Em Portugal debate-se ciclicamente o tema da corrupção mas sempre na perspectiva mais restrita do Código Penal, mas a corrupção é algo mais amplo e grassa livremente pelo país de tal forma que as suas elites tornaram-se corruptas. Os intelectuais anseiam vender-se a merceeiros, os ex-líderes partidários são comentadores de televisão e assalariados de patos-bravos, os jornais são detidos por sucateiros.
Um intelectual que coloca o seu pensamento ao serviço de interesses de um empresário não é corrupto? Um ex-líder partidário que vende a sua imagem para gerir a sua influência junto do poder em benefício do seu patrão não é corrupto? Um magistrado que opina nas televisões para tentar ajudar a derrubar um governo não é corrupto? O presidente de um regulador (seja o Banco Portugal ou do mercado da electricidade) que nada faz para combater a concertação de preços ou os abusos para favorecer os lucros dos grandes grupos não é corrupto? Um sindicalista que oferece a paz numa empresa a troco de dezenas sindicalistas dispensados de trabalhar ou faz o mesmo num ministério como o da Educação a troco de mais de mil professores dispensados não é corrupto?
É evidente que todos eles são corruptos, não o serão na acepção do Código Penal, não estarão nas preocupações da super-magistrada ou do banqueiro de Londres, mas provocam mais prejuízos ao país do que um qualquer Isaltino, pior, o prejuízo que provocam não é meramente pontual, repercute-se por toda a sociedade impedindo o país de se desenvolver.
Veja-se o que se vai passando no país com os representantes das nossas empresas, sejam os mais independentes economistas da praça ou o inquestionável director do DE a defenderem um corte brutal do direito aos subsídios dos que tiveram o azar de decidir trabalhar para o Estado. O ambiente de orgia é tal que um conhecido idiota até já veio defender que além de todos os cortes os funcionários públicos deverão trabalhar ainda mais horas. Tudo isto para quê? Para que terminado o pote das ajudas comunitárias as elites possa continuar a lambuzar os dedos, agora no dinheiro dos seus concidadãos que trabalham no Estado.
Mas alguém questiona a forma como estão a ser preparadas as privatizações do que resta de rentável no sector público? É evidente que impera o silêncio, quase todos os que têm espaço nos jornais ou nas televisões estão envolvidos em grupos empresariais interessados nas privatizações e como sucede com a RTP alguns até já deverão ter garantida a sua fatia do bolo.
Um país onde o debate político é conduzido por gente corrupta, gente que está mais emprenhada em assegurar o benefício de quem lhes paga e que despreza o sofrimento a que possam ser sujeitos os portugueses, é um país prisioneiro da corrupção, refém dos interesses da elite corrupta que o dirige.