Depois de vender pessimismo para melhor fazer passar a pinochetada económica concebida por um ministro das Finanças fundamentalista o Governo percebeu que exagerou na dose e decidiu ser optimista nas suas previsões económicas para 2012. Primeiro esqueceu-se deliberadamente de dar a conhecer o cenário macroeconómico, depois intentou uma recessão de 2,8% e, por fim, lá percebeu que uma boa mentira tem de conter um pouco de verdade e acabou por reconhecer que 2,8% era uma mentira exagerada passando a aderir à previsão de 3% de recessão avançada logo de início pela Comissão Europeia.
A verdade é que neste momento o Governo começa a evidenciar sinais de incontinência urinária e começa a mudar o discurso, voltaram a haver almofadas para negociar, o Gaspar elogia os funcionários públicos que tramou com um “F” bem grande e o Álvaro até descobre as virtudes da concertação social. Começa a ser claro que o Governo percebeu o risco que Portugal corre de entrar numa espiral de recessão que o levará à bancarrota e ao conflito social generalizado de consequências imprevisíveis. Desde o discurso cínico de Passos Coelho a anunciar as sacanices da pinochetada orçamental até hoje só se ouviram más notícias vinda da economia europeia.
É cada vez mais evidente que o Gaspar exagerou na dose e a sua política fundamentalista vai conduzir a economia portuguesa ao abismo, nenhum economista honesto deste país pode garantir que a recessão se vai ficar nos 3%, e o desastrado ministro aponta para este número na esperança de enganar os agentes económicos tentando evitar a antecipação da recessão. Não há experiência histórica que permita “afinar” um modelo econométrico da economia portuguesa que teste as consequências da pinochetada orçamental do Gaspar, ninguém sabe como vão reagir os agentes económicos, os mais ou os menos atingidos, ninguém é capaz de prever em que medida os agentes económicos já estão a antecipar a pinochetada imposta no ano de 2012.
Ainda o OE não foi aprovado e já o seu falhanço é evidente, já ninguém acredita no cenário macroeconómico que o sustenta e as condições do mercado europeu que estavam a sustentar o crescimento das exportações são bem diferentes das que se registavam há um ou dois meses.
Vítor Gaspar é um falhanço antecipado e resta-lhe agora tentar passar uma boa parte da sua pinochetada com negociações de fim-de-semana como o PS. Se Seguro aceitar encobrir a rendição do Gaspar com falsas negociações comete o erro de colaborar com a sobrevivência de um ministro das Finanças que não passa de uma imitação de má qualidade de um outro que Portugal teve nos anos vinte do século passado.