Foto Jumento
Escadinhas de São Cristóvão, Lisboa
Imagens dos visitantes d'O Jumento
Igreja de São Francisco, São Salvador da Baía, Brasil [A. Cabral]
Jumento do dia
Passos Coelho
Américo Tomás ficou conhecido por algumas frases célebres como aquela vez em que disse algures que "da última vez que cá vim é a primeira vez que cá venho". Só que se as frases de Tomás sugeriam um sorriso de humor, as de Passos Coelho leva-nos a pensar que o homem não sabe o que diz.
O empenho de Passos Coelho e aproveitar-se politicamente do aumento das exportação já seria motivo de crítica, o primeiro-ministro nada fez para este resultado e muito empenho do seu antecessor. Que se saiba nesta capítulo o governo tem sido um zero à esquerda. Mas dizer que "as exportações conseguiram voltar-se muito mais rapidamente para o exterior", francamente, para onde quereria Passos Coelho que as exportações se virassem?
«Durante a visita ao certame da SISAB - Salão Internacional do Sector Alimentar e Bebidas-, acompanhado pelo ministro da Economia, Passos Coelho sublinhou que as exportações portuguesas estão a demonstrar uma forte energia. “Tivemos no ano passado, um crescimento das exportações muito mais acentuado do que estava programado e isso em condições de maiores adversidades externas e do que estava inicialmente projectado”, sublinhou Passos Coelho, acrescentando que “significa, portanto, que em condições de maior adversidade, as exportações conseguiram voltar-se muito mais rapidamente para o exterior e mostrar uma grande plasticidade e mobilidade”.» [Jornal de Negócios]
O empenho de Passos Coelho e aproveitar-se politicamente do aumento das exportação já seria motivo de crítica, o primeiro-ministro nada fez para este resultado e muito empenho do seu antecessor. Que se saiba nesta capítulo o governo tem sido um zero à esquerda. Mas dizer que "as exportações conseguiram voltar-se muito mais rapidamente para o exterior", francamente, para onde quereria Passos Coelho que as exportações se virassem?
«Durante a visita ao certame da SISAB - Salão Internacional do Sector Alimentar e Bebidas-, acompanhado pelo ministro da Economia, Passos Coelho sublinhou que as exportações portuguesas estão a demonstrar uma forte energia. “Tivemos no ano passado, um crescimento das exportações muito mais acentuado do que estava programado e isso em condições de maiores adversidades externas e do que estava inicialmente projectado”, sublinhou Passos Coelho, acrescentando que “significa, portanto, que em condições de maior adversidade, as exportações conseguiram voltar-se muito mais rapidamente para o exterior e mostrar uma grande plasticidade e mobilidade”.» [Jornal de Negócios]
Zeca Afonso - Os Vampiros (original)
Já que perguntar não ofende
Já que perguntar não ofende faria sentido perguntar ao governo se a mesma independência do Banco de Portugal que justifica que os seus continuem a ter o estatuto de banqueiros suíços residentes em Portugal com o estatuto de extraterritorialidade fiscal, não se deveria aplicar igualmente à promiscuidade existente entre o Estado e o banco em matéria de nomeações.
Fará sentido que o membro do governo que alterou o estatutos do Banco de Portugal seja quadro deste banco e quando regressar deva explicações ao seu governador? Faz sentido que muitos directores-gerais, sub directores-gerais e administradores de bancos sejam quadros do Banco de Portugal?
É evidente que o governo nunca responderá a esta pergunta. Mas veremos qual a resposta do Banco Central Europeu a uma queixa que está a ser preparada e que será formalizada em breve.
Que inveja do empregado de mesa!
Quem te manda a ti sapateiro tocar rabecão
«Miguel Relvas, na TVI24, mostrou a sua revolta contra alguns municípios que devem milhões e mesmo assim tiveram o desplante de dar tolerância de ponto no Carnaval.
Pode-se acusar o ministro de muita coisa, mas não se pode dizer que estivesse a ser incoerente com o que é a linha de actuação do Governo. Vem, aliás, na sequência da decisão de acabar com feriados, com a proposta abandonada de aumentar meia hora a jornada laboral, da redução de férias e outras medidas que visam aumentar a permanência dos trabalhadores no posto de trabalho.
O pensamento político - se é que lhe podemos chamar político ou sequer pensamento - subjacente a esta estratégia é evidente: uma das principais razões para a crise que vivemos é o facto de nós, portugueses, trabalharmos pouco.
Como qualquer pessoa que utiliza a fé para tomar decisões, é perfeitamente indiferente falar de factos. Não valerá a pena informar o Governo de que os portugueses são dos povos europeus que mais horas trabalham ou, pelo menos, os que são obrigados a passar mais horas nos seus locais de trabalho. Também será inútil lembrar que os portugueses que trabalham em empresas estrangeiras, em Portugal ou no estrangeiro, são considerados excelentes trabalhadores e distinguem-se pela sua qualidade.
Não, Relvas e o Governo estão convencidos de que os trabalhadores portugueses são um bando de preguiçosos que é forçoso pôr a trabalhar. Mais, devem ser agora castigados por terem passado tantos anos de papo para o ar. Gostaria muito de saber o que pensará um qualquer operário que leva uma hora e meia para chegar à empresa onde trabalha e mais hora e meia para regressar a casa, depois de ter trabalhado nove ou dez horas, para no fim do mês receber oitocentos euros, deste tipo de pensamento. Enfim...
Pois é, foi o facilitismo e a preguiça que nos trouxeram ao actual estado de coisas. Isso e os Governos anteriores, bem entendido. Quanto aos Governos anteriores terá o ministro Relvas alguma razão. Não há dúvidas de que os últimos vinte ou trinta anos contribuíram, e de que maneira, para o péssimo estado do País. Mas ver a segunda figura do Governo ignorar olimpicamente esse pequeno detalhe da crise europeia, o ataque às dívidas soberanas, o quase colapso do sistema financeiro internacional, a cegueira criminosa dos dirigentes europeus na condução dos destinos europeus, a semelhança da nossa situação com a de quase todos os países da Europa e explicar tudo com os anteriores Governos e os facilitismos e quejandos é, pura e simplesmente, arrepiante. Bom, não seria de esperar muito mais de Miguel Relvas, cujo entendimento da política se resume na habilidade em angariar apoios de secções partidárias e em pôr notícias em jornais. Mas que diabo, pensar que é ele o coordenador da acção política do Governo é, no mínimo, assustador.
Talvez seja pedir demais, mas talvez também não fosse má ideia que Miguel Relvas esquecesse por momentos a propaganda e percebesse alguns dos problemas que as nossas empresas (é escusado pedir isso ao ministro Álvaro, pois já todos percebemos que ele sabe tanto de empresas e dos seus problemas como de lagares de azeite) enfrentam, e que estão longe, muito longe, de qualquer tipo de preguiça dos trabalhadores.
Em vez de estar a perder tempo com comissões interministeriais, que mais não são do que poeira para atirar aos olhos dos mais incautos, podia-se tentar informar dos problemas graves de formação, de capacidade de gestão e de organizar o trabalho de parte significativa dos nossos empresários. Das dificuldades que o Estado lhes impõe com as constantes mudanças de legislação, da kafkiana burocracia, da falta de crédito que lhes está a destruir as empresas, dos preços absolutamente exorbitantes que têm de pagar por electricidade, gás e petróleo que não lhes permite ser competitivos com os concorrentes estrangeiros, da carga fiscal asfixiante ou do inexistente sistema de justiça que faz que as dívidas sejam perdas.
Mas a verdade é que os sapateiros não são bons tocadores de rabecão.» [DN]
Pode-se acusar o ministro de muita coisa, mas não se pode dizer que estivesse a ser incoerente com o que é a linha de actuação do Governo. Vem, aliás, na sequência da decisão de acabar com feriados, com a proposta abandonada de aumentar meia hora a jornada laboral, da redução de férias e outras medidas que visam aumentar a permanência dos trabalhadores no posto de trabalho.
O pensamento político - se é que lhe podemos chamar político ou sequer pensamento - subjacente a esta estratégia é evidente: uma das principais razões para a crise que vivemos é o facto de nós, portugueses, trabalharmos pouco.
Como qualquer pessoa que utiliza a fé para tomar decisões, é perfeitamente indiferente falar de factos. Não valerá a pena informar o Governo de que os portugueses são dos povos europeus que mais horas trabalham ou, pelo menos, os que são obrigados a passar mais horas nos seus locais de trabalho. Também será inútil lembrar que os portugueses que trabalham em empresas estrangeiras, em Portugal ou no estrangeiro, são considerados excelentes trabalhadores e distinguem-se pela sua qualidade.
Não, Relvas e o Governo estão convencidos de que os trabalhadores portugueses são um bando de preguiçosos que é forçoso pôr a trabalhar. Mais, devem ser agora castigados por terem passado tantos anos de papo para o ar. Gostaria muito de saber o que pensará um qualquer operário que leva uma hora e meia para chegar à empresa onde trabalha e mais hora e meia para regressar a casa, depois de ter trabalhado nove ou dez horas, para no fim do mês receber oitocentos euros, deste tipo de pensamento. Enfim...
Pois é, foi o facilitismo e a preguiça que nos trouxeram ao actual estado de coisas. Isso e os Governos anteriores, bem entendido. Quanto aos Governos anteriores terá o ministro Relvas alguma razão. Não há dúvidas de que os últimos vinte ou trinta anos contribuíram, e de que maneira, para o péssimo estado do País. Mas ver a segunda figura do Governo ignorar olimpicamente esse pequeno detalhe da crise europeia, o ataque às dívidas soberanas, o quase colapso do sistema financeiro internacional, a cegueira criminosa dos dirigentes europeus na condução dos destinos europeus, a semelhança da nossa situação com a de quase todos os países da Europa e explicar tudo com os anteriores Governos e os facilitismos e quejandos é, pura e simplesmente, arrepiante. Bom, não seria de esperar muito mais de Miguel Relvas, cujo entendimento da política se resume na habilidade em angariar apoios de secções partidárias e em pôr notícias em jornais. Mas que diabo, pensar que é ele o coordenador da acção política do Governo é, no mínimo, assustador.
Talvez seja pedir demais, mas talvez também não fosse má ideia que Miguel Relvas esquecesse por momentos a propaganda e percebesse alguns dos problemas que as nossas empresas (é escusado pedir isso ao ministro Álvaro, pois já todos percebemos que ele sabe tanto de empresas e dos seus problemas como de lagares de azeite) enfrentam, e que estão longe, muito longe, de qualquer tipo de preguiça dos trabalhadores.
Em vez de estar a perder tempo com comissões interministeriais, que mais não são do que poeira para atirar aos olhos dos mais incautos, podia-se tentar informar dos problemas graves de formação, de capacidade de gestão e de organizar o trabalho de parte significativa dos nossos empresários. Das dificuldades que o Estado lhes impõe com as constantes mudanças de legislação, da kafkiana burocracia, da falta de crédito que lhes está a destruir as empresas, dos preços absolutamente exorbitantes que têm de pagar por electricidade, gás e petróleo que não lhes permite ser competitivos com os concorrentes estrangeiros, da carga fiscal asfixiante ou do inexistente sistema de justiça que faz que as dívidas sejam perdas.
Mas a verdade é que os sapateiros não são bons tocadores de rabecão.» [DN]
Autor:
Pedro Marques Lopes.
Criar emprego
«Criar empregos e fazer crescer a economia são duas faces da mesma moeda. Assim, por mais comissões que o Governo nomeie nunca terá uma política séria de emprego enquanto considerar a recessão uma inevitabilidade.
No atual quadro em que a nossa economia caminha a duas velocidades - as exportações ainda a crescerem e a procura interna em queda livre - a sua internacionalização, pelo reforço do sector exportador e pelo investimento nacional e estrangeiro, deve ser o caminho para a criação de emprego qualificado e para a recuperação económica.
Porém, uma internacionalização de sucesso exige, no mínimo, empresas competitivas e adequadamente financiadas.
Ora, a competitividade pressupõe desde logo a redução dos custos associados à exportação pelo que seria aconselhável realizar uma análise exaustiva de tais custos com vista à sua redução. Os custos do trabalho não são os únicos nem sequer os mais importantes do elenco, para além das implicações sociais e na produtividade que a sua redução, sem critério, implica. Mais relevantes são, seguramente, os derivados de um sistema de licenciamentos administrativos anacrónico e inimigo do investimento, de uma logística cara e tantas vezes desadequada às necessidades das empresas, de um sistema de justiça que não oferece confiança aos investidores, de um regime fiscal complexo e, não raro, injusto, para já não falar de um financiamento inexistente ou, de tão caro, inaceitável.
Fomentar o empreendedorismo gerador de novos projetos e apoiar as PME com potencial de crescimento, o que exige uma grande seletividade das políticas públicas, são as opções imediatas para criar empregos e combater a recessão.
A AICEP e o IAPMEI, em ligação com as autoridades locais e com as associações empresariais, deveriam elaborar um plano de ação especialmente dirigido às PME com potencial exportador sedeadas nas diversas regiões e que apenas trabalham para o mercado interno, no sentido de as reorientar para a exportação.
Esse Plano devia, no mínimo, garantir informação e aconselhamento na realização dos negócios; treino e acompanhamento; lista de possíveis clientes em ligação com a rede externa e indicação das ajudas disponíveis.
Finalmente, uma referência à manutenção do emprego, tão importante como sua a criação.
É indispensável que, pelo menos, as grandes empresas nacionais e estrangeiras sejam individualmente acompanhadas e assim seja possível antecipar intenções de despedimento, por forma a estudar e propor soluções alternativas à liquidação dos postos de trabalho. E há várias soluções que já foram aplicadas com sucesso no passado recente.
Criar empregos e recuperar a economia eis o que deve ser a nossa ambição, para além da crise, para além da ‘troika'.» [Diário Económico]
No atual quadro em que a nossa economia caminha a duas velocidades - as exportações ainda a crescerem e a procura interna em queda livre - a sua internacionalização, pelo reforço do sector exportador e pelo investimento nacional e estrangeiro, deve ser o caminho para a criação de emprego qualificado e para a recuperação económica.
Porém, uma internacionalização de sucesso exige, no mínimo, empresas competitivas e adequadamente financiadas.
Ora, a competitividade pressupõe desde logo a redução dos custos associados à exportação pelo que seria aconselhável realizar uma análise exaustiva de tais custos com vista à sua redução. Os custos do trabalho não são os únicos nem sequer os mais importantes do elenco, para além das implicações sociais e na produtividade que a sua redução, sem critério, implica. Mais relevantes são, seguramente, os derivados de um sistema de licenciamentos administrativos anacrónico e inimigo do investimento, de uma logística cara e tantas vezes desadequada às necessidades das empresas, de um sistema de justiça que não oferece confiança aos investidores, de um regime fiscal complexo e, não raro, injusto, para já não falar de um financiamento inexistente ou, de tão caro, inaceitável.
Fomentar o empreendedorismo gerador de novos projetos e apoiar as PME com potencial de crescimento, o que exige uma grande seletividade das políticas públicas, são as opções imediatas para criar empregos e combater a recessão.
A AICEP e o IAPMEI, em ligação com as autoridades locais e com as associações empresariais, deveriam elaborar um plano de ação especialmente dirigido às PME com potencial exportador sedeadas nas diversas regiões e que apenas trabalham para o mercado interno, no sentido de as reorientar para a exportação.
Esse Plano devia, no mínimo, garantir informação e aconselhamento na realização dos negócios; treino e acompanhamento; lista de possíveis clientes em ligação com a rede externa e indicação das ajudas disponíveis.
Finalmente, uma referência à manutenção do emprego, tão importante como sua a criação.
É indispensável que, pelo menos, as grandes empresas nacionais e estrangeiras sejam individualmente acompanhadas e assim seja possível antecipar intenções de despedimento, por forma a estudar e propor soluções alternativas à liquidação dos postos de trabalho. E há várias soluções que já foram aplicadas com sucesso no passado recente.
Criar empregos e recuperar a economia eis o que deve ser a nossa ambição, para além da crise, para além da ‘troika'.» [Diário Económico]
Autor:
Basílio Horta.
Não me obriguem a ir para a rua gritar
«A equipa da ‘troika’ termina esta semana a terceira visita a Portugal, numa altura em que o País assinala 25 anos da morte de José Afonso. E pus-me a pensar no que diria o Zeca a esses senhores da ‘troika’ se ainda por cá estivesse.
Será que se virava para os três da ‘troika', de peito aberto, e dizia ‘Venham mais cinco'? Ou diria que em Portugal ‘Não há lugar Pr'ós filhos da mãe' e que por cá ‘é o povo quem mais ordena'? Zeca, em tom de ameaça, também era homem para dizer ‘Não me obriguem a vir para a rua gritar'.
Ou será que com o passar dos anos, a rebeldia e a irreverência já teriam dado lugar a um maior conformismo e resignação? Neste caso, Zeca era capaz de dizer aos senhores da ‘troika': ‘Sejam bem-vindos quem vier por bem' ou até ‘Traz outro amigo também'.
A terceira avaliação da ‘troika' acontece numa altura em que estão a ser divulgados dados que mostram que a austeridade, que está a ser cumprida à risca pela maioria PSD/CDS, começa a ter efeitos bastantes nocivos para a economia, à semelhança aliás do que aconteceu na Grécia. E evidências não faltam. Veja-se os dados no PIB que no último trimestre derrapou 2,7%, devido a uma travagem brusca do consumo. E as projecções para este ano não auguram nada de bom, com Bruxelas a vaticinar uma aterragem de 3,3%. E pior do que isso, o abrandamento ou recessão nos nossos maiores parceiros comerciais (Espanha, Alemanha, França e Itália) ameaçam as nossas exportações, a única variável que tem dado um contributo positivo para o PIB.
Os primeiros dados conhecidos da execução orçamental também não deixam margem para optimismos. Aqui, mais uma vez, o Governo PSD/CDS conseguiu cumprir à risca o acordado com a ‘troika', baixando drasticamente o défice. Mas o motor das receitas fiscais começa a engripar, com o valor dos impostos cobrados (sobretudo o IRC e impostos sobre veículos) a cair a pique. O que vem provar a teoria de que a curva de Laffer, a partir de determinadas taxas de impostos começa a ser descendente.
E para quem ainda tem dúvidas sobre o impacto das medidas de austeridade que olhe para os dados do desemprego que saltou para 14% no final do ano, tendo o país, entre desempregados e desencorajados, mais de um milhão de activos sem trabalho. E aqui é que a coisa começa a complicar-se, pois as consequências sociais são dramáticas.
Portugal, pelos excessos que foram cometidos no passado, tem naturalmente de travar um combate feroz contra o défice e a dívida pública. E o Governo até tem conseguido várias vitórias na implementação da austeridade. Mas mais vitórias como estas, como diria um tal de Pirro, e estaremos todos perdidos.
E é a necessidade deste equilíbrio, entre austeridade e medidas que espevitem o crescimento e o emprego, que o Governo tem de transmitir aos senhores da ‘troika'. Caso contrário, mais vale embalarem a trouxa da austeridade e zarpar.» [Diário Económico]
Será que se virava para os três da ‘troika', de peito aberto, e dizia ‘Venham mais cinco'? Ou diria que em Portugal ‘Não há lugar Pr'ós filhos da mãe' e que por cá ‘é o povo quem mais ordena'? Zeca, em tom de ameaça, também era homem para dizer ‘Não me obriguem a vir para a rua gritar'.
Ou será que com o passar dos anos, a rebeldia e a irreverência já teriam dado lugar a um maior conformismo e resignação? Neste caso, Zeca era capaz de dizer aos senhores da ‘troika': ‘Sejam bem-vindos quem vier por bem' ou até ‘Traz outro amigo também'.
A terceira avaliação da ‘troika' acontece numa altura em que estão a ser divulgados dados que mostram que a austeridade, que está a ser cumprida à risca pela maioria PSD/CDS, começa a ter efeitos bastantes nocivos para a economia, à semelhança aliás do que aconteceu na Grécia. E evidências não faltam. Veja-se os dados no PIB que no último trimestre derrapou 2,7%, devido a uma travagem brusca do consumo. E as projecções para este ano não auguram nada de bom, com Bruxelas a vaticinar uma aterragem de 3,3%. E pior do que isso, o abrandamento ou recessão nos nossos maiores parceiros comerciais (Espanha, Alemanha, França e Itália) ameaçam as nossas exportações, a única variável que tem dado um contributo positivo para o PIB.
Os primeiros dados conhecidos da execução orçamental também não deixam margem para optimismos. Aqui, mais uma vez, o Governo PSD/CDS conseguiu cumprir à risca o acordado com a ‘troika', baixando drasticamente o défice. Mas o motor das receitas fiscais começa a engripar, com o valor dos impostos cobrados (sobretudo o IRC e impostos sobre veículos) a cair a pique. O que vem provar a teoria de que a curva de Laffer, a partir de determinadas taxas de impostos começa a ser descendente.
E para quem ainda tem dúvidas sobre o impacto das medidas de austeridade que olhe para os dados do desemprego que saltou para 14% no final do ano, tendo o país, entre desempregados e desencorajados, mais de um milhão de activos sem trabalho. E aqui é que a coisa começa a complicar-se, pois as consequências sociais são dramáticas.
Portugal, pelos excessos que foram cometidos no passado, tem naturalmente de travar um combate feroz contra o défice e a dívida pública. E o Governo até tem conseguido várias vitórias na implementação da austeridade. Mas mais vitórias como estas, como diria um tal de Pirro, e estaremos todos perdidos.
E é a necessidade deste equilíbrio, entre austeridade e medidas que espevitem o crescimento e o emprego, que o Governo tem de transmitir aos senhores da ‘troika'. Caso contrário, mais vale embalarem a trouxa da austeridade e zarpar.» [Diário Económico]
Autor:
Pedro Carvalho.
Cavaco afasta-se da solução alemã
«O Presidente da República é uma permanente dor de cabeça para a maioria política que o elegeu – a mesma maioria que nos governa. No desempenho das suas funções, neste segundo mandato, Cavaco Silva oscila entre a gaffe mais tosca, imprópria de quem desempenha funções políticas desde o primeiro governo de Sá Carneiro, já lá vão mais de três décadas, e uma acutilante censura às medidas de austeridade do governo. Quanto às gaffes, das quais a declaração sobre os seus rendimentos ou a esfarrapada desculpa para fugir de duas dezenas de estudantes da escola António Arroio, são cerejas em cima do bolo, só admissíveis ao debutante ministro Santos Pereira, há quem ajuíze que favorecem o governo, na medida em que desvalorizam as críticas e o azedo confronto com o primeiro-ministro e com a sua subserviência à visão de uma Europa alemã. Não me parece que o comum dos eleitores acompanhe estas interpretações “maquiavélicas” urdidas nos gabinetes ministeriais. Mais do que Passos Coelho, ou do que qualquer outro dirigente social-democrata, Cavaco Silva é, para o bem e para o mal, uma imagem de “marca” do PSD, ao serviço do qual ganhou várias eleições. Por isso, o primeiro-ministro não se livra facilmente do peso das críticas severas que Cavaco Silva dirige ao governo, apesar de algumas línguas viperinas, exactamente aquelas que, nos corredores do poder, vão depenicando as migalhas que sobejam do Orçamento, procurarem associar essas críticas à defesa de interesses pessoais, aproveitando as debilidades próprias de quem troca o vencimento do cargo pela reforma do Banco de Portugal.
Apesar de tudo isso, é cada vez mais claro que Cavaco Silva pensa que o rumo traçado pelo governo não nos levará a bom porto, mas apenas ao empobrecimento, à recessão e ao desemprego, como quem cai num poço sem fundo. Por estes dias, transmitiu-nos a sua “satisfação” pela carta assinada por 12 primeiros-ministros europeus, dirigida ao presidente do Concelho Europeu e ao presidente da Comissão Europeia, onde se reclamam medidas que permitam o crescimento económico da Europa e o alívio do desemprego. Este sentimento de Cavaco Silva é tanto mais significativo quanto se sabe que o primeiro-ministro português não é um dos subscritores da dita carta e, ao que consta, nem sequer foi contactado para o efeito. Mas, não se ficou por aqui, talvez receando que a sua mensagem não fosse suficientemente clara. No dia seguinte, afirmou, preto no branco: “Não se pode somar permanentemente austeridade a mais austeridade”, glosando uma máxima inscrita em quase todos os manuais de economia, repetindo o que a oposição não se cansa de dizer e cavando um fosso na “solidariedade institucional” entre a Presidência da República e o governo. Se Passos Coelho pensa que Cavaco Silva está descredibilizado ao ponto de já ninguém dar atenção ao que diz, corre um grande risco de se enganar, sobretudo porque a evolução da situação na União Europeia, nomeadamente na Grécia (a mesma receita que está a ser aplicada a Portugal), irá mostrar a curto prazo o insucesso da “solução alemã”.
PS – O ministro das Finanças alemão afirmou, na quarta-feira passada, que tem “sérias dúvidas” em relação às vantagens que as eleições na Grécia, marcadas para Abril, poderão trazer, denunciando o que pensa sobre o que será a democracia numa Europa alemã: um estorvo descartável de acordo com as conveniências dos interesses financeiros. Quase em simultâneo, o ministro do Interior alemão, em entrevista ao semanário alemão “Der Spiegel”, defende a saída da Grécia da zona Euro, e que “devem ser criados incentivos para que essa saída não possa ser recusada”, denunciando as verdadeiras intenções de Berlim em relação à Grécia. Depois, no final deste ano ou no começo do próximo, despedaçada a Grécia, será Portugal a ser questionado, com os mesmos fundamentos, a propósito do segundo resgate. A Alemanha só é europeia quando está em risco. Foi assim até à reunificação, porque um muro atravessava as ruas de Berlim.» [i]
Apesar de tudo isso, é cada vez mais claro que Cavaco Silva pensa que o rumo traçado pelo governo não nos levará a bom porto, mas apenas ao empobrecimento, à recessão e ao desemprego, como quem cai num poço sem fundo. Por estes dias, transmitiu-nos a sua “satisfação” pela carta assinada por 12 primeiros-ministros europeus, dirigida ao presidente do Concelho Europeu e ao presidente da Comissão Europeia, onde se reclamam medidas que permitam o crescimento económico da Europa e o alívio do desemprego. Este sentimento de Cavaco Silva é tanto mais significativo quanto se sabe que o primeiro-ministro português não é um dos subscritores da dita carta e, ao que consta, nem sequer foi contactado para o efeito. Mas, não se ficou por aqui, talvez receando que a sua mensagem não fosse suficientemente clara. No dia seguinte, afirmou, preto no branco: “Não se pode somar permanentemente austeridade a mais austeridade”, glosando uma máxima inscrita em quase todos os manuais de economia, repetindo o que a oposição não se cansa de dizer e cavando um fosso na “solidariedade institucional” entre a Presidência da República e o governo. Se Passos Coelho pensa que Cavaco Silva está descredibilizado ao ponto de já ninguém dar atenção ao que diz, corre um grande risco de se enganar, sobretudo porque a evolução da situação na União Europeia, nomeadamente na Grécia (a mesma receita que está a ser aplicada a Portugal), irá mostrar a curto prazo o insucesso da “solução alemã”.
PS – O ministro das Finanças alemão afirmou, na quarta-feira passada, que tem “sérias dúvidas” em relação às vantagens que as eleições na Grécia, marcadas para Abril, poderão trazer, denunciando o que pensa sobre o que será a democracia numa Europa alemã: um estorvo descartável de acordo com as conveniências dos interesses financeiros. Quase em simultâneo, o ministro do Interior alemão, em entrevista ao semanário alemão “Der Spiegel”, defende a saída da Grécia da zona Euro, e que “devem ser criados incentivos para que essa saída não possa ser recusada”, denunciando as verdadeiras intenções de Berlim em relação à Grécia. Depois, no final deste ano ou no começo do próximo, despedaçada a Grécia, será Portugal a ser questionado, com os mesmos fundamentos, a propósito do segundo resgate. A Alemanha só é europeia quando está em risco. Foi assim até à reunificação, porque um muro atravessava as ruas de Berlim.» [i]
Autor:
Tomás Vasques.
Kafkiano! escreve o jornal "i"
«Kafkiano O historial dos vencimentos do novo conselho de administração do banco estatal mais parece um processo kafkiano. Longe vão os tempos em que António de Sousa recebia acima dos 700 mil euros por ano. Agora, os novos administradores convidados pelo governo liderado por Pedro Passos Coelho defrontaram-se com a primeira surpresa quando perceberam que os seus vencimentos eram inferiores em 40% ao que ganhavam os seus antecessores, informação que lhes chegou através da Internet. Os 11 administradores, entre executivos e não executivos, deste conselho de administração, ganham menos do que os sete que os precederam.
Depois, deixaram de receber subsídio de férias e de Natal. Agora, e com a publicação do novo estatuto do gestor público, os que cortaram os vínculos com as empresas onde trabalhavam para irem para a CGD passarão a receber 80% do vencimento do primeiro-ministro. Ou seja, em menos de um ano, viram os ordenados descerem em flecha.» [i]
Depois, deixaram de receber subsídio de férias e de Natal. Agora, e com a publicação do novo estatuto do gestor público, os que cortaram os vínculos com as empresas onde trabalhavam para irem para a CGD passarão a receber 80% do vencimento do primeiro-ministro. Ou seja, em menos de um ano, viram os ordenados descerem em flecha.» [i]
Parecer:
O mais divertido está no facto de mais uma vez os rapazes do banco do senhor Costa serem tratados como diplomatas suíços residentes em Portugal, estão acima de qualquer lei ou política de austeridade da República.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»
Grande Rosalino
«Hélder Rosalino garante que a terceira avaliação da 'troika' "correu bem, de forma positiva".
O secretário de estado da Administração Pública, Hélder Rosalino, garantiu hoje que a terceira avaliação da troika "correu bem, de forma positiva" e que "se cumpriram as metas quantitativas previstas no memorando".
O governante disse que "a expectativa é de que a quarta tranche seja libertada em Abril", que deverá ascender a 14 mil milhões de euros.» [DE]
O secretário de estado da Administração Pública, Hélder Rosalino, garantiu hoje que a terceira avaliação da troika "correu bem, de forma positiva" e que "se cumpriram as metas quantitativas previstas no memorando".
O governante disse que "a expectativa é de que a quarta tranche seja libertada em Abril", que deverá ascender a 14 mil milhões de euros.» [DE]
Parecer:
Parece que o governo encarregou o funcionariozeco do Banco de Portugal a divulgar as conclusões da Troika... Ridículo.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao Gaspar se na próxima avaliação a divulgação caberá ao tenente da GNR que chefia a unidade do ministério das Finanças.»
Autoeuropa preocupada com os obesos
«Durante uma conferência no Porto, o director-geral da Autoeuropa, António Melo Pires, explicou à plateia composta por profissionais da indústria metalúrgica os custos que poderão ter os acidentes de trabalho.
Além do ginásio na empresa, o responsável da companhia referiu que, a partir deste ano, o habitual “check-up” aos trabalhadores vai não só “incidir sobre os factores de saúde, mas também sobre os factores preventivos, como a alimentação”.» [Jornal de Negócios]
Além do ginásio na empresa, o responsável da companhia referiu que, a partir deste ano, o habitual “check-up” aos trabalhadores vai não só “incidir sobre os factores de saúde, mas também sobre os factores preventivos, como a alimentação”.» [Jornal de Negócios]
Parecer:
Coisas que preocupam os bons gestores.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao Álvaro se já pensou noutra coisa para além dos cortes salariais.»
Carl"s Jr./Hardee