Foto Jumento
Ermida de Santo Amaro, Lisboa
Imagens dos visitantes d'O Jumento
O velhinho óleo de fígado de bacalhau, Tenerife [A. Cabral]
Jumento do dia
Alberto João Jardim
Podendo ser acusado de ter um gesto que pressupões a independência Alberto João Jardim vai ignorar a diplomacia da República que, aliás, não existe, e convidar a chanceler alemã a visitar a Madeira, um gesto inédito pois o senhor das ilhas costuma dispensar a visita dos que falam mal dos seus governos.
Se a moda pega e o Alberto passar a convidar quem fala mal do que se passa na nossa ilha africana a Madeira corre um sério risco de enfrentar um problema idêntico ao que se regista em Veneza, vergando ao peso de tanta gente pode começar a afundar.
«Alberto João Jardim acredita que a chanceler alemã "se enganou e confundiu a Madeira com uma região industrial do centro da França".
O presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, afirmou este sábado que vai escrever na próxima semana uma carta à chanceler alemã Angela Merkel para a convidar a visitar a região.» [DE]
Se a moda pega e o Alberto passar a convidar quem fala mal do que se passa na nossa ilha africana a Madeira corre um sério risco de enfrentar um problema idêntico ao que se regista em Veneza, vergando ao peso de tanta gente pode começar a afundar.
«Alberto João Jardim acredita que a chanceler alemã "se enganou e confundiu a Madeira com uma região industrial do centro da França".
O presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, afirmou este sábado que vai escrever na próxima semana uma carta à chanceler alemã Angela Merkel para a convidar a visitar a região.» [DE]
A revolução em marcha
«Que o primeiro-ministro me aconselhe a não ser piegas, por eu pensar que ele com a inestimável orientação dos irresponsáveis líderes europeus está a conduzir Portugal para uma gigantesca catástrofe, é apenas uma tolice. Não estou desempregado, ganho mais do que a maioria dos portugueses e consigo sustentar a minha família. Serei então piegas, na opinião do primeiro-ministro. Eu e mais uns milhares que conseguem, com menos dificuldades, aguentar os sacrifícios impostos. Até poderia argumentar que a minha revolta não tem a ver comigo mas com os meus filhos, cujo futuro, sempre na minha opinião, o primeiro-ministro está a ajudar, e de que maneira, a hipotecar. Mas, se calhar, é só pieguice minha. Ficamos assim: o primeiro-ministro acha-me piegas e eu acho que ele disse uma tolice. Tudo jóia.
Já não me parece que os meus concidadãos que viram ser-lhes retirado 50% do décimo terceiro mês sem qualquer razão, os funcionários públicos que vão ficar sem dois salários, os pensionistas que descontaram toda a vida para agora lhes ser dito que foi em vão, os empresários que não encontram crédito para as suas empresas funcionarem, são capazes de não ter o mesmo fair play que eu. São mesmo capazes de se sentir insultados.
Também não me parece que os quase oitocentos mil desempregados, os pensionistas que sobrevivem com quatrocentos euros por mês, os que ganham o salário mínimo ou os afortunados que ganham a perfeita loucura de setecentos e cinquenta euros se sintam propriamente elogiados quando o homem que devia saber das suas terríveis condições de vida lhes dá uma virtual pancadinha nas costas e lhes diz para não serem piegas.
É que eles até são complacentes e portam-se bem. Sabem que trabalham mais horas que os outros trabalhadores europeus, que têm menos férias e que ganham menos, e não se queixam. Apesar de saberem que a culpa do actual estado de coisas não é deles, aceitam pagar os desmandos do sistema financeiro internacional, a incompetência e a falta de visão de quem esteve ao leme dos destinos de Portugal, a loucura das Merkels, Sarkozys e quejandos. Aceitam porque pensam que não há grandes alternativas, porque interiorizaram, certa ou erradamente, que a austeridade é inevitável.
Mas até poderíamos ser complacentes com o primeiro-ministro. Já sabemos que Passos Coelho tem pouco cuidado com as palavras. O problema é que na prelecção que proferiu "o menos piegas" não surgiu do nada. Veio, sim, abrilhantar um discurso prenhe de moralismo revolucionário. Desde casar o fim da tolerância de ponto no Carnaval com uma espécie de nascimento de homem novo de "comportamento aberto e competitivo", mostrando que quem critica a medida é "um agarrado ao passado" e quem a defende "tem ambição", passando pela lembrança de que quando a troika trabalhava os portugueses gozavam feriados como se isso fosse um sinal de "velhos comportamentos preguiçosos e demasiado autocentrados", até à acusação de que quem acha que a austeridade desmesurada nos levará a um beco sem saída quer "voltar para trás" e "gastar o dinheiro que Portugal não tem", sem que faltasse o épico-revolucionário "transformação de velhas estruturas", valeu quase tudo. Os velhos reaccionários contra os jovens revolucionários, os preguiçosos contra os trabalhadores, os que celebram um glorioso futuro e os que se agarram às velhas tradições.
A Passos Coelho só faltou mesmo exprimir claramente que, na sua opinião, as razões da crise que atravessamos são fruto da suposta preguiça e indolência portuguesa.
O "menos piegas" encaixou bem no discurso de quem pensa que é preciso destruir tudo, arrasar um modo de vida para depois construir um mundo novo em que os fortes e competitivos vencerão e os fracos chorarão na sua pieguice. Foi um discurso de um revolucionário, não de um reformador. Um discurso de um radical, não de um moderado. Um discurso de um líder de um partido qualquer, mas não de um partido social-democrata ou sequer de um liberal.
Ninguém negará ao primeiro-ministro legitimidade para impor o que acha melhor para o País e ninguém o pode acusar de, honesta e frontalmente, o não anunciar. O que talvez fosse conveniente é já em Março, durante o congresso do Partido Social Democrata, mudar o nome do partido. É que as palavras são importantes e ainda têm significado.» [DN]
Já não me parece que os meus concidadãos que viram ser-lhes retirado 50% do décimo terceiro mês sem qualquer razão, os funcionários públicos que vão ficar sem dois salários, os pensionistas que descontaram toda a vida para agora lhes ser dito que foi em vão, os empresários que não encontram crédito para as suas empresas funcionarem, são capazes de não ter o mesmo fair play que eu. São mesmo capazes de se sentir insultados.
Também não me parece que os quase oitocentos mil desempregados, os pensionistas que sobrevivem com quatrocentos euros por mês, os que ganham o salário mínimo ou os afortunados que ganham a perfeita loucura de setecentos e cinquenta euros se sintam propriamente elogiados quando o homem que devia saber das suas terríveis condições de vida lhes dá uma virtual pancadinha nas costas e lhes diz para não serem piegas.
É que eles até são complacentes e portam-se bem. Sabem que trabalham mais horas que os outros trabalhadores europeus, que têm menos férias e que ganham menos, e não se queixam. Apesar de saberem que a culpa do actual estado de coisas não é deles, aceitam pagar os desmandos do sistema financeiro internacional, a incompetência e a falta de visão de quem esteve ao leme dos destinos de Portugal, a loucura das Merkels, Sarkozys e quejandos. Aceitam porque pensam que não há grandes alternativas, porque interiorizaram, certa ou erradamente, que a austeridade é inevitável.
Mas até poderíamos ser complacentes com o primeiro-ministro. Já sabemos que Passos Coelho tem pouco cuidado com as palavras. O problema é que na prelecção que proferiu "o menos piegas" não surgiu do nada. Veio, sim, abrilhantar um discurso prenhe de moralismo revolucionário. Desde casar o fim da tolerância de ponto no Carnaval com uma espécie de nascimento de homem novo de "comportamento aberto e competitivo", mostrando que quem critica a medida é "um agarrado ao passado" e quem a defende "tem ambição", passando pela lembrança de que quando a troika trabalhava os portugueses gozavam feriados como se isso fosse um sinal de "velhos comportamentos preguiçosos e demasiado autocentrados", até à acusação de que quem acha que a austeridade desmesurada nos levará a um beco sem saída quer "voltar para trás" e "gastar o dinheiro que Portugal não tem", sem que faltasse o épico-revolucionário "transformação de velhas estruturas", valeu quase tudo. Os velhos reaccionários contra os jovens revolucionários, os preguiçosos contra os trabalhadores, os que celebram um glorioso futuro e os que se agarram às velhas tradições.
A Passos Coelho só faltou mesmo exprimir claramente que, na sua opinião, as razões da crise que atravessamos são fruto da suposta preguiça e indolência portuguesa.
O "menos piegas" encaixou bem no discurso de quem pensa que é preciso destruir tudo, arrasar um modo de vida para depois construir um mundo novo em que os fortes e competitivos vencerão e os fracos chorarão na sua pieguice. Foi um discurso de um revolucionário, não de um reformador. Um discurso de um radical, não de um moderado. Um discurso de um líder de um partido qualquer, mas não de um partido social-democrata ou sequer de um liberal.
Ninguém negará ao primeiro-ministro legitimidade para impor o que acha melhor para o País e ninguém o pode acusar de, honesta e frontalmente, o não anunciar. O que talvez fosse conveniente é já em Março, durante o congresso do Partido Social Democrata, mudar o nome do partido. É que as palavras são importantes e ainda têm significado.» [DN]
Autor:
Pedro Marques Lopes.
Gesto luso-alemão
«Uma foto de 1936 marcou a semana. Um operário de um estaleiro de Hamburgo, no meio de uma multidão que fazia saudação nazi, é o único de braços cruzados. August Landmesser, de 26 anos, tinha boas razões para não ser nazi, era casado com uma judia alemã, mas também tinha prudentes razões para não chamar a atenção com gesto tão rebelde. E, no entanto, fê-lo. Por causa dos braços cruzados num mar contrário, Landmesser foi preso, metido durante a II Guerra Mundial num batalhão penal e desapareceu na frente russa. Quando, agora, um blogue recuperou a foto, a admiração que temos pelos gestos solitários, corajosos e calmos tornou a imagem viral e passeou-a pelo mundo fora. Por cá, também, mas com uma lacuna jornalística (julgo). As notícias longínquas têm interesse em ser acompanhadas por similares notícias locais, se as houver, para melhor as explicarmos. Por esquecimento, ignorância ou tão-só esse vício dos jornais que dá por sabido o que já foi publicado ("já demos..."), não vi, esta semana, a foto dos irmãos portugueses de August Landmesser. Em 30 de janeiro de 1938, no Portugal-Espanha, no estádio das Salésias, a seleção portuguesa perfilou-se ao hino nacional e estendeu o braço em saudação fascista, como era norma. Mas três jogadores - Artur Quaresma, José Simões e Mariano Amaro, todos do Belenenses - não fizeram o gesto fascista. Há foto. Resultado final do jogo: lembro-me do nome dos três, dos outros oito não.» [DN]
Autor:
Ferreira Fernandes.
PS: dois destes três jogadores foram ainda mais longe, Mariano Amaro e José Simões estenderam os braços mas de punhos cerrados.
PS: dois destes três jogadores foram ainda mais longe, Mariano Amaro e José Simões estenderam os braços mas de punhos cerrados.
Ministra alemã pede aumento dos salários
«A ministra alemã do Trabalho disse, em entrevista publicada hoje no jornal Bild am Sonntag, que os salários no país deviam ser aumentados por uma questão de partilha do sucesso sentido pelas empresas.» [DN]
Parecer:
O sucesso de uns é a desgraça de outros.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se um sorriso.»
Até tu Eduardo?
«O antigo ministro da Economia, Eduardo Catroga, admitiu hoje a necessidade de reajustar o programa de auxílio a Portugal, por iniciativa da troika, porque os seus pressupostos mudaram, depois da Alemanha ter dito que Berlim estava disposto a tal.
"A troika é que deveria tomar a iniciativa de fazer o reajustamento, eu interpreto as palavras do ministro alemão nesse sentido, porque foi a troika que aceitou um determinado conjunto de pressupostos, feitos em abril, maio. Agora quando fizerem um ano em abril, maio, precisam de ser reavaliados", disse Eduardo Catroga à agência Lusa, à margem de uma conferência no Instituto Superior de Economia e Gestão.» [i]
"A troika é que deveria tomar a iniciativa de fazer o reajustamento, eu interpreto as palavras do ministro alemão nesse sentido, porque foi a troika que aceitou um determinado conjunto de pressupostos, feitos em abril, maio. Agora quando fizerem um ano em abril, maio, precisam de ser reavaliados", disse Eduardo Catroga à agência Lusa, à margem de uma conferência no Instituto Superior de Economia e Gestão.» [i]
Parecer:
Aos poucos todos vão concluindo o óbvio, só se esquecem de responsabilizar o Gaspar pelos excessos que estão a conduzir a economia portuguesa à tragédia.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se um sorriso.»