domingo, novembro 06, 2011

Semanada

O aparecimento da fada boa transformou a pinochetada orçamental numa história de amor com um final feliz, depois de uma semana de dureza política o governo amoleceu graças ao namoro entre o Tozé e o seu velho amigo Passos Coelho. Os portugueses podem ficar felizes, graças à intervenção do líder da oposição amorosa ao governo em vez de perderem dois subsídios perdem só um e não se discute mais isso, nem a natureza discriminatória da medida, nem o seu carácter inconstitucional. Para a história ficará uma encenação preparada por Passos Coelho e Seguro para fazer passar mais um PEC.

Num ambiente de tanta paz e amor e com um pote reabastecido para 2012 começa a haver margem para que sejam os contribuintes a pagar todos os pejuízos, sejam resultantes de iniciativas falhadas de associações empresariais, sejam os provocados por negócios duvidosos de banqueiros dados a compadrios. A AEP do Ludgero Marques passou para o Estado a Europarques mais o prejuízo de 32 milhões, os banqueiros querem que o Estado crie um bad bank onde eles possam depositar os seus prejuízos. Enfim, em tempo de austeridade brutal os contribuintes das classes mais pobres e da classe média têm de suportar ainda as asneiras alheias.

Com tanta injustiça não admira que comece a ser fácil verem-se lágrimas de crocodilo, até o ex-ministro Pedro Silva Pereira se esqueceu de que foi o seu governo a abrir o caminho da facilitação do despedimentos dos funcionários públicos e a cortar mais do que um subsídio através de uma redução dos vencimentos, vem acorda designar o corte dos subsídios previsto na pinochetada orçamental como uma injustiça brutal. Digamos que é tão injustiça e tão brutal quanto o corte de 10% dos vencimentos que o seu governo decidiu.

A Europa pode estar descansada, a Grécia aceita tudo o que lhe impuserem mais um par de botas e não consulta a vontade dos seus cidadãos, a austeridade é para comer e calar. É mais ou menos o que está sucedendo com os portugueses, estão a suportar as medidas robustas, brutais e colossais de um ministro das Finanças que julga estar no Chile de Pinochet ou nos primeiros meses da ditadura do Estado Novo. A regra é comer e calar e para que não hajam dúvidas o Gaspar aumentou o orçamento das polícias, o único sector do Estado a ignorar a crise financeira. Vivemos num tempo em que o governo desinveste nos livros escolares e aposta nos cassetetes.

Talvez por sentir ciúmes da paixão entre o Passos Coelho e o Tozé o ministro dos Negócios Estrangeiros não se quis ficar atrás em histórias de amor, foi para a Venezuela assegurar a Chavez que ao adora com todas as suas forças e que melhor prova de amor poderia ter dado do que se tornar em mais um militante defensor da Magalhães!