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Mindelo, Cabo Verde [A. Cabral]
Jumento do dia
Opus Paulo Macedo
Paulo Macedo, um ministro que ao que se diz pertence a uma organização secreta a que deve obediência, veio para o governo com a imagem de super competente. Mas passados seis meses começa a ser evidente que se tratou de um flop, uma coisa é ser director-geral dos Impostos e entreter-se a fazer propaganda divulgando como seus os resultados do trabalho alheio, outra é mostrar o que vale sem muletas.
Insensível a raciocínios inteligentes o competentíssimo Opus Macedo tenta passar a ideia de que a falta de reservas de sangue não é resultado de decisões suas, mas os dadores não parecem concordar. Por este andar não vamos ter o pessoal da Saúde em peregrinação para a Sé de Lisboa a fim de participar na tradicional missa de acção de graças organizada pelo opus Macedo. Em compensação pela perda desta cerimónia o país arrisca-se a ter muitas extremas-unções.
«O presidente do Instituto Português do Sangue (IPS) disse esta quinta-feira que as reservas de sangue dos grupos A e 0 negativos são suficientes para «dois ou três dias», apelando aos dadores de sangue que voltem a doar.
As dádivas de sangue baixaram em cerca de 20 por cento nos últimos dois dias, na sequência de notícias sobre o desperdício de plasma em Portugal, disse o secretário de Estado adjunto da Saúde, em conferência de imprensa no Ministério da Saúde, em Lisboa.
O presidente do IPS, Hélder Trindade, esclareceu que os grupos sanguíneos A e 0 negativo são aqueles que apresentam maiores carências: «Em relação ao 0 negativo e ao A negativo, nós hoje estamos a falar de [reservas para] muito poucos dias. Dois ou três dias», afirmou.» [TSF]
««O sr. ministro deve deitar mãos à consciência e perceber que errou, deve dar a mão à palmatória e devia ter ido à televisão explicar com verdade o que causou a situação», acrescentou.
Esta associação entregou uma petição na Assembleia da República para que o Ministério da Saúde possa dar um passo atrás no fim da isenção das taxas moderadoras para quem der sangue.» [TSF]
Insensível a raciocínios inteligentes o competentíssimo Opus Macedo tenta passar a ideia de que a falta de reservas de sangue não é resultado de decisões suas, mas os dadores não parecem concordar. Por este andar não vamos ter o pessoal da Saúde em peregrinação para a Sé de Lisboa a fim de participar na tradicional missa de acção de graças organizada pelo opus Macedo. Em compensação pela perda desta cerimónia o país arrisca-se a ter muitas extremas-unções.
«O presidente do Instituto Português do Sangue (IPS) disse esta quinta-feira que as reservas de sangue dos grupos A e 0 negativos são suficientes para «dois ou três dias», apelando aos dadores de sangue que voltem a doar.
As dádivas de sangue baixaram em cerca de 20 por cento nos últimos dois dias, na sequência de notícias sobre o desperdício de plasma em Portugal, disse o secretário de Estado adjunto da Saúde, em conferência de imprensa no Ministério da Saúde, em Lisboa.
O presidente do IPS, Hélder Trindade, esclareceu que os grupos sanguíneos A e 0 negativo são aqueles que apresentam maiores carências: «Em relação ao 0 negativo e ao A negativo, nós hoje estamos a falar de [reservas para] muito poucos dias. Dois ou três dias», afirmou.» [TSF]
««O sr. ministro deve deitar mãos à consciência e perceber que errou, deve dar a mão à palmatória e devia ter ido à televisão explicar com verdade o que causou a situação», acrescentou.
Esta associação entregou uma petição na Assembleia da República para que o Ministério da Saúde possa dar um passo atrás no fim da isenção das taxas moderadoras para quem der sangue.» [TSF]
Muito além da 'Troika'
«O Memorando estabelecido com a ‘troika’, já o disse aqui, “tem as costas largas”. De facto, é muitas vezes a despropósito que o Governo aparece a desculpar as suas próprias escolhas com a necessidade de “cumprir o Memorando”.
No decorrer do último debate quinzenal, por exemplo, o primeiro-ministro - numa clara tentativa de condicionamento da oposição do Partido Socialista - chegou a dizer ao Secretário-Geral do PS para não se queixar do Governo por estar a impôr aos portugueses "os sacrifícios que o Governo do seu partido negociou".
Sucede que o argumento é falso: os principais sacrifícios que o Governo está a impor aos portugueses não são os que o Governo do PS negociou com a ‘troika' - são outros. E bem mais duros do que os previstos no Memorando inicial. É importante explicar isto para que os portugueses saibam o que realmente significa esta loucura de termos um Governo que, apesar da recessão, insiste numa austeridade "além da ‘troika'". Entre Julho e Agosto do ano passado, o actual Governo anunciou três medidas adicionais para 2011 (um verdadeiro PEC V): o imposto extraordinário, equivalente a metade do subsídio de Natal de 2011; o aumento do IVA da electricidade e do gás, para a taxa máxima de 23% e o aumento brutal dos transportes, entre 15 e 25%. Acontece que o Memorando negociado pelo Governo do PS não previa NENHUMA medida adicional para 2011 (e está hoje confirmado que nenhuma destas medidas era necessária para cumprir a meta do défice, que até vai ficar bem abaixo do previsto).
Depois, no Orçamento para 2012, o Governo adoptou um novo conjunto de medidas adicionais (um autêntico PEC VI): o aumento do IVA da restauração, para a taxa máxima de 23%; o aumento para o dobro das taxas moderadoras; novo aumento brutal dos transportes públicos e dos passes sociais (com redução ou eliminação dos apoios às crianças, aos jovens e aos idosos); o aumento do IRC, com a eliminação do escalão reduzido de 12,5% e, sobretudo, a eliminação (pelo menos neste ano e no próximo) do 13º e do 14º mês dos funcionários públicos e pensionistas.
Mais uma vez, NENHUMA destas medidas estava prevista (ao menos nestes termos) no Memorando negociado com a ‘troika' pelo Governo do PS. Nalguns casos (transportes, taxas moderadoras e IVA) o Memorando inicial previa, é certo, a ocorrência de aumentos, embora não quantificados - mas nunca estiveram pressupostos aumentos tão brutais como os que vieram a ser decididos pelo Governo. Veja-se o caso, bem elucidativo, dos aumentos do IVA: no Memorando inicial estava prevista uma reestruturação do IVA capaz de gerar uma receita adicional de 410 milhões de euros; porém, os aumentos do IVA decididos pelo Governo visam uma receita adicional que o Orçamento para 2012 estima em mais de 2000 milhões de euros (!) - ou seja, cinco vezes mais do que o previsto no Memorando negociado com a ‘troika' pelo Governo do PS!
Contas feitas pelo próprio Governo, a austeridade "além da troika" foi da ordem dos 1000 milhões de euros em 2011, atingirá os 4300 milhões de euros em 2012 e, pelo que já se sabe (IVA, cortes de salários e pensões), será de pelo menos 3200 milhões de euros em 2013. Tudo somado, teremos, em apenas três anos, 8500 milhões de euros de sacrifícios "além da ‘troika'". Que fique claro: estes sacrifícios, gravemente recessivos e em muitos casos desnecessários (como se provou em 2011), foram decididos e negociados por alguém - certamente. Mas não foi pelo Governo do PS.» [DE]
No decorrer do último debate quinzenal, por exemplo, o primeiro-ministro - numa clara tentativa de condicionamento da oposição do Partido Socialista - chegou a dizer ao Secretário-Geral do PS para não se queixar do Governo por estar a impôr aos portugueses "os sacrifícios que o Governo do seu partido negociou".
Sucede que o argumento é falso: os principais sacrifícios que o Governo está a impor aos portugueses não são os que o Governo do PS negociou com a ‘troika' - são outros. E bem mais duros do que os previstos no Memorando inicial. É importante explicar isto para que os portugueses saibam o que realmente significa esta loucura de termos um Governo que, apesar da recessão, insiste numa austeridade "além da ‘troika'". Entre Julho e Agosto do ano passado, o actual Governo anunciou três medidas adicionais para 2011 (um verdadeiro PEC V): o imposto extraordinário, equivalente a metade do subsídio de Natal de 2011; o aumento do IVA da electricidade e do gás, para a taxa máxima de 23% e o aumento brutal dos transportes, entre 15 e 25%. Acontece que o Memorando negociado pelo Governo do PS não previa NENHUMA medida adicional para 2011 (e está hoje confirmado que nenhuma destas medidas era necessária para cumprir a meta do défice, que até vai ficar bem abaixo do previsto).
Depois, no Orçamento para 2012, o Governo adoptou um novo conjunto de medidas adicionais (um autêntico PEC VI): o aumento do IVA da restauração, para a taxa máxima de 23%; o aumento para o dobro das taxas moderadoras; novo aumento brutal dos transportes públicos e dos passes sociais (com redução ou eliminação dos apoios às crianças, aos jovens e aos idosos); o aumento do IRC, com a eliminação do escalão reduzido de 12,5% e, sobretudo, a eliminação (pelo menos neste ano e no próximo) do 13º e do 14º mês dos funcionários públicos e pensionistas.
Mais uma vez, NENHUMA destas medidas estava prevista (ao menos nestes termos) no Memorando negociado com a ‘troika' pelo Governo do PS. Nalguns casos (transportes, taxas moderadoras e IVA) o Memorando inicial previa, é certo, a ocorrência de aumentos, embora não quantificados - mas nunca estiveram pressupostos aumentos tão brutais como os que vieram a ser decididos pelo Governo. Veja-se o caso, bem elucidativo, dos aumentos do IVA: no Memorando inicial estava prevista uma reestruturação do IVA capaz de gerar uma receita adicional de 410 milhões de euros; porém, os aumentos do IVA decididos pelo Governo visam uma receita adicional que o Orçamento para 2012 estima em mais de 2000 milhões de euros (!) - ou seja, cinco vezes mais do que o previsto no Memorando negociado com a ‘troika' pelo Governo do PS!
Contas feitas pelo próprio Governo, a austeridade "além da troika" foi da ordem dos 1000 milhões de euros em 2011, atingirá os 4300 milhões de euros em 2012 e, pelo que já se sabe (IVA, cortes de salários e pensões), será de pelo menos 3200 milhões de euros em 2013. Tudo somado, teremos, em apenas três anos, 8500 milhões de euros de sacrifícios "além da ‘troika'". Que fique claro: estes sacrifícios, gravemente recessivos e em muitos casos desnecessários (como se provou em 2011), foram decididos e negociados por alguém - certamente. Mas não foi pelo Governo do PS.» [DE]
Autor:
Pedro Silva Pereira.
Os piegas não são todos iguais
«Imagine que é um contribuinte comum, arredado dos salões do poder, e sem linha aberta para qualquer gabinete ministerial. Imagine que vende serviços a um organismo público e que, ao mesmo tempo, tem uma dívida ao Fisco que não consegue pagar. Adere a um plano de pagamento a prestações, mas, por especialíssima deferência, até lhe concedem a possibilidade de ir saldando a dívida com os honorários futuros que se estima que venha a continuar a receber do Estado.
Fica acordado que o processo se conclui em dez anos, e que a meio e no final do período, se se verificar que ainda falta dinheiro, você tem de repor a diferença.
Chegados ao fim dos dois prazos conclui-se que as retenções feitas à cabeça foram insuficientes e tem alguns milhares de euros a pagar. Você esperneia, reclama que as presunções sobre as suas remunerações futuras, afinal, partiram de pressupostos errados, que foram sobreavaliadas, e que o Estado é que criou o buraco porque entretanto até começou a encomendar-lhe menos serviços e a pagar-lhe menos, et cetera, et cetera. Acha que os argumentos pegariam?
Pois agora mudemos o nome do protagonista para "clubes de futebol". Traços gerais, em 1999, Estado, Federação e Liga acordaram que as dívidas históricas dos clubes ao Fisco seriam pagas com receitas futuras do totobola. Quando chegámos ao fim da primeira avaliação intercalar, havia 20 milhões de euros a saldar. Federação e Liga desdobraram-se em argumentos e enxamearam os tribunais com mais de meia centena de oposições que desde então estão a engrossar a embaraçosa estatística das pendências judiciais. Pelo meio, amealharam uma vitória: em 2006, o Governo aceitou conceder-lhes uma percentagem sobre todos os jogos geridos pela Santa Casa, em vez exclusivamente do totobola.
Na hora de fazer as contas finais, conclui-se por um novo desvio de 13 milhões de euros. O que aconteceria se fosse o leitor o protagonista desta já longa e sinuosa história? O mais certo seria dizerem-lhe para pagar, reclamar com garantia ou seria penhorado. Com os azares que hoje em dia são indulgentemente atribuídos ao automatismo dos sistemas informáticos, ainda o penhoravam antes de esgotado o período para recorrer a tribunal.
E o que vai acontecer na realidade? Desde já, sabe-se que o Governo manifestou uma (até agora) inaudita sensibilidade e disponibilidade para o diálogo. Que aceita ouvir os argumentos dos clubes e ainda constituir um grupo de trabalho para avaliar uma revisão dos termos da dívida, que já foi instaurada pelos serviços do Fisco.
Moral da história: os piegas não são todos iguais. Alguns conseguem falar ao coração do Governo.» [Jornal de Negócios]
Fica acordado que o processo se conclui em dez anos, e que a meio e no final do período, se se verificar que ainda falta dinheiro, você tem de repor a diferença.
Chegados ao fim dos dois prazos conclui-se que as retenções feitas à cabeça foram insuficientes e tem alguns milhares de euros a pagar. Você esperneia, reclama que as presunções sobre as suas remunerações futuras, afinal, partiram de pressupostos errados, que foram sobreavaliadas, e que o Estado é que criou o buraco porque entretanto até começou a encomendar-lhe menos serviços e a pagar-lhe menos, et cetera, et cetera. Acha que os argumentos pegariam?
Pois agora mudemos o nome do protagonista para "clubes de futebol". Traços gerais, em 1999, Estado, Federação e Liga acordaram que as dívidas históricas dos clubes ao Fisco seriam pagas com receitas futuras do totobola. Quando chegámos ao fim da primeira avaliação intercalar, havia 20 milhões de euros a saldar. Federação e Liga desdobraram-se em argumentos e enxamearam os tribunais com mais de meia centena de oposições que desde então estão a engrossar a embaraçosa estatística das pendências judiciais. Pelo meio, amealharam uma vitória: em 2006, o Governo aceitou conceder-lhes uma percentagem sobre todos os jogos geridos pela Santa Casa, em vez exclusivamente do totobola.
Na hora de fazer as contas finais, conclui-se por um novo desvio de 13 milhões de euros. O que aconteceria se fosse o leitor o protagonista desta já longa e sinuosa história? O mais certo seria dizerem-lhe para pagar, reclamar com garantia ou seria penhorado. Com os azares que hoje em dia são indulgentemente atribuídos ao automatismo dos sistemas informáticos, ainda o penhoravam antes de esgotado o período para recorrer a tribunal.
E o que vai acontecer na realidade? Desde já, sabe-se que o Governo manifestou uma (até agora) inaudita sensibilidade e disponibilidade para o diálogo. Que aceita ouvir os argumentos dos clubes e ainda constituir um grupo de trabalho para avaliar uma revisão dos termos da dívida, que já foi instaurada pelos serviços do Fisco.
Moral da história: os piegas não são todos iguais. Alguns conseguem falar ao coração do Governo.» [Jornal de Negócios]
Autor:
Elisabete Miranda.
O Piegas Coelho
«Alguma coisa errada em se ser contra a pieguice? Nada: ninguém deve ter paciência para gente que se vitimiza. Um discurso político contra a lamúria e pela exigência não terá assim, à partida, qualquer problema. Grandes discursos ficaram na história por, precisamente, apelarem à coragem e à resiliência perante situações brutais.
Por que motivo, então, perguntar--se-á, tão generalizado repúdio e indignação face às palavras de Passos na segunda-feira, repúdio a que nem o próprio Governo foi alheio, com Portas a frisar que "os portugueses devem ser tratados como um povo que está a conseguir" (o que estarão os portugueses a conseguir sendo, é claro, outra questão)? É muito simples: porque a situação brutal com a qual os portugueses são confrontados é não só em grande parte uma escolha do primeiro-ministro, que não se coíbe de dizer e fazer repetir pelos seus álvaros que "o que estamos a fazer não fazemos porque a troika nos pede mas porque é o que queremos", como surge depois de este ter passado uma campanha a prometer o contrário e a atacar o Governo anterior por "impor demasiados sacrifícios".
Este primeiro-ministro é a mesma pessoa que, de voz embargada, pediu "desculpa aos portugueses" por ter viabilizado medidas do Governo Sócrates que caracterizava como "muito duras". É a mesma pessoa que garantiu no Natal de 2010 que na sua casa "só haveria prendas para a filha mais nova"; que com toda a oposição chumbou o último PEC por ser "excessivamente penalizador para os portugueses" enquanto defendia que "a única saída" era o pedido de ajuda externa - e desde então nada mais faz que responsabilizar o Governo anterior por esse pedido que ele próprio tornou inevitável, usando-o como justificação para aplicar, "custe o que custar", o programa que, confessa agora, sempre foi o seu.
Este é o PM que mal tomou posse se locupletou com meio subsídio de Natal do País alegando "graves desvios orçamentais" e que no fim de 2011 foi desmentido pela Unidade Técnica de Apoio Orçamental - sem por isso se lembrar de "morder a língua". É o PM que acusa os portugueses de terem demasiadas férias, mas passou três semanas no Algarve mal tomou posse, depois de ter garantido que "nem teria tempo para se sentar". É o PM que ganhou as eleições a chamar malvados, incompetentes e ladrões a quem "fazia sofrer os portugueses" e a garantir que com ele a austeridade deixaria de incidir sobre as pessoas, os mercados desceriam os juros, o Governo não mais seria "uma agência de empregos para amigos" e a crise internacional, que nunca tinha existido, deixaria de ser "uma desculpa". E que agora, severo, paternal e sobretudo exemplar, decreta que o problema mesmo são os portugueses e a sua "falta de exigência" - porque, afinal, já começa a precisar de outro bode expiatório para a tão arreliadora resistência da realidade às suas teorias. Ninguém melhor para o papel que quem, embarcando na sua pieguice falsa e ignara, o pôs onde está. » [DN]
Por que motivo, então, perguntar--se-á, tão generalizado repúdio e indignação face às palavras de Passos na segunda-feira, repúdio a que nem o próprio Governo foi alheio, com Portas a frisar que "os portugueses devem ser tratados como um povo que está a conseguir" (o que estarão os portugueses a conseguir sendo, é claro, outra questão)? É muito simples: porque a situação brutal com a qual os portugueses são confrontados é não só em grande parte uma escolha do primeiro-ministro, que não se coíbe de dizer e fazer repetir pelos seus álvaros que "o que estamos a fazer não fazemos porque a troika nos pede mas porque é o que queremos", como surge depois de este ter passado uma campanha a prometer o contrário e a atacar o Governo anterior por "impor demasiados sacrifícios".
Este primeiro-ministro é a mesma pessoa que, de voz embargada, pediu "desculpa aos portugueses" por ter viabilizado medidas do Governo Sócrates que caracterizava como "muito duras". É a mesma pessoa que garantiu no Natal de 2010 que na sua casa "só haveria prendas para a filha mais nova"; que com toda a oposição chumbou o último PEC por ser "excessivamente penalizador para os portugueses" enquanto defendia que "a única saída" era o pedido de ajuda externa - e desde então nada mais faz que responsabilizar o Governo anterior por esse pedido que ele próprio tornou inevitável, usando-o como justificação para aplicar, "custe o que custar", o programa que, confessa agora, sempre foi o seu.
Este é o PM que mal tomou posse se locupletou com meio subsídio de Natal do País alegando "graves desvios orçamentais" e que no fim de 2011 foi desmentido pela Unidade Técnica de Apoio Orçamental - sem por isso se lembrar de "morder a língua". É o PM que acusa os portugueses de terem demasiadas férias, mas passou três semanas no Algarve mal tomou posse, depois de ter garantido que "nem teria tempo para se sentar". É o PM que ganhou as eleições a chamar malvados, incompetentes e ladrões a quem "fazia sofrer os portugueses" e a garantir que com ele a austeridade deixaria de incidir sobre as pessoas, os mercados desceriam os juros, o Governo não mais seria "uma agência de empregos para amigos" e a crise internacional, que nunca tinha existido, deixaria de ser "uma desculpa". E que agora, severo, paternal e sobretudo exemplar, decreta que o problema mesmo são os portugueses e a sua "falta de exigência" - porque, afinal, já começa a precisar de outro bode expiatório para a tão arreliadora resistência da realidade às suas teorias. Ninguém melhor para o papel que quem, embarcando na sua pieguice falsa e ignara, o pôs onde está. » [DN]
Autor:
Fernanda Câncio.
Salva pelo silicone
«Uma automobilista norte-americana que chocou contra uma árvore salvou-se sem ferimentos graves, apesar de não estar a usar cinto de segurança, pois o impacto foi amortecido pelos implantes mamários que a fazem utilizar soutiens número 38 com copa K.» [CM]
Indicadores da contracção económica
«A meio da tarde apenas três pessoas aguardavam, na Praça da Canção, em Coimbra, pela venda dos primeiros 500 bilhetes para o concerto de Madonna, promovida pelo Turismo de Coimbra e agendada para as 23:59 de hoje.» [i]
Parecer:
Será que os papers do Gasparoika têm em consideração estes indicadores.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se conhecimento ao Gasparoika.»
2012 World Press Photo Contest Winners [Boston.com]