Há médicos que optam sempre pela solução mais drástica, apenas lhes importa a cura e não dão grande importância ao estado em que o doente fica. A política económica de Vítor Gaspar é uma solução drástica, equivale a aplicar a quimioterapia a um doente que ficaria curado com o recurso à radioterapia. Tal como o médico que trata o doente pela medida grossa o nosso primeiro-ministro defende uma política extremistas “custe o que custar”.
O problema é que custa muito, provavelmente muito mais riqueza a médio e longo prazo do que a pequena parte da dívida que vamos pagar ou do que a ajuda da troika. É como se o médico curasse a infecção amputando uma perna, uma boa parte do tecido económico que está sendo destruído nunca será recuperado, muitos dos que são forçados à emigração nunca regressarão e o investimento estrangeiro que foge da incerteza e da instabilidade acabará por ser aplicado noutras bandas.
Fazendo bem as contas esta equipa económica para além do estatuto de aluno graxista e submisso a que insistem em designar por bom aluno nada fez, o desemprego sobre para os 14%, a dívida externa cresce substancialmente, as micros, pequenas e médias sucumbem à exiguidade de um mercado interno asfixiado, o país perde recursos humanos valiosos em que investiu milhões, a juventude deixa de acreditar no país, uma nação inteira anda cabisbaixa.
Esta quimioterapia extrema está a revelar-se incapaz de debelar o mal ao mesmo tempo que destrói o tecido económico saudável. Primeiro vão os pequenos cafés e restaurantes, de seguida vão as mercearias de bairro, depois uma boa parte das lojas de pronto a vestir, a seguir os pequenos distribuidores, etc., etc.. Poderão não ser grandes empresas, mas os milhares de microempresas que estão fechando criam emprego essencial à saúde social das nossas cidades e vilas, absorvem mão de obra pouco qualificada. Estes milhares de desempregados não voltarão a ter emprego.
Se por agora as pequenas e médias empresas vão resistindo como podem , dificilmente escaparão às consequências de uma contracção económica da ordem daquela que é previsível mas o ministro das Finanças insiste em ignorar ou esconder. Daqui a alguns meses não serão apenas as mercearias de bairro a sucumbir a esta quimioterapia económica drástica, serão milhares de pequenas e médias empresas que não resistirão à exiguidade do mercado interno.
Aos poucos as consequências desta política económica digna de um carniceiro vão-se fazendo sentir e ainda que o pior esteja para vir já se sente no ar o nervosismo dos governantes. Primeiro qusieram ser mais troikistas do que a troika, exageraram na dose, inventaram desvios para adoptarem um programa bem mais duro do que o negociado. Agora anseiam que seja a troika a ter a iniciativa de aligeirar a dose.
Começa a ser evidente que o governo já não tem esperança na sua própria política e em vez de trabalhar para encontrar uma solução para o buraco para onde conduziu o país, desenvolve manobras para acusar outros das consequências dos seus excessos. Os que tudo fizeram para o país soçobrar à crise financeira internacional vão agora dizer que foram outros a negociar o acordo, os que quiseram adoptar um programa brutal preparam-se para sugerir que a culpa é da troika. Resta saber se a troika tem mesmo as costas largas e assume as responsabilidades pelos excessos de Vítor Gaspar e Passos Coelho ou se vai forçar o governo a assumir as responsabilidades pelas suas opções.