sexta-feira, dezembro 07, 2007

Lisboa, uma cidade pouco recomendável

Graças à Cimeira Europa-África a capital será por estes dias um local pouco recomendável, pelas suas artérias vão circular alguns dos piores espécimes da humanidade, devidamente protegidos e apaparicados pela diplomacia nacional. Mas a hipocrisia das relações internacionais a isso obriga.

Excluindo o coitado do Mugabe que se lembrou de incomodar os interesses de um Reino Unido muito apegado às recordações do seu império, todos os outros serão apresentados como modelos de virtudes. Eles fazem de conta que carregam com as consequências do colonialismo e do imperialismo e os europeus farão de conta que ajudarão os povos africanos com uns milhões de euros que irão dar um grande jeito às contas bancárias dos primeiros. Daqui a três anos, quando uma boa parte das ajudas forem convertidas em automóveis de luxo, joalharia e alta-costura parisiense e contas bancárias no Luxemburgo, voltarão a reunir para fazer o balanço e cominar novas ajudas.

Muitas das flores de cheiro que estarão em Lisboa são responsáveis pelo roubo das riquezas dos seus países, por actos de genocídio, atentados terroristas, guerras civis, massacres e políticas irresponsáveis da qual resulta a miséria e morte de muitos africanos. Mas tudo se vai resolver com uns copos de champanhe e poses para a fotografia porque o negócio e a declaração da praxe já foi feito há algum tempo, no Egipto.

Por estes dias África porá a nu a hipocrisia europeia, desde Durão Barroso a Jerónimo de Sousa, desde os representantes do liberalismo triunfante aos herdeiros da pesada herança do internacionalismo soviético. Uma falam em ajuda depois de terem ajudado muitos dos assassinos de África, outros parecem Dons Quixote em luta contra o imperialismo quando transferiram as riquezas de Angola para o património da família de Eduardo dos Santos.

Terá África solução?

Com uma boa parte dos dirigentes que estarão em Lisboa é muito duvidoso, estes são os representantes das elites que circunstancialmente dirigem regimes onde a regra é o roubo, o homicídio e a exploração. Muito poucos estarão na cimeira a pensar na pobreza que atinge os seus povos, estão cá para negociar em seu favor os recursos de África.

É evidente que não há grandes alternativas a aturar esses canalhas, fechar a porta a África teria resultados desastrosos. Mas não é este o caminho para o desenvolvimento do continente africano.