terça-feira, abril 16, 2013

Razões atendíveis

Razões atendíveis impedem-me de manter este burro no pasto, entendendo-se por razões atendíveis as seguintes:
1.   Um grande cansaço depois de muitos anos de actividade diária ininterrupta, com um custo pessoal exagerado. Milhares e milhares de horas de trabalho, uma vasta colecção de inimigos e antipatias, o abdicar de quaisquer ambições profissionais, perseguições políticas e policiais.
2.   Uma grande desilusão em relação a um povo que dá mostras de praticar o princípio do salve-se quem puder, com os do privado a ficarem felizes se a austeridade for para os do público, com os banqueiros a pedir a pele dos pobres enquanto estes revelam cobardia e ficam calados.

Veja-se o que sucedeu com a grande manifestação de Setembro, quando os sacrificados foram os funcionários públicos fez-se silêncio, quando os sacrificados foram os pensionistas fez-se silêncio, só houve gente na rua quando a TSU ia bater à porta de todos. Até aí havia um secreto desejo que só fosse o vizinho a ser sacrificado pela extrema-direita.

Toda a gente festejou o acórdão do Tribunal Constitucional, mas quando o governo resolve vingar-se de todos os magistrados impondo uma tabela única não faltarão os que ficam contentes porque "esses magistrados são uns malandros!". O que dizer de muitos comentadores que insistem em ignorar as diferenças de categorias profissionais para compararem médias salariais? Sabem que estão comparando o salário da secretária boazona com a do cirurgião que amanhã poderá salvar-lhes a vida, mas que se lixe, o que importa é sacrificar agora os funcionários públicos, eles são a despesa.

Que me desculpem, mas aquilo a que assisto neste país começa a meter-me nojo e também nisto não concordo com o Gaspar, o meu povo está muito longe de ser o melhor povo do mundo.
3.   Alguma descrença em relação aos resultados de uma luta que é cada vez mais inglória. Lutar para quê?
¾  Para depois sermos perseguidos pelo ministro do governo que ajudámos a eleger, vermos os e-mails de toda uma instituição sejam vasculhados e devassados numa caça às bruxas conduzidas por polícias administrativos, ou sermos vítimas de manobras policiais de pura intimidação à porta da nossa casa perguntando aos vizinhos se conhecem o perigoso criminoso da fotografia obtida num almoço de encerramento da campanha eleitoral que ajudou esse ministro a sê-lo?


Fui perseguido uma única vez na vida por dizer o que penso, pelo governo que mais ajudei a eleger, algo de que mesmo assim não estou arrependido. Aquilo a que estou assistindo, com um país a ser transformado num campo de experiências nazis dos economistas de meia tigela do BCE é bem pior.
¾  Por um governo do PS e criticar as sua políticas quando o líder do seu grupo parlamentar há uns meses atrás até dizia que a pasta das Finanças estava bem entregue e o seu secretário-geral optava pelo silêncio dando a entender que era tudo culpa do seu antecessor? Quando sem ninguém o encomendar o braço direito de Seguro a única ideia que teve em público foi extinguir sem mais a ADSE, revelando incompetência e um perfil digno de um assessor do Gaspar?
¾   Por um ensino público de qualidade quando são os seus agentes os que estão mais preocupados com os seus próprios egoísmos escondendo-os atrás de uma falsa defesa do ensino público? Lutar contra o despedimento de milhares de professores que há poucos meses eram a tropa de choque do PSD na luta para derrubar o governo, quando antes das manifestações até iam à sede do PSD receber o apoio do Menezes?
¾  Por uma mudança política formada por uma coligação de gente que ajudou a viabilizar este governo de extrema-direita? Não estou esquecido do deleite da direita perante as intervenções na comissão parlamentar de inquérito do caso das famosas pressões sobre a TVI de um daqueles que hoje é um dos conjugues da liderança matrimonial do BE.
¾  Pelo emprego dos que festejam o despedimentos de funcionários públicos na ilusão de que está aí a solução de todos os seus males? Pelo bem-estar daqueles que gostam de acreditar nas mentiras que lhes dão jeito na hora de sacrificar injustamente uns para aliviar ou favorecer outros?
   
¾ Por uma justiça a quem confiamos a defesa da democracia para depois vermos congressos de magistrados a serem financiados por bancos que ajudaram a destruir a economia com as suas práticas comerciais oportunistas, ou a conduzir processos vergonhosos como o Caso Freeport?

4.  Parafraseando o criador da criatura falta-me ânimo para lutar ao lado dos que votaram moções de censura destinadas a ajudar a direita a subir ao poder, para lutar por um povo que votou numa direita que não enganou ninguém, sabia-se ao que vinha, sabia-se que o seu candidato não seria autónomo e precisaria de um príncipe regente, sabia que não passava de alguém ressabiado com a história que se queria vingar do país. O governo vinga-se expulsando os portugueses do país para que saibam o que sofreram os que tiveram de abandonar África, vinga-se dos funcionários públicos do antigo IARN. Portugal tem um governo que parece odiar o seu país e o seu próprio povo não hesitando em fazer-lhe todas as maldades que os Mengeles do BCE ou o Bundesfinanzminister sugerem.
5. Sinto uma imensa frustração ao olhar à volta e reparar que todos actuam segundo tácticas e interesses pessoais. Um quer o conforto da câmara municipal, o outro parece estar mais preocupado com o antecessor do que com as políticas governamentais, há quem pareça ter medo de ir ao fundo com os submarinos, em Belém trata-se da imagem como se aquilo fosse um salão de estética, andam todos a tratar dos seus egoísmos enquanto o povo sofre e o país caminha para a implosão total e não apenas do ensino como prometia um conhecido cratino. Vivemos num país onde o presidente só usa os poderes constitucionais quando o seu rendimento é posto em causa, só faz comunicações de urgência quando os seus poderes pessoais são atacados, tirando isso anda feliz e sorridente como uma vaca da Ilha Graciosa.
Nestas condições vou descansar um pouco. Agradeço a todos os que participaram neste espaço de democracia comentando, enviando imagens, fazendo críticas ou sugestões, divulgando e sugerindo a visita a este palheiro. A todos fica uma palavra de gratidão e um pedido de desculpas se os estou desiludindo. 
Um abraço.