Depois de ter levado o papel de bom aluno ao extremo, chegando a fazer o triplo dos TPC que eram pedidos pela troika, o governo decidiu aproveitar a deixa do spin que sugeriu a Passos Coelho que dissesse aos funcionários estrangeiros que era pelos portugueses que o governo estava a esfolar esses mesmos portugueses. Agora a troika parte discretamente enquanto cabe ao desastrado ministro das Finanças a tarefa de exibir a avaliação que lhe foi feita. Se a moda pega na educação passarão a ser os alunos a divulgar e justificar as notas, pelo menos enquanto forem positivas.
É evidente que o governo acha que com esta estratégia melhora a imagem do ministro das Finanças, numa altura em que até o Álvaro, mesmo com aquele ar tresloucado de quem fixa um olho na Ursa Menor e o outro na Ursa Maior, começa a ter uma imagem mais simpática do que o Gaspar.
Só é pena que o governo não se tenha preocupado muito com a imagem do país quando permitiu que três funcionários de segunda linha se passeassem pelo país como centuriões romanos, chegando ao ponto de serem recebidos pela presidente do Parlamento, a segundo figura do Estado. Ver aqueles três palermas sentados no sofá do parlamento com ar de putos deslumbrados olhando para as obras de arte é mais do que um cidadão paciente pode suportar.
É evidente que nunca deveria ter sido dado protagonismo aos três funcionários estrangeiros, as conclusões poderiam ser divulgadas sob a forma de comunicado, como sucedeu, por exemplo, quando o BCE avaliou toda a banca europeia. Da mesma forma o ministro poderia poupar os portugueses ao seu show e emitir um comunicado com as conclusões. As suas conferências de imprensa são um bom exemplo de como o país gasta recursos com inutilidades.
Mas o governo fez bem em assumir totalmente a responsabilidade pela execução do memorando assinado com a troika, até porque uma boa parte das medidas que tem adoptado excedem em muito esse memorando e foram da sua iniciativa, a vontade de ir bem mais longe do que o exigido pelos credores foi tanta que o Gaspar até inventou desvios.
Resta saber se daqui a dois ou três meses, não será necessário mas tempo, o Gaspar também vai assumir a responsabilidade pela contracção económica brutal, pela queda abrupta das receitas fiscais, pelo aumento do desemprego e pelo consequente desvio colossal em relação à meta do défice orçamental. Depois de meses a atribuir todos os males ao memorando o governo tenta combater a desgraça nas sondagens chamando a si os louros do cumprimento do acordo.
Parece que Gaspar tem mais olhos do que barriga, ao assumir os louros assume também o que vem a seguir, e o que vem a seguir é um segundo resgate e a eventual renegociação da dívida, uma consequência de uma política económica irresponsável.