A propósito das medidas para estimular as empresas estou tentado a dizer que já só falta recorrer às sugestões presentes nas insinuações feitas por Rui Moreira, presidente da CM do Porto, a propósito da criação de uma linha aérea entre Lisboa e Vigo. Aliás, a insinuação até tem algum fundamento e até teriam menos custos do que uma boa parte das medidas que têm sido adoptadas.
Em nome da competitividade das empresas já pouco resta a sugerir e a crer numa boa parte das medidas adoptadas pelo governo de Passos Coelho a solução passa pela reintrodução da escravatura. Se os cortes de ordenados, os feriados à borla, a eliminação dos direitos laborais não chegaram para que as nossas empresas sejam competitiva, não admiraria que alguém se lembrasse de uma solução mais drástica. Aliás, basta verificar as propostas de emprego no site do Instituto de Emprego e Formação Profissional para se perceber que a escravatura só não e solução porque ficaria mais dispendiosa aos patrões.
Mas agora que o líder da direita mais radical percebeu, finalmente, que esta mesmo na oposição, um sinal de estupidez onde muitos elogiaram a lucidez, estava à espera deste upgrade temporário de Passos Coelho, agora convertido aos valores da social-democracia, ceguei mesmo a imaginar que depois de se ter dito arrependido das maldades que poderá ter feito, viria manifestar preocupações sociais. Mas não, as suas preocupações continuam a ser as empresas.
E foi a pensar nas empresas que apresentou mais de trinta medidas muito criativas. Compreende-se a criatividade, depois de as empresas terem recebido todos os estímulos começa a ser necessário recorrer à imaginação para inventar soluções.
Há subsídios para tudo e mais alguma coisa, há programas vantajosos para empregar trabalhadores qualificados, há benefícios fiscais que quase eliminam as receitas fiscais pagas pelas empresas, há tribunais que não funcionam, há a possiblidade ilimitada de recorrer ao assédio laboral em total impunidade (como se tem assistido no caso Carrillo), há planos fiscais favoráveis, promovem-se feiras, enchem-se aviões de empresários nas visitas de Estado. Que mais falta?
Talvez não fosse má ideia se antes de se darem benesses se procedesse ao estudo das causas da competitividade. Porque se a causa da falta de competitividade e o desvio do capital para negócios nas off-shore, a má estão, os erros de decisão estratégica, a preguiça tecnológica, a sobrecarga das empresas comas despesas familiares dos donos e muitas outras situações que levam as nossas empresas à falência, a solução não passa por tirar aos que trabalham para dar às empresas, sem a olhar a quem se dá ou a quem vai usar bem os recursos adicionais que recebem. Dar sem critério e sem olhar a quem não é solução.