Basta a primeira reacção de
Bruxelas ter vindo do Simon O’Connor para se perceber que o comunicado da
Comissão Europeia não passou de uma manobra concertada entre o BCE e o seu
capataz loca. Depois da chantagem feita sobe o país e da falta de respeito demonstrada
pela sua lei básica a troika combinou uma encenação e vem a Lisboa de urgência.
Quem assiste a esta palhaçada
pouco digna para instituições como a EU, o BCE e o FMI pode ser levado a pensar
que o governo tinha preparado um OE tecnicamente brilhante, equilibrado na distribuição
do sacrifícios exigidos pela experiência mengeliana imposta ao povo português e
que passados três meses de execução orçamental dava mostras de ser a solução
ideal para assegurar o equilíbrio financeiro do Estado, ao mesmo tempo que
permitia a retoma do crescimento e a criação de emprego no último trimestre do
ano.
Se a troika não veio de urgência
a Portugal por causa de uma queda de mais de 4 mil milhões de euros das
receitas fiscais em 2012 e muito menos porque a recessão é mais do dobro do
prometido pelo seu programa ou porque o desemprego é quase 20% porque razão vem
por causa de 0,8% do PIB, muito menos que os desvios gasparianos? O que está em
causa não é qualquer desvio colossal, o que a troika vem exigir é que a troco
do dinheiro emprestado a juros elevados o país não suspenda a experiência
fascista destinada a testar os papers de economistas quase desconhecidos como o
ministro das Finanças ou os três palermas que a troika tem mandado a Portugal.
A verdade é que o impacto nas
receitas fiscais da diferença entre a taxa de recessão inventada e a real é bem
maior do que as consequências financeiras do acórdão do Tribunal Constitucional.
A verdade é que o desvio entre as receitas fiscais inscritas no OE e as que
resultam das execuções orçamentais não preocupam nem nunca preocuparam a
troika.
A troika não está preocupada com
o défice, com a falsificação das previsões, com o falhanço fiscal ou com um OE
digno de um aluno do 10.º ano e não do melhor aluno da turma da Católica. O que
a troika quer assegurar-se não é de que Portugal volte ao mercados ou que
cumpra um memorando que não foi respeitado pela própria troika ao desprezar uma
das partes em sucessivas alterações. O que a troika exige é que a experiência a
que Portugal está sendo sujeito seja levada até ao fim.
Falhada a experiência a troika
tenta a todo o custo lutar contra o tempo para que Portugal regresse aos
mercados antes destes se aperceberem da situação real do país, antes que o
desastre condene Portugal a sair do euro e dos mercados. A troika quer a todo o
custo desembaraçar-se de Portugal sem assumir as responsabilidades pelo
desastre que provocou.
A troika não quer assumir as responsabilidades pelas consequências políticas e financeiras da brincadeira que fez em Portugal com a ajuda de um governo incompetente e de um ministro que mais parece um assessor do governo de Bona do que o ministro de um Estado soberano.