Foto Jumento
Ermida de São Sebastião, Paço do Lumiar, Lisboa
Imagens dos visitantes d'O Jumento
"Henrique" [A. Cabral]
Jumento do dia
Miguel Relvas
Cada vez que o governo está em dificuldades por qualquer razão Miguel Relvas chama a si o papel de nadador-salvador, foi o que mais uma vez sucedeu com as declarações do ministro das Finanças. Relvas escusa de disfarçar transformando as dificuldades governamentais num elogio ao governo. O extremista Gaspar fez uma figura triste ao agradecer a promessa de ajuda depois de ser um defensor de medidas brutais de austeridade que vão levar o país a uma crise ainda maior do que aquela que enfrentava.
«O que o ministro das finanças alemão fez a Portugal "foi um grande elogio", disse hoje o ministro Miguel Relvas, que garantiu novamente o cumprimento do programa de ajuda externa.» [DE]
«O que o ministro das finanças alemão fez a Portugal "foi um grande elogio", disse hoje o ministro Miguel Relvas, que garantiu novamente o cumprimento do programa de ajuda externa.» [DE]
Deprimente e humilhante
Diga-se o que se disser da troca de palavras entre o ministro das Finanças deste pobre país e o da Alemanha é que foi um momento triste, um momento deprimente e humilhante.
É deprimente ver o obreiro do empobrecimento brutal ir pedir batatinhas à Alemanha depois de ter percebido o falhanço da sua política, cujas consequências são imprevisíveis mas certamente que passam por uma contracção brutal da actividade económica e a incapacidade de atingir a meta estabelecida para o défice.
É humilhante ver um ministro das Finanças de um Estado europeu comportar-se como um mendigo junto de um ricaço, Gaspar pareceu-se mais com um arrumador que pede a moedinha ao automobilista do que o ministro que junto dos portugueses se arma em duro e arrogante.
Este governo começa a ter como imagem de marca a subserviência perante os endinheirados, primeiro foi o primeiro-ministro a encurvar-se como um mordomo perante os senhores da troika, agora é o ministro das Finanças a humilhar o país agradecendo ao ministro alemão como se este lhe tivesse dado uma moedinha de cinco cêntimos.
Constatações do óbvio
«E bastaram 53 segundos de conversa informal para que a máscara caísse e a narrativa mudasse. "Ficamos muito agradecidos", afirmou, subserviente e piegas, Vítor Gaspar perante a disponibilidade condescendente e arrogante de Wolfgang Schauble, o todo-poderoso ministro das Finanças alemão, para aliviar a austeridade imposta a Portugal pelo programa de ajustamento financeiro.
Quinta-feira, 9 de fevereiro, ficará pois para a história como o dia em que todos constatámos o que há muito tempo era óbvio: o programa da troika não é exequível nos prazos que estão definidos, que terão por isso de ser renegociados. Mas ficará também para memória futura como a data em que, após uma semana de insultos e ingerências de Berlim, motivados pela ignorância e, quem sabe, por um sentimento de mau perder por a proposta alemã para a compra da EDP ter sido preterida, e bem, a favor dos chineses, Portugal se vergou, grato, ao diktat alemão.
Não falo da coreografia. Schauble desloca-se em cadeira de rodas desde que foi alvo de uma tentativa de assassinato em 1990, e por isso não valorizo a forma como Vítor Gaspar se agachou para registar o "apreço" alemão. Atenho-me, apenas, à relevância do conteúdo. Schauble reduziu à informalidade e trivialidade de uma conversa preliminar à reunião do Eurogrupo um assunto crucial: flexibilizar a ajuda a Portugal. E aqui fica demonstrado, mais uma vez e se dúvidas houvesse, a falta de respeito que Berlim tem pelas instituições comunitárias.
Podemos considerar esta uma boa notícia. Podemos até ficar orgulhosos pelo facto de a Alemanha, motor mas também coveira da Europa, apreciar o esforço dos portugueses. Mas não podemos, seriamente, ignorar outros significados das palavras de Schauble. Do que se trata é, também, da confissão do fracasso da estratégia alemã de, através da austeridade maciça, contribuir para a recuperação da economia europeia. Como se não fosse a Alemanha corresponsável pelo estado a que a Europa chegou por via de anos e anos de incentivo ao consumo acima daquilo que se podia pagar.
Dirão alguns, porventura a maioria desatenta, que a Alemanha, como maior contribuinte líquido da União Europeia e como maior credor dos estados incumpridores, tem autoridade para atropelar a democracia, operar à margem das instituições e transformar a UE numa nova versão do império prussiano e humilhar os seus devedores. E foi também isso que Vítor Gaspar, com o seu "ficamos muito agradecidos", permitiu que Schauble fizesse.
É óbvio que sem Alemanha não há Europa. Mas esse facto não dá a Berlim o direito de se comportar como se os restantes Estados membros fossem parte de uma federação que, nos sonhos da senhora Merkel, deveria chamar-se "Estados Unidos da Alemanha". Tolerá-lo significa ser cúmplice da aniquilação das mais elementares regras de solidariedade e coesão europeias.
Daqui para a frente, e não vale a pena negá-lo, a narrativa do cumprimento do acordo da troika em Portugal tem de mudar. Até porque ninguém entenderá que, de agora em diante, de cada vez que Vítor Gaspar se encontrar com Schauble ou Passos Coelho com Merkel, se faça em Portugal o discurso do "custe o que custar" e em Bruxelas o papel de grato e subserviente face à interminável generosidade alemã. Isto é, o discurso que se faz cá dentro tem de ser igual ao que se faz lá fora, para que tenhamos a certeza de que nos estamos a dar ao respeito.
Portugal não é a Grécia, é um facto. Temos um Governo estável, um acordo de consertação assinado e, por consequência, a paz social que não se vive em Atenas. Mas convém não insultar a inteligência dos cidadãos. Os portugueses têm dado mostras de compreensão e disponibilidade para suportar toda a austeridade que lhes tem sido imposta. E para que assim continue basta que se lhes fale verdade. Aquela que, ficou claro esta semana, tem faltado nos últimos meses. Porque não nos iludamos: ao contrário das juras que têm sido feitas, não dobraremos o Cabo das Tormentas e regressaremos aos mercados em 2013. Vamos precisar de mais tempo.
E isto não é pieguice. É só a constatação do óbvio. » [DN]
Quinta-feira, 9 de fevereiro, ficará pois para a história como o dia em que todos constatámos o que há muito tempo era óbvio: o programa da troika não é exequível nos prazos que estão definidos, que terão por isso de ser renegociados. Mas ficará também para memória futura como a data em que, após uma semana de insultos e ingerências de Berlim, motivados pela ignorância e, quem sabe, por um sentimento de mau perder por a proposta alemã para a compra da EDP ter sido preterida, e bem, a favor dos chineses, Portugal se vergou, grato, ao diktat alemão.
Não falo da coreografia. Schauble desloca-se em cadeira de rodas desde que foi alvo de uma tentativa de assassinato em 1990, e por isso não valorizo a forma como Vítor Gaspar se agachou para registar o "apreço" alemão. Atenho-me, apenas, à relevância do conteúdo. Schauble reduziu à informalidade e trivialidade de uma conversa preliminar à reunião do Eurogrupo um assunto crucial: flexibilizar a ajuda a Portugal. E aqui fica demonstrado, mais uma vez e se dúvidas houvesse, a falta de respeito que Berlim tem pelas instituições comunitárias.
Podemos considerar esta uma boa notícia. Podemos até ficar orgulhosos pelo facto de a Alemanha, motor mas também coveira da Europa, apreciar o esforço dos portugueses. Mas não podemos, seriamente, ignorar outros significados das palavras de Schauble. Do que se trata é, também, da confissão do fracasso da estratégia alemã de, através da austeridade maciça, contribuir para a recuperação da economia europeia. Como se não fosse a Alemanha corresponsável pelo estado a que a Europa chegou por via de anos e anos de incentivo ao consumo acima daquilo que se podia pagar.
Dirão alguns, porventura a maioria desatenta, que a Alemanha, como maior contribuinte líquido da União Europeia e como maior credor dos estados incumpridores, tem autoridade para atropelar a democracia, operar à margem das instituições e transformar a UE numa nova versão do império prussiano e humilhar os seus devedores. E foi também isso que Vítor Gaspar, com o seu "ficamos muito agradecidos", permitiu que Schauble fizesse.
É óbvio que sem Alemanha não há Europa. Mas esse facto não dá a Berlim o direito de se comportar como se os restantes Estados membros fossem parte de uma federação que, nos sonhos da senhora Merkel, deveria chamar-se "Estados Unidos da Alemanha". Tolerá-lo significa ser cúmplice da aniquilação das mais elementares regras de solidariedade e coesão europeias.
Daqui para a frente, e não vale a pena negá-lo, a narrativa do cumprimento do acordo da troika em Portugal tem de mudar. Até porque ninguém entenderá que, de agora em diante, de cada vez que Vítor Gaspar se encontrar com Schauble ou Passos Coelho com Merkel, se faça em Portugal o discurso do "custe o que custar" e em Bruxelas o papel de grato e subserviente face à interminável generosidade alemã. Isto é, o discurso que se faz cá dentro tem de ser igual ao que se faz lá fora, para que tenhamos a certeza de que nos estamos a dar ao respeito.
Portugal não é a Grécia, é um facto. Temos um Governo estável, um acordo de consertação assinado e, por consequência, a paz social que não se vive em Atenas. Mas convém não insultar a inteligência dos cidadãos. Os portugueses têm dado mostras de compreensão e disponibilidade para suportar toda a austeridade que lhes tem sido imposta. E para que assim continue basta que se lhes fale verdade. Aquela que, ficou claro esta semana, tem faltado nos últimos meses. Porque não nos iludamos: ao contrário das juras que têm sido feitas, não dobraremos o Cabo das Tormentas e regressaremos aos mercados em 2013. Vamos precisar de mais tempo.
E isto não é pieguice. É só a constatação do óbvio. » [DN]
Autor:
Nuno Saraiva.
O Álvaro está contente
«O ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, congratulou-se hoje com o facto de as exportações portuguesas cobrirem 80 por cento das importações, segundo dados revelados na quinta-feira.
Segundo referiu, a economia nacional está "lenta, mas inexoravelmente a caminhar para um futuro mais saudável e sustentável, baseado nas exportações e no empreendedorismo".» [i]
Segundo referiu, a economia nacional está "lenta, mas inexoravelmente a caminhar para um futuro mais saudável e sustentável, baseado nas exportações e no empreendedorismo".» [i]
Parecer:
É uma pena que este ministro não perceba que essa taxa de cobertura resulta da contracção brutal da economia interna.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Tenha-se dó do ministro.»