Nos meus tempos de Económicas andava por lá uma praga que a toda a hora invadia as aulas para distribuir papelada, eram os trotskistas. A raparigas tratavam cada pelinho que lhes crescia na pele como um símbolo precioso da sua fidelidade ideológica à classe operária e não só o declaravam como espécie protegida, como ainda o regavam na esperança se a sua firmeza combativa se tornar mais evidente. Elas até tinham aquele ar de cruzamento entre os neandertais e as meninas da Av. De Roma.
Nesse tempo os trotskistas eram os grupelhos no meio dos grupelhos, na moda estava a UDP, que se tinha destacado no meio da miríade de grupos marxistas, leninistas, estalinistas, grupos que odiavam tanto os trokistas como na nossa tradição os cães odeiam os gatos. Os trotskistas eram marginais, enquanto a UDP já era um grupo à séria, até conseguia fazer eleger um deputado, começou por ser o famoso Acácio Barreiros, mais tarde veio o Major Tomé, um herói da Polícia Militar.
A forma dos nossos trotskistas conseguirem mais mercado eleitoral foi apostando em causas ditas marginais, como o direitos dos homossexuais, hoje igualdade do género. Eram mais uma linha que dividia marxistas-leninistas de trotskistas, os primeiros consideravam a homossexualidade uma degenerescência resultante da perversão da burguesia e só começou a mudar de posição quando a LCI começou a emergir como força eleitoral, fazendo desaparecer os outros grupos adoradores do Leon, o velhinho simpático que os nossos amigos apresentam como uma espécie de o avô dos pudins Boca Doce quando comparado com Estaline, ocultam que o velhinho simpático foi o chefe do exército vermelho e no sue currículo tem a morte de muitos milhares de russos, com destaque para a chacina dos marinheiros da Revolta de Kronstadt, uma tentativa dos marinheiros que tinham apoiado a revolução de realização de eleições democráticas como Lenine tinha prometido.
Depois de todas estas trapalhadas eis que as meninas já estão à beira de se candidatarem a anjos da Victoria´s Secret e o atrasadinho sou eu. Defendi sempre o direito à igualdade de todos os que a sociedade tem marginalizado, independentemente disso resultar, de raças, culturas, religiões, etnias, géneros ou do que quer que seja. Mas eis que de um momento para o outro tenho de me envergonhar porque a palavra cidadão é símbolo de macho, a partir de agora tenho de pedir desculpa a todos sempre que invocar o meu estatuto de cidadão, porque estou a discriminar as mulheres e os homossexuais.
Isto começa a roçar o ridículo e ainda se vão lembrar de propor um acordo ortográfico para eliminar todas as palavras que possam ser entendidas como uma forma de discriminação. Enfim, até aqui estive sempre do lado dos direitos da com unidade gay, agora começo a sentir que também terei de pedir desculpa por ser de um género diferente do deles e ainda terei de ter cuidado não vá alguma comissão da igualdade queixar-se de mima ao Ministério público.