quinta-feira, dezembro 27, 2007

Promiscuidade, dinheiro, as ditas e os filhos das ditas


No mesmo país em que uma cadeia de grandes superfícies processou uma velhota por supostamente ter roubado uim creme de beleza no valor de 3,39 euros, o maior banco comercial português perdoa dívidas da ordem dos duzentos milhões de euros aos amigos da administração sem que nada aconteça. E ainda vêm tranquilizar o mercado porque esses prejuízos estão reflectidos nas contas do banco, isto é, roubaram aos accionistas e ainda vão ganhar algum por conta dos impostos que não serão cobrados porque o “roubo” foi convertido em prejuízo.

No mesmo país onde as grandes superfícies são selvas de câmaras de vídeo e seguranças a CNVM e o Banco de Portugal fazem de virgens ofendidas como se as operações do Millennium fossem uma surpresa, como se nunca tivessem ouvido falar de off-shores ou da Operação Furacão. É exactamente o mesmo país cujo Procurador-geral recebeu em audiência o presidente do Millennium que lhe foi dar as boas-vindas, ninguém estranhando tanta cortesia entre o chefe da investigação criminal e o chefe de um banco sob suspeita. Não me admiraria nada que por este andar o chefe dos Super Dragões passe a visitar o Procurador-Geral para lhe cantar as Janeiras e desejar-lhe um bom Ano Novo.

Mas o problema do Millennium está em vias de resolução para que seja reposta a paz no mundo da alta finança, o presidente da CGD já se demitiu para poder transitar para o Millennium. Isto é, os grandes accionistas do Opus Banco, incluindo os beneficiados da opus-pouca-vergonha de Jardim Gonçalves, vão ser ressarcidos dos prejuízos, com Santos Ferreira (por coincidência cunhado de António Guterres) o banco tem à sua frente a pessoa ideal pois o novo presidente conhece os cantos à casa do principal concorrente do Millennium. E como se isso fosse pouco ainda leva consigo António Vara, que na CGD tinha o pelouro do crédito às empresas. Estão reunidas as condições para o golpe do baú, não admira que pela primeira vez nos últimos dois anos haja paz entre a maioria dos accionistas, algo que nem a mão divina da Opus Dei tinha conseguido.

Tudo normal? Claro, a liderança do Millennium tem todas as condições para consolidar a liderança no mercado financeiro, agora que está na posse de todas as informações estratégicas da CGD, não admira que as suas acções tenham reagido em alta. Com tão boas acções até a Opus Dei ficou contente com a solução. Inside trading? Não, nem por isso pois tem a bênção de Sócrates, Constâncio e Carlos Tavares. Não admira que também tenha o apoio divino com a Opus Dei a orar e o Cardeal a dar a Bênção. O que diz Cavaco Silva? Não tem mito a dizer, os negócios do Millennium são antigos, até se fala da ida de Catroga, os dos seus íntimos, para a CGD, o mesmo Catroga que era ministro das Finanças no tempo da privatização do BPA, os mesmo que foi parar ao Millennium.

E por falar em CGD, além do nome de Catroga, um homem de Cavaco, fala-se de Manuel Pinho, um homem de Sócrates e do BES, o mesmo BES que tem alguns negócios com o banco público, em tempos até participou numa tentativa de compra manhosa da GALP, em que esta era adquirida pela Carlyle, por intermédio de amigos portugueses (entre os quais a Fundação Mário Soares), com dinheiro que seria da CGD, como Louçã denunciou na AR. Nesse tempo era primeiro-ministro Durão Barroso, um amigo do BES.

O velho patriaca do BES costumava dizer que este banco “é como as putas, está sempre ao lado do poder”. Começa a ser difícil distinguir entre putas e poder, já não sei se é o poder que escolhe as putas ou se são as putas que escolhem o poder. No meio deste bordel já começa a ser difícil distinguir se os que têm dinheiro são banqueiros, putas ou os filhos das dita.

Fez muito bem o tribunal que se entreteve a julgar a velhota acusada de ter roubado um creme de beleza no valor de 3,99 euros ao Lidl. Para além de dever saber que estes cremes não dão beleza a ninguém, muito menos a rugas com 76 anos. Com esta idade já devia ter aprendido que se roubar um papo seco vai presa, mas se roubar duzentos milhões de euros passa a fazer parte do jet set, ninguém de olha para as rugas e, se o Procurador-Geral não tiver uma agenda muito preenchida, ainda pode ir beber um chá ao Palácio de Palmela.