terça-feira, novembro 08, 2011

Batanetada orçamental

Passos Coelho mandou o país fazer silêncio porque ia falar e este ficou atarantado com a pinochetada orçamental para 2012, Passos Coelho fez do Gaspar um Salazar dos nossos dias e o ministro das Finanças deu-lhe a receita para resolver a crise financeira em dois anos, o mesmo que foi feito quando Oliveira Salazar chegou a ministro das Finanças.

Escolheu-se um grupo social cujos votos alguém anónimo do governo disse serem desprezíveis, cortaram-se os subsídios ignorando todos os valores, princípios e limites constitucionais, instituíram-se três horas de trabalho à borla para os patrões e ala que se faz tarde, desta vez Passos Coelho não teve nem tempo, nem paciência para se pedir desculpa. Quanto a concertação ou diálogo nada, a direita tem a maioria absoluta e esta é quanto basta para governar.

Mas o firme e hirto de Passos Coelho não demorou muito para amolecer, o autarca da capital do Cavaquistão foi a São Bento e de um momento para o outro da dívida dos municípios pode duplicar, o Alberto nem o convidou para a sua posse e ainda mandou dizer-lhe que a dívida da Madeira é para dividir por todos pois os madeirenses não vão além dos sacrifícios que fazem (diria alguns) todos os portugueses. Cavaco duvidou da legitimidade dos cortes dos subsídios, os bispos exigem equidade e os magistrados dizem que os cortes são inconstitucionais. Perante o risco do impasse que resultaria de uma declaração de inconstitucionalidade os spin do governo inventaram negociações com o Seguro e este ficou tão inchado que até fez de rapaz bonzinho a quem devemos agradecer o facto de nos fazerem o favor de só cortarem num subsídio.

Ficamos com a sensação de estarmos a ver mais um episódio dos Batanetes na TVI, a política orçamental transformou-se numa série de humor e talvez seja por isso que o Gaspar nem se deu ao trabalho de apresentar os cenários macroeconómicos, os únicos cenários para este folhetim são mesmo os de uma sala de teatro. Nunca um OE foi discutido com esta falta de seriedade, sem qualquer norte e sem previsões, até parece quem em vez de estarmos a discutir o OE mais importante da história recente de um país no centro da crise financeira internacional, estamos a brincar aos orçamentos numa associação de estudantes de um liceu de Lisboa.