Em 1972 Jigme Singye Wangchuck, rei do Butão, respondeu aos que criticavam o fraco crescimento económico do seu pequeno reino situado junto aos Himalaias coma criação do conceito Felicidade Interna Bruta (FIB) ou Gross National Happiness (GNH), opondo aos que avaliam o bem-estar pelo crescimento económico um conceito de avaliação do desenvolvimento económicos assente em princípios de ordem moral e filosófica.
Se Jigme Singye Wangchuck criou o conceito de Felicidade Interna Bruta talvez seja oportuno criar o conceito luso de Infelicidade Interna Bruta atribuindo a sua autoria a Vítor Gaspar. Durante anos a direita e, em particular, o PSD criticaram os governos de Sócrates pelo fraco crescimento económico, festejou todos os mais indicadores e chegou a indignar-se com os indicadores de injustiça social, o próprio Cavaco Silva protestou contra os elevados ordenados dos gestores do sector privado.
Agora é a direita que está no poder e assume que conseguirá que a economia cresça mas para isso impõe um empobrecimento colectivo que abrange todos os que trabalham. O empenho nesta estratégia é tão cuidado que até se previu um reforço de verbas orçamentais para que não falte o dinheiro necessário para financiar a repressão policial. Em troca do regresso ao crescimento económico a direita propõe, perdas de rendimento, alargamento de horários de trabalho, repressão, emigração de jovens, perdas de direitos e toda uma série de medidas que passam pela redução da qualidade do ensino, pelo despedimento colectivo de professores ou um corte brutal dos recursos do SNS.
Isto é, a direita propõe ao país uma fórmula de crescimento económico original, a troco de dois ou três pontos de crescimento do PIB os jovens devem emigrar, mais trabalhadores devem ficar desempregados, todos devem trabalhar mais quatro dias por mês à borla, os funcionários públicos devem prescindir de três meses de vencimento (os subsídios mais um que já lhes tinha sido cortado).
Temos, portanto, um crescimento que em vez de trazer felicidade gera infelicidade, a troco de uns pontitos de crescimento económico os trabalhadores e classe média devem prescindir de um quarto dos seus rendimentos! Toda esta riqueza perdida deve ser transferida para os mais ricos para que estes reinvistam uma pequena parte que trará (se trouxer) o tal crescimento que ninguém é capaz de garantir, até pode suceder que fiquem com essa riqueza e a transfiram para as suas off shores o que, aliás, é o mais provável.
Isto significa que não faz sentido avaliar o bem-estar dos portugueses recorrendo ao crescimento económico, Este não se vai traduzir em riqueza para a generalidade dos portugueses, antes pelo contrário, vai significar fome, emigração, repressão e algum sangue escorrido nas ruas. Teremos que criar o conceito de Infelicidade Interna Bruta pois será este o mais adequado para avaliar o sucesso de Vítor Gaspar.