Quando tanto se fala da competitividade da nossa economia vale a pena recordar que o capitalismo português nunca viveu da competitividade da economia portuguesa, nunca cresceu em função do mercado, nunca gerou empresas competitivas. O capitalismo português sempre sobreviveu à custa de expedientes, de recursos alheios ou, quando entrou em crise, explorando ao limite os trabalhadores.
A crise poderá ter sido gerada pelos mais diversos factores consoante a preferência de cada um, mas a verdade é que com o fim dos subsídios europeus a crise do capitalismo luso era inevitável, como é inevitável a solução que está a ser encontrada pela direita, salvar as suas empresas e interesses económicos á custa dos trabalhadores.
É estranho que num país onde tanto se discute a competitividade na hora das soluções apenas se encontre uma, reduzir os rendimentos dos trabalhadores. Isto significa que o pensamento dos nossos economistas, empresários e políticos ainda é o mesmo do dos donos das minas de carvão inglesas do tempo da revolução industrial. Ou talvez pior pois esses ainda modernizaram as minas com a introdução da máquina a vapor e daí resultaram melhorias significativas para os mineiros.
Numa economia que desde a entrada na CEE foi alimentada por subsídios e onde a concorrência e o mercado foram substituídos pela corrupção esta crise era inevitável a partir do momento em que não houvesse mais para roubar. Nos últimos trinta anos os empresários de sucesso não foram os que melhor geriram as suas empresas, mais apostaram na competência ou os que mais inovaram, os empresários melhor sucedidos foram aqueles a que alguém na madeira designou por vendedores de sifões de retrete.
Não foram os mercados que escolheram as empresas mais competitivas, foram os jogos de bastidores nos ministérios, os financiamentos ilegais dos partidos, a corrupção generalizada na sociedade portuguesa, uma corrupção que vai para além do conceito estrito do código penal. Não admira que assalariados de políticos que enriqueceram rapidamente cheguem a primeiro-ministro ou que a moda seja os ministros transitarem para as administrações das grandes empresas. Até os candidatos a presidente já não dispensam que grandes grupos económicos lhes emprestem gestores para lhes dirigirem as campanhas.
A actual crise do capitalismo português é mais profunda do que se diz e é a crise de um modelo de capitalismo onde o mercado foi substituído pela corrupção. Não admira que viciados no dinheiro fácil tenham encontrado nos vencimentos e subsídios dos funcionários públicos o pote para se poderem continuar a lambuzar. Ainda nem sequer o OE está aprovado e já são emitidos despachos manhosos permitindo aos mais ricos que fujam aos impostos.