O governo acordou reduzir as férias, cortou quatro feriados, por coerência não deu a tolerância de ponto no carnaval, está a acabar com a formação profissional, está a desinvestir no sistema educativo, não seria melhor irem directos ao assunto e em nome da salvação instituir logo o esclavagismo?
Já beneficiaram de uma ditadura de 48 anos, beneficiaram até há pouco tempo das ajudas da EFTA, exploraram um imenso império colonial, consumiram uma fortuna fabulosa em ajudas comunitárias, estão há quase trinta anos na União Europeia e ainda é preciso ir ao bolso dos pobres para serem competitivos? Sejam honestos e digam logo o que querem, o problema não é da EU e da legislação laboral, não e da globalização, a decadência da nossa nobreza começou com o fim do esclavagismo.
Mesmo reintroduzindo o esclavagismo é bem provável que se ouvissem algumas vozes a queixar-se de falta de competitividade, protestariam contra os custos de contexto, contra os impostos e até contra a preguiça dos trabalhadores portugueses, Passos Coelho viria mesmo apelar aos escravos para que não sejam piegas, s querem que os vossos netos venham a ser livres deixem-se de pieguices e trabalhem arduamente.
A regra das sociedades é terem governos que procuram o progresso dos seus cidadãos, que consideram que há uma evolução no sentido da liberdade e do bem-estar. Portugal parece ter o primeiro governo na história da humanidade que visa o inverso, que consideram que o esclavagismo dos homens liberta-os da preguiça, da pieguice e de outros pecados inimigos da competitividade e do sucesso dos empresários.
Os bons empresários deixaram de ser os que lutam por ser competitivos para remunerarem melhor os seus trabalhadores que até designam por colaboradores, agora os bons empresários são aqueles que propõem mais cortes em direitos e em regalias para que as suas empresas sejam competitivas sem que se tenham de esforçar. Nas empresas portuguesas a competitividade resulta do esforço dos trabalhadores.
Temos um processo de evolução dialéctica invertida, Marx estava convencido de que a evolução do capitalismo no sentido do socialismo era um processo tão inevitável como a transformação do feudalismo no capitalismo. Pedro Passos Coelho e o seu Engels de apelido Gaspar estão convencidos do contrário, que a melhor evolução do capitalismo é no sentido do feudalismo e que o proletariado do capitalismo deve ser substituído pelo escarvo medieval.
Poderá parecer uma brincadeira, mas perguntem ao ex-comunista da CIP o que diria de ter uma percentagem de trabalhadores escravos e vão ver que o debate vai centra-se na percentagem de escravos mais adequada à competitividade das empresas portuguesas e daqui a uns anos o senhor da CIP viria defender um aumento dessa percentagem.