António José Seguro podia colocar um cartaz à porta da sede do PS informando os eleitores de que “pedimos desculpa por esta interrupção, a oposição segue dentro de dois anos”. Com o argumento de que a legislatura tem quatro anos o líder do PS optou por meter férias e beneficiar do usufruto do estatuto de líder do PS, delegando na esquerda conservadora o estatuto de líder da oposição. De vez em quando lá se vai ouvindo alo parecido com uma crítica ao governo mas é muito provável que os eleitores entendam estes gemidos como arrufos de namorados. Nos últimos dias ainda se ouviram alguns guinchinhos mas isso deve ter sucedido porque Miguel Relvas lembrou-se de dizer que ainda não seria Seguro o candidato a substituir Passos Coelho.
Esta opção poderá ser inteligente, Seguro aposta no desgaste do primeiro-ministro enquanto ele continua a gozar de boa vida. Mas esta estratégia também pode ser um suicídio para o PS, este partido dificilmente será alternativa à direita se a esquerda conservadora voltar a crescer, depois de um período em que ando a sofrer a vergonha de ter ajudado a direita achegar ao poder para arrasar com todos os seus velhos tabus de uma só vez.
Só que esta estratégia é mais própria de um candidato à liderança da associação de estudante de um liceu do que de um líder de um partido com o passado e a dignidade do Partido Socialista. Não á democracia sem oposição, pouco importa se esta é eliminada por uma ditadura ou pela preguiça de um líder partidário, e o que estamos a assistir é a um governo a actuar como se tivesse um primeiro-ministro vitalício, governa com base em decisões diárias, inventa mentiras para aumentar a austeridade e usa a chantagem da venda da RTP para calar os cobardes que são donos da comunicação social.
Neste momento temos um governo em roda livre que despacha jornalistas incómodos, decide a política económica à vista e parece desejar uma desgraça na economia para poder impingir aos portugueses todas as ideias de um extremista, os magistrados ficaram acomodados depois de se livrarem dos Sócrates e parecem estarem disponíveis para a função de estar ao lado do poder e a Presidência da República mais parece um centro de dia da terceira idade do que uma instituição fundamental para a democracia portuguesa.
Isto assim não vai acabar bem e Seguro será responsabilizado por esta estratégia preguiçosa.