão ou aprovação no parlamento. É por estas e por outras que o deputado Montenegro perdeu uma boa oportunidade de ficar calado.

«"O que andam os senhores a esconder do Parlamento e dos portugueses? Que cortes é que há nesse plano secreto na área da saúde e na área da educação", perguntou Luís Montenegro - que pela segunda vez consecutiva falou pelo PSD no debate quinzenal, em vez do presidente deste partido, Passos Coelho.

Na resposta, António Costa afirmou que "não há nenhum quadro secreto, não há nenhum documento secreto, há simplesmente um documento de trabalho que foi enviado à Unidade Técnica de Apoio Orçamental da Assembleia da República, ao Conselho de Finanças Públicas e também aos serviços da União Europeia", que colocou à disposição dos deputados.

O primeiro-ministro acrescentou que esse documento "simplesmente discrimina, relativamente aos anos de 2017, 2018 e 2019, o conjunto dos impactos estimados e que constam do Programa de Estabilidade", salientando que não está relacionado com a execução orçamental deste ano.» [Notícias ao Minuto]

      
 Isabel dos Santos "despede" o Ulrich
   
«Os acionistas do BPI chumbaram a alteração dos estatutos do banco que permitiria ao atual presidente executivo manter-se no cargo, para além do atual mandato. Fernando Ulrich já ultrapassou a idade limite fixada nos estatutos, mas a alteração que foi a votos na assembleia geral exigia dois terços do capital representado, o que não foi conseguido.

O presidente executivo do banco desvalorizou este resultado, lembrando que o seu mandato está em curso (falta um terço) e que há tempo para resolver a situação da liderança que só terá de ser substituída daqui a um ano.

Fernando Ulrich recusa a tese de que a alteração dos estatutos tenha sido proposta para a sua manutenção na liderança da comissão executiva, lembrando que há muitas pessoas válidas no mercado com uma idade parecida que podem ter interesse para o banco. Ulrich tem 64 anos e os estatutos do banco limitam a 62 anos a eleição de membros para a comissão executiva.» [Observador]
   
Parecer:

Cá se fazem, cá se pagam.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»
  
 Aconteceu no país que vivia acima das possibilidades
   
«Em apenas cinco anos, de 2010 a 2014, empresas e particulares transferiram de Portugal para offshores localizados em paraísos fiscais 10.200 milhões de euros, de acordo com estatísticas da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) a que o PÚBLICO teve acesso.

Até agora sabia-se apenas quanto tinha sido transferido em 2009 para os centros offshore e os chamados territórios de “tributação privilegiada”, mas desde 2010 que esta informação não era divulgada pelas Finanças, o que deverá agora acontecer. Só em 2011, o ano em que a troika chegou a Portugal, saíram para offshores mais de 4000 milhões de euros.

O número exacto das transferências ao longo dos cinco anos foi de 10.221.802.264 euros. A larga maioria deste montante foi enviado para estes territórios por empresas, um total superior a 9500 milhões de euros, enquanto os restantes 675,5 milhões foram transferidos por pessoas singulares.

Os dados foram compilados pela administração fiscal com base em informação reportada pelos bancos, ao abrigo da Declaração Modelo 38, que obriga as instituições financeiras a enviarem ao fisco, por transmissão electrónica, informação sobre estas transferências feitas por pessoas em nome individual e empresas.» [Público]
   
Parecer:

Enquanto uns eram asfixiados com austeridade curativa, outros escondiam as suas riquezas mesmo sabendo que para eles Portugal é um paraíso fiscal.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Adoptem-se medidas.»

 Fisco nada fez no caso Swissleaks
   
«O fisco português recebeu a lista dos 611 clientes portugueses ou com ligações a Portugal envolvidos nas revelações do caso Swissleaks, uma das investigações recentes do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ). Mas o Ministério das Finanças alega que, neste momento, já pouco pode fazer em relação aos movimentos bancários do HSBC em Genebra, a filial do banco que está no centro deste caso.

As fichas bancárias que chegaram à AT referem-se a 2005 e 2006 e, para actuar em relação a estes anos, a administração fiscal está dependente da informação que o Ministério Público obtiver das autoridades suíças.

Em resposta a uma pergunta colocada pelo Bloco de Esquerda, o ministério das Finanças diz que, apesar de ter alguns dados sobre esses clientes, está de mãos atadas. Primeiro, alega que, não tendo havido a cobrança de impostos, já caducou o direito da administração fiscal liquidar impostos sobre rendimento e capital.

“A informação constante das fichas apenas incide sobre o período temporal de 2005 e 2006. Importa referir que, relativamente a este período, já se encontra vedado, por caducidade, o direito à liquidação por parte da AT (quatro anos)”, lê-se no documento, assinado pelo chefe de gabinete do ministro das Finanças, Mário Centeno, a que o PÚBLICO teve acesso.» [Público]
   
Parecer:

Seria muito interessante se o fisco tornasse público tudo o que fez e o que poderia ter feito.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»
  

quinta-feira, abril 28, 2016

Mariana Mortágua, Líder da oposição

É suposto o governo governar e a oposição procurar discutir as suas decisões apresentando alternativas. Se o critério para definir o que é ser oposição for este teremos de concluir que quem lidera a oposição em Portugal é a Mariana Mortágua. Outro critério poderá ser o da visibilidade pois a comunicação social comportar-se-á como os espectadores de um jogo de ténis, olham alternadamente para o primeiro-ministro e para o líder da oposição, neste caso também não restarão dúvidas de que a Mariana Mortágua é mesmo a líder da oposição, a seguir ao primeiro-ministro e ao Presidente da República é o político (ai que me vão chamar nomes por causa dessa coisa do género) que mais está presente nas primeiras páginas.
  
Passos Coelho andou quase seis meses armado em primeiro-ministro no exílio, no congresso prometeu ser activo e agora parece o “falecido primeiro-ministro”. Homem que estuda Salazar sabe certamente do conselho que certo dia o ditador fez a um jovem político ambicioso, se queres subir na política, sugeriu-lhe, faz de morto. Desde que abandonou a pantominice do primeiro-ministro derrubado por um golpe de estado conduzido pelo capitão Costa, Passos Coelho anda a fazer de morto. Ainda se empertigou com as 35 medidas para financiar as empresas, mas como ninguém lhe prestou grande atenção terá concluído que o melhor era seguir.
  
Passos Coelho adoptou a posse de um monarca, está acima dos assuntos menores e o seu papel limita-se a escolher quem fala no parlamento e por aquilo que se vaio ouvindo fica-se com a impressão que cada um diz o que lhe apetece. Normalmente é o Montenegro a usar a sua cassete cheia de baboseiras e quando se pode mais originalidade varia-se a escolha, se o tema é 25 de Abril ouvimos um discurso horrível da Paula, se é preciso fazer frente ao Centeno escolhe-se essa grande economista de nome Maria Luís.
  
A verdade é que o PSD nada diz que mereça a pena ouvir e fica-se com a impressão de que afastado um segundo resgate e não tendo havido uma alteração da notação da DBRS Passos Coelho aposta numa calamidade natural que provoque uma crise. Até lá vai-se arrastando no cargo, pelo menos até terminar o segundo mandato.
  
Na Presidência da República está o homem com quem o grande estratega decidiu gozar apelidando-o de forma pouco frontal de catavento, no governo a gerigonça parece ter vindo para ficar, em Bruxelas o tema das preocupações deixou de ser a dívida soberana e o défice e discutem-se critérios de avaliação dos mesmos e nem mesmo o ministro das Finanças Alemão aparece a dizer uma das suas alarvidades. 
  
Quem faz as críticas, quem marca a agenda com declarações, quem faz propostas nos mais diversos domínios é quem lidera a oposição e não é Passos Coelho, é a Mariana Mortágua.

Umas no cravo e outras na ferradura



  
 Jumento do dia
    
Eduardo Catroga

Este septuagenário ambicioso, conhecido licenciado promovido a professor catedrático a tempo parcial 0%, é um homem original, negociou o memorando em nome do PSD e não se incomodou com o aumento do IVA sobre a electricidade. Agora que trabalha para os patrões chineses da EDP usa os seus poderes de influência para baixar o IVA e estimular o consumo de electricidade, usando para isso o argumento da descida do preço.

Não seria má ideia se com este argumento os portugueses pudessem ter baixas nos preços dos combustíveis, dos automóveis, das casas e de todos os bens de consumo. Só não se entende o motivo porque foi recebido pelo Presidente da República, ou será que todos os homens que passaram pelo poder e agora estão ao serviço de interesses estrangeiros têm prioridade nas recepções no Palácio de Belém?

Enoja ver um dos mais extremistas defensores da austeridade vir agora sugerir a reversão de uma medida só para que os seus patrões possam aumentar as vendas sem redução de peço e assim obterem mais lucros.

«Em entrevista à Rádio Renascença, o atual chairman da EDP, Eduardo Catroga, afirmou que o Governo devia descer a carga fiscal sobre a eletricidade, sugerindo que o fizesse em vez da descida prometida do IVA da restauração. “Era, talvez, preferível reduzir o IVA na eletricidade do que reduzir o IVA nos restaurantes. São opções políticas. A redução do IVA na eletricidade às famílias beneficia todas as famílias portuguesas. A redução do IVA na restauração beneficia, essencialmente, os donos dos restaurantes, em certos segmentos”, disse, quando questionado sobre os elevados preços praticados pela EDP.

Portugal é precisamente um dos países da União Europeia onde a eletricidade é mais cara, mas Catroga justifica isso com a elevada carga fiscal que é aplicada ao setor. E é nesse sentido que sugere ao Governo que reduza o IVA na eletricidade, para a empresa poder então baixar os preços que cobra aos consumidores.

Segundo Catroga, que falou aos microfones da Renascença no programa “Terça à Noite”, a EDP não está disponível para ceder no défice tarifário, que é um dos objetivos do Governo, que pretende também negociar os juros que estão a ser pagos. “Está na lei e a filosofia é que a EDP não ganha nem perca com isso, em termos de rendimentos e juros. A empresa não quer perder nem quer ganhar com este financiamento, que é um favor que ela faz ao sistema”, disse.» [Observador]

      
 JS quer legalizar a prostituição
   
«A Juventude Socialista (JS) quer trazer para o centro do debate político a legalização da prostituição. O tema ganhou destaque recentemente depois de a França ter aprovado uma proposta de lei que pune quem for apanhado a comprar atos sexuais com multas que chegam aos 3500 euros. Desde março que a JS se tem reunido com várias associações para perceber de que forma o trabalho sexual pode ser reconhecido e legalizado.

Seguindo a recomendação do Parlamento Europeu, a França tornou-se o quinto país da Europa a penalizar os clientes da prostituição. Em Portugal, o Código Penal prevê apenas o crime de lenocínio. Quem fomentar a atividade de prostituição é punido, mas não há penalização para clientes ou prostitutas.» [DN]
   
Parecer:

Quererão criar empregos ou aumentar as receitas fiscais em sede de IRS?
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»
  

quarta-feira, abril 27, 2016

É preciso avaliar o que fizeram a Portugal

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Sucesso das exportações, saía limpa, ajustamento, reformas, recapitalização da banca, aumento do turismo, criação de emprego, emigração, pagamento da dívida ao FMI, foram tantos os sucessos de Portugal em tão pouco tempo que apetece perguntar porque nos sentimos tão mal.
  
Se exportamos tanto e criamos tantos empregos como é que isso é possível sem que tanta riqueza produzida e vendida não se apareça reflectida no crescimento? Se tivemos uma saída tão limpa poraquê razão teremos de andar vários anos a recuperar da caca que foi feita? Se foram feitas tantas reformas em tão pouco tempo, incluindo uma profunda reforma do Estado apoiada num guião que pagámos ao FMI porque se fala tanto de mais reformas?
  
A troika e, em particular, técnicos anónimos e ambiciosos da Comissão e do BCE, usaram Portugal para testar as suas teses académicas, durante quatro ano os portugueses foram ratinhos de laboratório ao serviço da elaboração de teses e de papers, o ridículo da situação foi ver um ministro das Finanças, um economista cinzento campeão de papers, a escrever o prefácio da obra inspiradora da politica económica neo-salazarista que nos foi imposta.
  
A experiência ainda não acabou, parece que agora e a banca portuguesa que está no banco de testes. A dimensão da economia portuguesa é a ideal para realizar este tipo de experiências, se a coisa correr mal não tem grande impacto e há por cá uns políticos ambiciosos dispostos a chegar ao poder a qualquer custo, não hesitando em atribuir a outros as culpas pelos erros alheios. Essa postura traidora ser-lhes-á paga em apoios financeiros e idas a Berlim ou a Frankfurt.

Bancos pequenos em situação difícil, bancos médios com problemas de financiamento e um grande banco público com carências de capital, uma oportunidade única para testar as regras europeias da concorrência e para que os técnicos do BCE façam experiências de falências controladas com os custos suportados pelas próprias cobaias. Acontece com Portugal o que sucede com os condenados à morte na China, no fim da experiência ainda são os portugueses a pagar a bala.
  
É tempo de o país parar e reflectir, de pensar o que se passou realmente, saber qual foi o papel de todos os intervenientes, mortos ou vivos, residindo em Portugal ou trabalhando em Washington, políticos portugueses ou académicos de Harvard, instituições nacionais ou gabinetes escondidos no BCE, na Comissão ou no FMI. 
  
É preciso avaliar o custo e os benefícios do que foi feito, saber o que nos foi imposto e o que foi decidido pelos nossos neo-salazaristas a coberto do estatuto de protectorado, as reformas que foram feitas, as que não foram feitas e as que ficaram por fazer, o papel os governos, de Cavaco Silva e de Durão Barroso no processo político que conduziu ao resgate e, posteriormente, às sucessivas alterações secretas do memorando.

Sem se perceber o que se passou não faz sentido falar em reformas ou em consensos.

Umas no cravo e outras na ferradura



 Jumento do dia
    
Carlos Abreu Amorim, deputado 

Este político que aprendeu os valores de Abril e da social-democracia no PND e que na primeira legislatura deu nas vistas nas sessões de elogio a um livro de Miguel Relvas, é aquilo a que se chama um buldozer e desta vez decidiu atropelar Vítor Constâncio de uma forma original.
 
Este democrata de Abril achou que Vítor Constâncio se devia borrifar nas regras europeias em ser ouvido por sua iniciativa e contra todos os princípios institucionais na comissão parlamentar de inquérito do BANIF. Isto é, os princípios de relacionamento entre o BCE e as instituições nacionais e europeias teriam uma excepção em nome do 25 de Abril. Nada mau para um doutorado em direito e professor universitário, muito mau para os alunos que aprendem as alarvidades deste senhor.
 
Resta-nos a esperança que quando alguém do PSD seja chamado por qualquer motivo a uma comissão parlamentar e o PSD esteja contra, o deputado vindo das quase extrema-direita não se esqueça dos agora muito apreciados valores do 25 de Abril.

«O deputado Carlos Abreu Amorim (PSD) condenou hoje a "atitude arrogante e de alguma soberba" de Vítor Constâncio, vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), exigindo que o responsável preste depoimento na comissão de inquérito parlamentar ao Banif.

"O PSD insiste na necessidade de esta comissão parlamentar de inquérito ouvir o Dr. Vítor Constâncio. Não nos conformamos com a sua recusa e faremos todos os esforços para que venha presencialmente a esta comissão ou então que o faça através de videoconferência", afirmou o coordenador do grupo parlamentar do PSD neste órgão parlamentar.

"É no parlamento português que o Dr. Vítor Constâncio tem que dar explicações sobre o seu papel no Banif. Ainda ontem comemorámos o 25 de Abril e é em homenagem ao 25 de Abril e à democracia parlamentar que o Dr. Vítor Constâncio tem que dar explicações ao parlamento", reforçou Abreu Amorim, à margem dos trabalhos da comissão de inquérito.» [DN]

 Maldita DBRS!

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A DBRS é a agência de notação mais consultada por um Observador, jornal oficial da direita democrática e salazarista (politicamente democrática e economicamente salazarista), não perde as notações desta agência, promovendo entrevistas aos seus responsáveis na esperança de uma notação de lixo que dê esperanças a Passos Coelho de um novo resgate que lhe permita regressar ao poder para governar à margem de quaisquer limites constitucionais.

      
 Em defesa de até farsolas dizerem: "Intolerável!"
   
«Houve jornalistas que acharam intolerável que um primeiro-ministro lhes telefonasse, dizendo: "Eh pá, que bosta foi essa que escreveste?!" Como se dois tipos que se tratam por tu não pudessem chicotear-se com palavras. Houve cronistas que acharam intolerável que um ministro lhes prometesse um par de bofetadas. Como se citar Fialho deixasse marcas nas bochechas. Houve um ex-primeiro-ministro que achou intolerável que o primeiro-ministro, correligionário, não se suicidasse por ele (o ex) ter feito hara-kiri. Como se a osmose partidária obrigasse a lealdades estúpidas. Houve um jornal que achou intolerável que um ex-primeiro-ministro não se calasse. Como se um político, mesmo ex, perdesse, por alegadas verbas mal paradas, o verbo. Houve um ex-primeiro-ministro que achou intolerável que outro ex-primeiro-ministro fosse mandado calar por um jornal. Como se os editoriais opinando, até sobre gargarejos, não fossem tão legítimos como um ex-primeiro farsolas que só acha intolerável para passar por tolerante. E depois, acho eu, tudo isto é tolerável. É opinião, senhores! Um dia, Luiz Pacheco entrou num café escuro de Caldas da Rainha e viu Vergílio Ferreira numa mesa, às gargalhadas. Nesse tempo não havia telemóveis nem Twitter e não deu para filmar e postar aquela surpresa. Pacheco, porém, escreveu um texto sobre o intolerável que era o amargo, e afinal hipócrita, Vergílio Ferreira a rir. O intolerável seria termos perdido esse maravilhoso texto de má-fé.» [DN]
   
Autor:

Ferreira Fernandes.
  

terça-feira, abril 26, 2016

Neo-salazarismo

Ao longo dos anos a direita mais conservadora e ressabiada tem vindo a passar uma imagem do salazarismo muito diferente daquilo que o país conheceu, dá-se a ideia de que o regime era apenas uma ditadura macia que apenas perseguia os comunistas, não incomodando todos os que não se metessem na política. Por outro lado, era um regime desenvolvimentista, avesso a corrupção e apostado em proporcionar melhores condições de vida aos portugueses, ao mesmo tempo que assegurava o enriquecimento do tesouro. No centro deste regime estava a candura de um ditador, exemplo de virtudes como o nacionalismo, a poupança, a honestidade e a devoção à causa pública.

Mas o regime foi muito mais do que uma ditadura simpática, não só foi uma ditadura violenta como todas as ditaduras da sua época, como o ditador não era esse avozinho simpático que exagerava na forma como perseguia os seus adversários.

A ditadura deixou um país miserável, com estradas para carroças puxadas por animais onde mal passavam dois carros, um mundo rural onde estava a maior parte da população activa mas onde não existiam qualificações e as povoações não sabiam o que era electricidade, água canalizada ou esgotos. Era um país sem mão-de-obra qualificada, que se financiava com as remessas de uma emigração miserável que vivia em bidonvilles.

A ditadura era tudo menos honesta, o dinheiro por fora era uma instituição a todos os níveis da sociedade e muitos salários no Estado eram estabelecidos contando com o que se ganhava por fora. É falsa a ideia de que a corrupção é um atributo da democracia, esta herdou um país onde a corrupção estava instalada. Sectores inteiros da economia eram entregues a homens do regime que se apoiavam nos serviços da polícia política para manter os trabalhadores num regime de escravatura, como sucedia nas pescas.

É igualmente falsa a ideia do desenvolvimentismo como ainda há poucos dias vi João Salgueiro elogiar a propósito do desenvolvimento do turismo em resultado dos planos de fomento. O modelo de desenvolvimento assentou numa trasfega de rendimento dos mais pobres para os mais ricos, sendo essa forma fácil de enriquecimento que financiava o capital a custos reduzidos.

O governo de Passos Coelho mais do que uma corruptela do liberalismo foi um governo neo-salazarista no sentido em que não só se apoiou nos valores do regime como a coberto de um excesso de troikismo tentou implementar em pleno século XXI e durante uma legislatura a trasfega de rendimentos com que o regime estimulava a criação de grupos empresariais poderosos.


Umas no cravo e outras na ferradura



  
 Jumento do dia
    
Paula Teixeira da Cruz, ministra da Justiça no exílio

Foi quase deprimente ouvir o discurso de Paula Teixeira da Cruz nas comemorações do dia 25 de Abril no parlamento, um discurso mal lido, sem qualidade e carregado de ressabiamentos.

«O PSD e o CDS insurgiram-se na cerimónia do 25 de abril contra o caminho que consideram errado que a governação do PS está a seguir, e a deputada social-democrata Paula Teixeira da Cruz acusou mesmo a maioria parlamentar de esquerda de intolerância, “discurso pueril” e “demagógico”.

“Combatamos os demagogos, os moralistas, os radicalismos de qualquer espécie, os detentores da verdade, os deslumbrados com o poder, os extremismos”, afirmou a ex-ministra da Justiça. “Há falta de transparência na vida pública. A concertação social foi substituída por um acordo a três [partidos] na penumbra. Há falta de transparência no processo político e de escrutínio nesta Assembleia [da República]”, afirmou.

Teixeira da Cruz considerou ainda “chocante“ o “regresso de um tipo de discurso pueril e histriónico, com uma lógica infantilizante e simplista de que é exemplo a ideia de que as políticas de absoluta necessidade e salvação adotadas para resgatar Portugal da situação de pré-falência a que chegou em 2011 visariam o empobrecimento do país, enquanto as políticas do atual Governo permitiriam, num golpe de mágica, resolver em duas penadas todos os problemas”.» [Expresso]

 Regresso à normalidade

O país respirou melhor neste 25 de Abril, os cravos ao peito por parte de quem os usou nas tribunas eram sinceros, o discurso presidencial foi cristalino, sem mensagens subliminares, sem frases dúbias, sem ameaças, sem o habitual "eu disse", sem a repetição do "eu" até á exaustão. Portugal voltou a ter um Presidente que se revê em Abril sem complexo, sem condições, sem alergia a flores.

aos pouco o país começa a respirar normalidade, o Presidente não conspira, os seus assessores não se reunem às escondidas com jornalistas combinando golpes, os amigos não são recebidos para à saída fazerem discursos contra um governo legítimo. Aos poucos os portugueses vão saindo do pesadelo das ameaças constantes, dos orçamentos com normas inconstitucionais, de adjectivos como "piegas", de incertezas sobre se iriam receber o vencimento ou a pensão.

Não admira que à direita se sinta a raiva, raiva porque os portugueses descobriram que muitas das ameaças eram mentiras e que viveram num ambiente de excepção graças a ameaças combinadas com a troika e com o apoio implícito de um presidente pequenino.

      
 Salgueiro Maia vai ser condecorado
   
«O Presidente da República anunciou hoje, em Santarém, que vai condecorar Fernando Salgueiro Maia com a Ordem do Infante D. Henrique no próximo dia 01 de julho, quando o "capitão de Abril" faria 72 anos.

Marcelo Rebelo de Sousa prestou hoje homenagem a Salgueiro Maia na sua "terra adotiva" e de onde, na madrugada de 25 de abril de 1974, partiu da Escola Prática de Cavalaria à frente de uma coluna militar que teve papel fulcral no derrube do regime do Estado Novo.» [DN]
   
Parecer:

Numa das mais dignas comemorações do 25 de Abril desde há muitos anos o anúncio de uma justíssima condecoração de Salgueiro Maia foi a cereja em cima do bolo.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aprove-se.»

segunda-feira, abril 25, 2016

O cravo

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Alguma direita encara o cravo enquanto símbolo do 25 de Abril como um símbolo da esquerda, daí a forma desengonçada como os sucessivos dirigentes dos partidos da direita o encaram, em particular, aqueles que chegam a Presidente da República. Cavaco nunca o usou, Marcelo exibe-o na mão e as fontes de Belém justificam a sua não colocação na lapela por ser um político do centro. Temos, portanto, que a estupidez nacional leva a que se use na lapela quando se é de esquerda, se leve na mão quando se é do centro e não se use quando se é de direita.
  
O facto de o cravo ser op símbolo da revolução deve-se ao facto de ser uma flor da época. No tempo da revolução não havia grandes estufas de flores e a flor mais vendida eram cravos e estes ou eram vermelhos, os mais frequentes, ou brancos, as modificações genéticas vieram mais tarde. Alguém se lembrou de colocar um cravo numa G3 e por uma feliz coincidência do destino um fotógrafo aproveitou para fazer uma bela imagem a preto e branco. Quem colocou o cravo na G3 não estava a fazê-lo por o cravo ser vermelho, era simplesmente uma flor que brotava de uma arma de onde seria de esperar que brotassem balas.
  
Portanto, nem o cravo é um símbolo da esquerda, nem o vermelho dessa flor era uma opção ideológica, alguém teve um geso que se tornou símbolo de uma revolução pacífica, uma revolução que teve mas não fez vítimas. O cravo foi um símbolo de uma tolerância que se tornou a imagem da evolução e nesse sentido a direita devia ter menos complexos em relação a essa pobre flor, foi graças a esse gesto que a revolução de Abril se tornou numa imagem mundial de tolerância com os vencidos. 
  
A direita devia ter com os cravos uma relação de simpatia pois essa flor simboliza a tolerância com que foram tratados muitos responsáveis do antigo regime. Alguns fugiram para o Brasil, mas isso resultou mais da sua má consciência do que do facto de terem motivos para recear pela sua vida. A revolução limitou-se a restituir a liberdade aos que não a tinham, não condenou os dirigentes de organizações como a Legião portuguesa ou a ANP, nem mesmo os inspectores da PIDE/GGS forma severamente punidos. Muitos deles acabaram por se reintegrar na sociedade e um deles até recebeu uma pensão concedida por um presidente que a recusou a Salgueiro Maia.
  
Não sou um defensor da bondade dessa tolerância, se os que escravizaram os trabalhadores, os que espoliaram os recursos do país protegidos pelo regime, os que mantiveram os lucros da colónias à custa de mortos e feridos numa guerra idiota, os que torturaram, mataram ou ajudaram a manter a repressão tivessem sido denunciados e condenados, talvez agora não andassem por aí dando lições de democracia ou a armar-se em vítimas da revolução.
  
Mais do que um símbolo da esquerda os cravos do 25 de Abril são um símbolo da tolerância com que foi tratada a direita do antigo regime. Mas a inteligência não abunda e os que deviam estar gratos a tudo o cravo vermelho representa, acabam por ser os que mais o odeiam. Enfim, "bem aventurados sejam os pobres de espírito, deles é o reino dos Céus".

Umas no cravo e outras na ferradura



   Foto Jumento


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O cabo Pinheiro retira os santos da capela das instalações da PIDE, no Porto

(Fotografia de A. Moura)

Comentário da idosa "Mas que malandros! Torturavam as pessoas e depois iam rezar à Nossa Senhora". Sempre foi assim a nossa direita mais conservadora, cobarde e muito temente a Deus.
  
 Jumento do dia
    
Jorge Jesus, treinador da bola

Ao justificar o que vai ganhar com o apuramento para a Liga dos Campeões Jorge Jesus parece esquecer que também perdeu o acesso à mesma Liga ao ser eliminado na pré-eliminatória. Esquece igualmente que não é a primeira vez que o SCP vai à Champions e com um treinador que ganhava muito menos e que não contou com investimentos no plantel. Recorde-se que isso sucedeu em 2015, ano em que JJ foi considerado pelo SCP o melhor treinador do ano em todas as modalidades do clube.
 
Enfim, esperemos que o SCP saiba mostrar a gratidão ao treinador e mande erigir uma estátua de JJ na entrada principal do Estádio de Alvalade. Enfim, presunção e água benta cada um toma a que quer.

«Jorge Jesus surpreendeu depois de o Sporting ter garantido o acesso direto à fase de grupos da Liga dos Campeões, com uma vitória sobre o União da Madeira, por 2-0, na 31.ª jornada da I Liga.

O treinador português, que ganha cinco milhões e quatro euros brutos por época em Alvalade, diz que a qualificação para a Liga milionária permite ficar "à sombra da bananeira".

"Em oito meses já paguei o meu contrato de três anos. O apuramento da Champions dá para estar quatro anos à sombra da bananeira", disse o técnico.» [DN]

      
 Ambiente quente no MRPP
   
«O líder do MRPP, Arnaldo Matos, acusou este sábado o antigo militante Garcia Pereira de estar por trás dos atos de vandalismo registados na sede do partido, na avenida do Brasil, em Lisboa.

Na noite de 17 para 18 de abril alguém pintou com spray as frases “ARNALDO MATOS GRANDE AMIGO DO DAESH” e “SEDE DO DAESH”. A acusação surge no jornal online “Luta Popular”, órgão central do MRPP. Em dezembro, Arnaldo Matos, também conhecido como “o grande educador da classe operária”, disse que os atentados de Paris foram “ato legítimo de guerra”.

Tive oportunidade de explicar ao membro do Comité Central com quem imediatamente discuti o assunto, o Dr. Carlos Paisana, que se tratava de uma campanha provocatória conduzida pelo grupelho liquidacionista Franco/Pereira, agora afastado do Partido e já ligado às atividades da Nova Pide, com vista a ilegalizar o Partido dos comunistas, apresentando-o como um partido terrorista ou amigo de terroristas”, escreveu Arnaldo Matos.

O “grupelho liquidacionista Franco/Pereira” é uma clara referência a Conceição Franco e a Garcia Pereira, que até novembro eram dois dos quatro membros do Comité Permanente do Comité Central do MRPP. Nessa altura, demitiram-se.» [Observador]
   
Parecer:

Esta do MRPP designar Garcia Pereira por grupelho é para rir!
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»
  
 Há uma guerrilha urbana em Lisboa
   
«Desde o início do ano passado, foram reportados às autoridades pelo menos 71 casos de agressões a condutores que trabalham com a multinacional norte-americana Uber em Lisboa e no Porto, as duas cidades onde a empresa opera em Portugal. A maior parte terá sido cometida por taxistas, uma classe que, nesta segunda-feira, arranca com uma semana de luta contra a actividade da Uber em Portugal e contra o Governo que dizem “nada fazer para travar” a plataforma “ilegal” e “criminosa”.

O ano passado a PSP contabilizou em Lisboa 22 denúncias “por ameaças e agressões a condutores e danos” nas viaturas disponíveis através da plataforma digital, a que acrescem mais seis casos ocorridos até final de Fevereiro passado. No Porto, a PSP só conseguiu recolher dados entre o início do ano e a passada sexta-feira. Nesse período, foram registados 11 casos de danos em viaturas, duas agressões e uma ameaça.» [Público]
   
Parecer:

Os taxistas ainda não perceberam que são vítimas deles próprios e o ambiente xunga desta guerra vai conduzir à morte ainda mais rápida de um mau sector empresarial nos transportes.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se para ver.»

 Estranha forma de limpar a honra
   
«A Igreja Paroquial de S. Lázaro, em Braga, está apinhada. Ao centro, o corpo de Diogo Macedo, 22 anos, está pronto para as cerimónias fúnebres. Uma hemorragia cerebral, sem mais, matara-o, pensava-se. A mãe, Maria, convidou a Tuna Académica da Universidade Lusíada de Famalicão, onde o filho pandeireta foi praxado horas antes de entrar em coma. Pediu-lhes que tocassem a sua música favorita. Teu nome ao luar ecoava na igreja quando um oficial de justiça e a polícia irrompem com uma ordem judicial. Levam o corpo para autópsia. Levanta-se a suspeita sobre a tuna e, nessa terça-feira de Outubro de 2001, o templo fica tomado por uma dúvida: teria a tuna matado Diogo?

A pergunta teve resposta oito anos depois. Sim, na noite de 7 de Outubro de 2001, Diogo morreu devido a agressões infligidas numa praxe da tuna, concluiu um juiz que, num processo cível no Tribunal de Famalicão, condenou a universidade a pagar à mãe 90 mil euros de indemnização. Em 2013, o Supremo confirmou a sentença: a universidade deveria ter controlado e evitado as praxes violentas no seu campus. Mas os culpados directos nunca foram julgados. Por falta de provas, o processo-crime acabou arquivado. Três anos de investigação sucumbiram a um muro de silêncio imposto na tuna.

(...)

Na queixa, Olavo Almeida, tuno agora com 39 anos, lembra que o processo-crime foi arquivado e que a sua mãe lhe pediu dias antes de morrer, em Janeiro deste ano, “para limpar o seu nome e o da sua família das acusações caluniosas e infames proferidas” por Maria de Fátima Macedo. Queixa-se do “sofrimento”, do “nervosismo, humilhação, grandes incómodos e amarguras doridas”. Lembra ainda que tem um filho de três anos que quando “começar a aceder à Internet” será “surpreendido com tão gravosas [notícias] e nefastas referências ao seu pai”. O seu advogado, Eduardo Magalhães, não falou ao PÚBLICO.» [Público]
   
Parecer:

Neste caso a única forma de limpar a honra de todos os membros da tuna suspeira de ser assassina era denunciando os criminosos em vez de os encobrir.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Vomite-se.»

 Síria: EUA compram terras aos curdos para construir base aérea
   
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«Hundreds of acres of land near the Turkish border and southeastern Syrian city of Kobane have been sold to the US military by the Democratic Union Party (PYD) for a second airbase in the city.
According to local sources, as the city is controlled by the People's Protection Units (YPG) terrorist group, an armed wing of the PYD, the US military bought the 300-acre area for one-third of real value of the land.» [YeniSafak]
  

domingo, abril 24, 2016

Imagino que estejam na praia

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Flamingos voando nas salinas de Castro Marim

Ontem viajava do Algarve para Lisboa e em sentido contrário era uma verdadeira migração, pareciam a cena inicial do filme “A Idade do Gelo”, fugiam desarvorados do frio do norte em direcção às praias do Sul. Imagino-os a besuntarem-se em cremes com receio do escaldão, apesar do sol ser mais primaveril do de Verão. Comportamento estranho para alguém como eu, que nascido e criado junto às parias mais quentes do país sempre ouvi que este ainda não era tempo de praia.
  
Mas um corpo às riscas está na moda e pouco importa que a água do mar esteja fria, na próxima terça o nariz queimado será apresentado no emprego ou na escola como troféu de caça e um verdadeiro símbolo de riqueza, um pouco como era há uns tempos atrás ter uma offshore ou ser amigo do Ricardo Salgado. A cidade ficou vazia e se em condições normais Monsanto está às moscas, nestes dias ainda está mais.
  
Um estranho mundo o destes dias que vivemos, na minha terra onde uma alimentação à base de peixe e o muito andar a pé ou de bicicleta fazia as pessoas magras, vejo agora muitas jovens com níveis de obesidade já a roçar a obesidade mórbida, algo que nunca vi durante toda a minha juventude. Se o nível cultural dos estudantes do secundário é o mesmo que o dos se sentavam na mesa ao lado, na esplanada pergunto-me para quem investir no ensino. Algo está errado naquilo a que chamamos progresso. É um progresso que leva ao desemprego e à urgência hospitalar, um progresso que gera despesa sustentada.

Percorro a praias, os pinhais e o parque do Sapal de Castro Marim (tal como Alcoutim, antigo couto de homiziados) e Vila Real de Santo António e cruzo-me com muitas dezenas de idosos estrangeiros, gente com mais de sessenta e de setenta anos, a fazer caminhadas ou longos passeios a pé, com interesse pela natura e exibindo uma boa forma física. Os nossos idosos preferem ler o CM dos cafés ou ver os programas de gente distinta e bonita como os Gouchas e as Fátimas Lopes, enquanto se intoxicam em Calcitrim, controcem-se com as dores nos ossos ou gastam uma boa parte das parcas pensões no jogo ilegal com que as nossas estações d televisão, incluindo a pública, enriquecem os seus funcionários mais vistosos e ajeitam as receitas da publicidade, em queda depois da crise.
  
Será que os défices só podem ser combatidos com cortes na despesa ou que o desenvolvimento económico resulta de medidas de política económica, seja ela de estímulos ao consumo ou de promoção da escravatura, como preferia o governo de Passos Coelho? 
  
Mas enfim, receio que nada disto preocupe os portugueses que a esta hora estarão dando voltas em cima da toalha, para se queimarem do outro lado, como se fossem sardinhas, esse cheiro e consumo era no passado sinal de pobreza, mas que nos próximos dias não faltarão os que no emprego farão inveja aos amigos, assegurando que já as comeram gordas. Enfim, não tão gordas como muitas jovens da minha terra, mas tão gordas como  a nossa ignorância colectiva está a ficar.