quarta-feira, dezembro 12, 2007

Os bons e os maus excessos da ASAE


Quem conheceu a actuação dos serviços de inspecção económica no passado sabe bem a evolução neste domínio, no passado a regra era a extorsão, a corrupção e a multa arbitrária, bastava que a indicação do preço numa caixa de fruta tivesse sido derrubada por um cliente para que o desgraçado do comerciante tivesse que pagar uma multa ou “dar algum por fora ao inspector”. A minha mãe era comerciante e eu sei muito bem como era vergonhosa a actuação de muitos “inspectores”.

Neste capítulo a intervenção da ASAE tem sido meritória como também o tem sido no esforço de exigir padrões mínimos de qualidade e de higiene. Fecho o Galeto ou a ginginha? Se estas casas não cumpriam as normas e escondiam a falta de higiene por detrás do nome só há que reconhecer o mérito. Até há poucos anos os padrões de higiene no sector alimentar português eram uma vergonha, nem sequer era preciso entrar nalguns restaurantes para o perceber.

Mas também é verdade que os responsáveis pela ASAE têm usado e abusado da utilização de uma comunicação que por falta de ideias e de notícias transformaram muitas acções daquele organismo em notícia de primeira página. Quem lê jornais estrangeiros não chega a saber o nome dos organismos equivalentes à ASAE, em Portugal a ASAE já tem mais notoriedade do que os serviços de saúde.

Também não acho mal que a ASAE se aproveite da comunicação social para fazer passar uma mensagem de rigor. Mas lamento que nunca tenha sido notícia uma operação numa grande superfície pertencente à SONAE ou à Jerónimo Martins, seria interessante ver os agentes da ASAE entrarem num Continente com as cabeças encapuçadas, acompanhados de um pelotão de operações especiais e com um batalhão de jornalistas, fotógrafos e cameras atrás para registar as operações como se estivessem em plena Bagdad, e no final o presidente da ASAE a dar a entrevista da ASAE.

É evidente que no capítulo da comunicação social a ASAE tem tido uma prática discriminatória, quando actua junto de pobres fá-lo como se estivesse perante criminosos ou terroristas e o presidente da ASAE aparece no fim com o mesmo ar com que Bush aterrou num porta-aviões para anunciar que tinha acabado com a guerra do Iraque. Quando vão às grandes superfícies ninguém os vê e se ocorrer algum incidente não há espalhafato para a comunicação social.

A ASAE tem feito um excelente trabalho mas discrimina os portugueses, usa os mais pobres para engrandecer a imagem do seu presidente e trata os mais ricos com luvas de pelica. E se a falta de higiene é uma falta grave, a discriminação é uma falta igualmente grave e inaceitável numa instituição pública. A eficácia das instituições não pode ser alcançada a qualquer custo, havendo limites éticos à sua actuação.~

Aditamento: artigo de António Barreto citado na caixa de comentários (>Imagem)