segunda-feira, dezembro 03, 2007

Um aviso a José Sócrates



Passados três dias já todos se esqueceram da greve, a escolha de uma sexta-feira podendo ser considerada um pouco oportunista acaba por se virar contra os sindicatos, o impacto televisivo fica-se pelos noticiários na noite e passado o fim-de-semana tudo regressa à normalidade. Para a história fica mais uma disputa numérica, com os sindicatos a apontar para números tão irrealistas que dão razão aos do governo.

Pessoalmente considero os números do governo mais próximos da realidade, mas isso não significa que o Governo tenha tido uma grande vitória, antes pelo contrário. Tal como eu, muitos funcionários consideraram que um dia de vencimento era um preço demasiado elevado para logo à noite ouvir Carvalho da Silva dizer o mesmo que disse nas últimas vinte greves.

Se a questão está em saber qual o apoio que o governo tem nos funcionários públicos nem os números do governo, nem os números dos sindicatos são verdadeiros, ambos pecam por defeito. Foram muitos mais os funcionários que ouvi criticar o governo do que os que aderiram á greve, são muitos poucos os que acreditam nas suas reformas, que confiam na bondade de algumas medidas e que confiam no futuro deste país.

Seria fácil dizer que pensam em função dos seus interesses corporativos, mas essa não é a verdade, a maioria dos funcionários com que partilho o dia a dia pensam em função do futuro dos seus filhos e no do país. Nem mesmo os simpatizantes e militantes do PS com que falo começam a ter dúvidas.

Sócrates aprendeu com Manuela Ferreira Leite que atacar os funcionários é um bom negócio político, cada vez que os humilha ou maltrata ganha mais votos do que perde. Aprendeu a arte da mentira, uma boa reforma da Administração Pública é aquela que permite poupar nas despesas, tudo o resto é uma questão de fachada, os serviços até podem estar à beira da rotura porque o que importa é a imagem que se faz passar para a comunicação social.

Mas a realidade começa a impor-se à ficção criada pelos gestores de imagem, os desempregados são demasiados, a modernização do Estado começa a ser um fiasco, o Simplex não passou do aproveitamento do trabalho já feito e dos recursos adquiridos por outros, o plano tecnológico pouco mais foi do que um aperto de mão ao Bill Gates. É evidente que nem todos os males e dificuldades podem ser atribuídos a um governo, mas a falta de humildade dos nossos governantes levará a que sejam estes a assumir todas as culpas o que, de resto, não é de todo injusto. Se Sócrates considera obra sua a criação de empregos por empresas que não lhe pertencem nem receberam qualquer apoio do Estado, é natural que também tenha que assumir os que foram para o desemprego, as empresas que encerraram, todos os males e falhanços a que vamos assistindo.

Apesar de tudo Sócrates tem sorte, o PSD decidiu tirar Menezes para dar uma nova oportunidade a Santana Lopes, desta vez na versão Luís Filipe Menezes. Ninguém no seu pleno juízo entregará o governo deste país a gente como Menezes, Ribau, Martins da Cruz ou Ângelo Correia.

Mas é bom lembrar a Sócrates que apesar dos excelentes resultados do primeiro governo de Guterres, (recorde-se, a título de exemplo, a redução do défice e da dívida pública que permitiram a Portugal aderir ao Euro, algo em que poucos acreditavam) este ficou a um deputado da maioria absoluta.

Nos momentos de arrogância e de desprezo pelos cidadãos, Sócrates e os seus ministros deveriam recordar-se deste facto porque poderão pagar bem caro a sua miopia política. Os números das próximas eleições legislativas serão muito mais fáceis de apurar e decisivos do que os da greve da Função Pública, e não serão calculados pelo Secretário de Estado da Administração Pública, que nessa ocasião já estará a caminho de se sentar na cadeira de juiz conselheiro do Tribunal de Contas, onde estará a salvo das medidas da sua reforma, beneficiar das mordomias a que não pôs fim, nem será sujeito a qualquer avaliação de desempenho, e no fim ainda tem direito a um subsídio de residência livre de impostos.