O ódio
da direita portuguesa a José Sócrates é maior do que a qualquer outra
personalidade e ainda que invoquem muitos bons princípios e valores éticos para
o justificar a verdade é que é um ódio tão primário que ninguém acredita nas
boas intenções. A direita não odeia Sócrates pelas tretas que inventou e depois
tentou provar com a ajuda preciosa dos maridos das senhoras que andaram a
passear no Algarve com dinheiro dos nossos honestos e dedicados banqueiros.
O ódio
da direita a Sócrates ficou evidente nas petições para tentar impor a rolha ao
ex-primeiro-ministro, há muito que a desorientada máquina partidária do PSD não
se unia nesta causa comum. Como não o conseguiram calar agora dedicam-se a
desvalorizar as suas intervenções. Mas, como é costume na direita portuguesa, não
discutem ideias, optam pelos golpes baixos, como os velhos clichés alimentados
pelas produções cinematográficas de Manuela Moura Guedes já estão gastas
tiveram uma brilhante ideia, comparar audiências com o professor Marcelo.
É
evidente que o professor Marcelo tem mais audiência que Sócrates da mesma forma
que o Sporting B bateria o melhor espectáculo do Teatro Nacional. O facto de
Quim Barreiros ser um campeão de audiências não faz da música “O bacalhau quer
alho” um símbolo da cultura erudita portuguesa. O professor Marcelo diz o que
muita gente quer ouvir, trata da política como o CM aborda os crimes e de vez
em quando ainda inventa sobremesas de correr água pela boca.
O
problema é que desde que Sócrates reapareceu a vida política deixou de ter
sossego, a imagem de Vítor Gaspar está irremediavelmente destruída, Cavaco não
sabe se deve aparecer ou desaparecer e Passos Coelho evidencia desorientação.
As audiências seriam importantes se pudéssemos usar o Sócrates como detergente
para a máquina da louça, não sendo o caso o que importa é quem marca a agenda
política da semana e os que andam a festejara as sondagens sabem o que Sócrates
disse e já estão habituados a esquecer o que o Marcelo diz. Aliás, Sócrates não
precisou de truques e Marcelo teve que alterar horários e não me admiraria se a
TVI viesse aos hábitos dos seus primeiros tempos e passasse a apresentar um
pequeno filme pornográfico nos intervalos do professor.
A
direita tem muitas e boas razões para odiar Sócrates, este aumentou a dívida
mas temos melhores escolas e universidades, mais investigação, melhores
recursos energéticos. Vítor Gaspar aumentou a dívida e tanto quanto sabemos
apenas serviu para financiar os seus desvios colossais, isto é, Sócrates gastou
uns milhões e a investigação científica cresceu exponencialmente, agora
gastamos dezenas de milhares de milhões só para ficarmos a saber que os papers
de política económica do Vítor Gaspar são uma fraude.
Sócrates
tirou à direita o controlo exclusivo da banca e da comunicação social,
humilhou-a eleitoralmente, enfrentou os seus processos judiciais com desprezo,
não teve medo dos magistrados patrocinados por banqueiros, investiu na educação,
alargou os mercados de exportação e destruiu a imagem do sacrossanto Cavaco Silva.
Goste-se
ou não de José Sócrates, aprecie-se ou deteste-se a sua acção, concorde-se ou
discorde-se das suas políticas a verdade é que a dirieta tem muitos motivos
para o odiar e quantos mais e maus forem os motivos que a direita invoca para
odiar José Sócrates mais o engrandecem, porque há bons motivos para desconfiar
desta direita imbecil e miserável, que até recorre à entrega da soberania para
se manter no poder.
Na minha terra havia um fulano que emigrou para França, mas como era um fraco depressa pediu dinheiro aos pais para regressar. Quando chegou a casa começou por cumprimentar os pais com um "bonujour papa, bonjour mama", ao que o pai respondeu com um "Ó Rita leva-o mas é para a cozinha que o mal dele é fome". Quem quiser conhecer o vocabulário calão local telefona para o fulano e repete-lhe o que o pai disse. Se alguém quiser conhecer o calão da direita portuguesa basta fazer um elogio a Sócrates, é um ver se te avias.