O Governo tanto se esforçou para que Portugal não ficasse como a Grécia que é bem capaz de o resultado acabar por ser o inverso, isto é, acabarmos, igual ou pior do que a Grécia e de nada valem as declarações e juras governamentais de que o país não precisará de um segundo resgate porque são cada vez menos os que não acreditam nesse cenário.
Hoje é evidente que a receita da austeridade brutal falhou na Grécia, o país mergulhou na recessão profunda e a dívida não parou de crescer, tornando-se incobrável. Pode-se questionar a competência dos governos gregos, mas a verdade é que a situação grega piorou muito em consequência das medidas impostas pela troika. De nada serve a senhora Merkel tentar disfarçar a realidade com propostas inaceitáveis de nomeação de um vice-rei porque a derrocada da Grécia é imparável.
Por cá um governo com uma agenda económica secreta descobriu na troika um aliado para promover uma revolução social a coberto do acordo com os credores, com o argumento de ser mais troikista do que a troika tem-se vindo a promover uma política que foi escondida dos eleitores sujeitando os grupos sociais a uma chantagem permanente. Os resultados começam a estar à vista, o país caminha aceleradamente para a recessão.
Já nem é necessário ser economista para se perceber que o país entrou no marasmo, a recessão vai ser muito superior à prevista na lei do orçamento e as receitas fiscais cairão a pique fazendo crescer o défice e, consequentemente, a dívida. Os empréstimos da troika resultam na substituição de empréstimos com juros baixos por dinheiro com juros de prestamista fazendo crescer a dívida.
Nestas condições os investidores não poderão confiar num país que destrói o seu tecido social, que promove o empobrecimento colectivo dos seus cidadãos e que é incapaz de promover o crescimento económico. Ninguém no seu pleno juízo pode confiar num país com uma dívida que tende a ser superior a tudo o que produz e que para se financiar recorrer a uma “ajuda” que cobra uma taxa de juro superior a qualquer taxa de crescimento económico razoável para um país europeu.
Não é necessário saber fazer contas para se perceber que o país caminha aceleradamente para um beco sem saída e muito antes de haver sinais de recuperação o sistema colapsará. Vítor Gaspar e Passos Coelho cometeram o erro mais elementar de entre os cometidos pelos nossos políticos, tentaram ajustar a economia ao seu calendário político e vão falhar. Nem Portugal voltará ao mercado em 2013 nem nesse ano haverá retoma económica.
Tanto quiseram ser diferentes dos gregos que para o conseguirem duplicaram a brutalidade da receita grega acabaremos por ficar pior do que os gregos.