Talvez mais preocupado com a imagem que tem dado aos eleitores do que com a oposição ao governo extremista o líder do PS decidiu dar um ar da sua graça e produziu aquilo que pareceu um arrufo de namorado numa tentativa de se demarcar da política governamental. Mas não conseguiu esconder que passados mais de seis meses de governo da direita ainda está mais preocupado em fazer oposição a José Sócrates do que a Passos Coelho.
Desde que a direita governa o país que o líder do PS ainda não tomou qualquer posição digna de ser caracterizada como posição de um partido da oposição. António José Seguro tem mantido uma linha que pode ser designada por meia dose de oposição, com o argumento do memorando assinado com a troika nunca é contra as medidas governamentais, defende sempre que teria bastado meia dose dessas medidas. No fundo, tem desempenhado o papel que Paulo Portas tinha prometido aos eleitores, o de moderar os ímpetos extremistas da seita de Passos Coelho, ainda que sem qualquer sucesso.
Ao fim de seis meses de oposição Seguro decidiu dar um grito, enfim, mais propriamente um guincho, contra o memorando, talvez porque receie ser ultrapassado pela esquerda. Fê-lo de tal forma que até Passos Coelho veio em sua defesa, dizendo o óbvio, que Seguro tem apoiado o governo não questionando os objectivos do memorando. Bem vistas as coisas, o líder do PS não questionou a forma como a direita aplica o memorando, nem sequer questiona o facto de o memorando ser sucessivamente renegociado com a troika sem que ele seja tido, António José Seguro disse que tinha discordado de alguns pontos do memorando, isto é, seis meses depois de uma política brutal de austeridade, o que preocupa Seguro é não ter concordado com os resultados de uma negociação conduzida por José Sócrates.
Brilhante forma de fazer importância, aceita-se tudo o que a direita faz e no momento de querer afirmar-se como líder da oposição Seguro critica … Sócrates. Não tem nada a dizer contra os falsos desvios colossais que justificaram o abuso no corte de parte do subsídio de Natal de 2011, não questiona a inconstitucionalidade de medidas como o empobrecimento forçado dos funcionários públicos e pensionistas, nada tem a dizer do facto de o governo ser muito mais troikista do que a troika, nada tem a dizer sobre a eliminação dos feriados, incluindo o mais querido do seu próprio partido, o que o preocupa não é a espiral de recessão promovida pelo Gaspar, o que o preocupa é o que Sócrates negociou.
Será que Seguro quer ser primeiro-ministro ou o que quer mesmo é ir estudar filosofia para Paris? Parece que o líder do PS é mais condicionado pelos ciúmes que sente pelo seu antecessor do que pelo desejo de fazer oposição como, aliás, lhe compete.