É a ironia do destino, aqueles que há um ano exigiam um pedido de ajuda internacional na esperança de a miséria daí resultante conduzir a uma crise política, desdobram-se agora em juras de que não vai haver um segundo empréstimo. Os que criticavam Sócrates por não pedir ajuda internacional sonham agora que os juros baixem ao ponto de Portugal se poder financiar nos mercados. Os mesmos que defendiam que a crise era nacional defendem agora que a crise é sistémica.
Estavam tão convencidos de que os mercados são de direita e que com uma mudança política teriam mais facilidades que tentaram ir muito mais além do que a troika, promoveram o empobrecimento colectivo, o primeiro-ministro tudo fez para desestimular o consumo, o ministro das Finanças recebeu carta verde para transformar o país à vontade. Agora receiam o pior, reafirmam as suas políticas mas receiam que a recessão seja brutal.
Agora o país está à beira do abismo e parece que todo os membros do governo decidiram imitar o ministro da informação de Sadam, por mais que seja evidente que o país se vai afundar em recessão e em dívida todos garantem que Portugal não precisará de um novo pacote de ajuda. Por mais evidente que seja que a solução está no crescimento económico os nossos governantes continuam a defender a austeridade pura e dura como único caminho aceitável para a expiação do pecado do excesso de consumo praticado no passado.
Cá se fazem, cá se pagam e os que todos os meses festejavam o aumento de desemprego escondem-se agora da realidade, ignoram os dados mensais do desemprego, inventam-se sucessivas manobras de diversão para evitar discutir a realidade. O governo já percebeu o buraco em que meteu o país, mas continua firme e hirto porque sem alternativa não quer dar o braço a torcer.
Pela boca morre o peixe e os que contavam as nomeações de “boys” agora inventam esquemas duvidosos para que as nomeações não sejam do conhecimento público, pagam mais aos motoristas do que o Estado paga aos médicos, continuam a prometer aos assessores e adjuntos os subsídios que retiraram aos outros. São vagas sucessivas de boys a correrem para o pote, desde a nomeação da administração da CGD que o banquete não parou.
Ironia das ironias, o ministro mais gozado, que até foi alvo de chacota por parte do Gaspar em pleno conselho de ministros (quando foi gozado enquanto propunha medidas para o crescimento e depois do Gaspar lhe ter dito “não há dinheiro” ainda lhe perguntou qual das tês palavras não tinha percebido) foi o único que parece ter defendido medidas para promover o crescimento económico e foi ainda o único membro deste governo que desde a tomada de posse se manifestou preocupado com a escalada do desemprego. O destino tem destas coisas, o ministro mais gozado arrisca-se a ser um herói, enquanto do cinzento Gaspar (Gaspar foi o rei mago que levou a Jesus o incenso da Europa) já se fala numa possível demissão, sendo detestado pelos cavaquistas.